Saturday, August 26, 2017

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Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...


Miguel Torga

Friday, August 25, 2017

Maternidade Bensaúde


A antiga Maternidade Abraão Bensaúde, na Rua da Beneficência, era um dos locais mais conhecidos em Lisboa onde as mulheres na clandestinidade podiam ter os seus filhos sem que lhes pedissem documentos de identificação.
Foi ali que muitas resistentes na clandestinidade puderam ter os seus filhos sem serem denunciadas pela Pide. Foi o caso de Alda Nogueira em 1953 e Manuela Magro em 1966.
A Maternidade Abraão Bensaúde foi fundada em 1928 pelo médico Abrãao Bensaúde para assistir as mães solteiras que, durante o regime de salazar, não podiam recorrer aos hospitais públicos.
Este benfeitor das mães lisboetas, Abraão Bensaúde, pertenceu a uma das várias famílias hebraicas que entre 1818 e 1820 emigraram para os Açores.

Foto: Maternidade Abraão Bensaúde, 1960, foto de Arnaldo Madureira.

Monday, August 14, 2017

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Calor. Vento. Fogo. Fumo. Cinza. Vento. Muito vento. Fogo. Homens guerreiros. Homens cansados. Eucalipto. Pinhal. Inverno seco. Vento. Mais uma folha incendiada que voa. Eucalipto. Eucalipto. Guardas florestais que não há. E só oiço a voz do meu Camarada Agostinho Lopes a falar do ordenamento florestal. Dizem que tem razão, pois tem. Mas na prática zero. Não há. Bombeiros. Calor. Vento. Fumo. Cinza. Fogo. Fogo. Fogo. Ardeu, ardeu tudo. Não só uns palheiros. Alimento para o gado. Seca. Onde está o verde dos campos. Como vão os animais alimentar-se. Mato. Pinhal. Pinhal e mato. Água. O fumo não deixa ver nada. Na estrada não se vê nada. Casas destruídas. Vidas destruídas. Não quero falar dos que já não estão cá. Mas penso nas famílias e no horror por que passaram. Ferreira do Zêzere. Casal da Serra. Abrantes. Parada de Pinhão. Mação. Pedrógão Grande. Podia juntar aqui mais cinquenta nomes. Tudo negro. Onde está o verde das árvores. Vento. Vento com cinza. Tudo negro. Eucaliptos. Eucaliptos. Pinheiros. Homens cansados. Porque não chove? Porque não chove? Onde está o verde esperança deste país? Resta-nos o vermelho sangue. O vermelho luta. O vermelho. E o preto, de tudo queimado.

Sunday, August 06, 2017

Hiroshima




6 de Agosto de 1945. 8h16, horário do Japão. 
O bombardeiro norte americano B-29 lança a “Little Boy” sobre Hiroshima, sede do comando militar do Japão Imperial. A explosão matou cerca de 100 mil pessoas. 35 mil ficaram feridas. Mais de 60 mil pessoas morreram até o final daquele ano, por causa dos efeitos da chuva radioactiva.
Repito, o bombardeiro norte americano B-29, que foi chamado de Enola Gay!


relógio



todos os dias uma lua cheia
todos os dias cento e doze marés
vinte e oito pores-do-sol
cinquenta e seis voltas do ponteiro das horas

dois milhões de batimentos cardíacos
e todas as lagartas do mundo a sair do casulo de asas abertas porque as células imaginais ganharam todas as batalhas travadas.

Miguel Tiago, 2017