Tuesday, May 29, 2012

Distante

(foto da Andreia Mukanda roubada ao Pedro Branco)

Pouso o meu olhar no rio. Bebo-o como se tivesse muita sede. Deixo que me corra nas veias e passeio-me pelas ruas com o rio dentro.
Levo os meus passos pelas avenidas. As que quero rever e as que desejo descobrir. Deixo que os sons da cidade se confundam com a luz que me deixa quase cega.
Respiro este ar e guardo o cheiro para mim. É o que quero levar, o cheiro. Choro todas as lágrimas de sangue e deixo que os braços a meu lado me abracem. Nestes braços estão todos os vossos braços. E os vossos abraços.
E volto, com o rio a correr-me nas veias, com as ruas percorrendo-me o corpo, com a luz no meu olhar e o cheiro na minha boca. Receberei o beijo que guardarei para sempre.
E para sempre vos deixo, hoje, o meu abraço. Tão especial, hoje.

Tuesday, May 22, 2012

Porque me apetece Brecht



O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
da farinha, da renda de casa, dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
enche o peito de ar dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista, aldrabão,
o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.


(Bertold Brecht)

(ainda em pausa. mais ou menos 'forçada'...)
 

Saturday, May 19, 2012

Memória de Catarina



Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p´ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p´ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

Friday, May 11, 2012

............






(apenas uma interrupção na pausa...)

Wednesday, May 09, 2012

A Noite na Ilha


Dormi contigo a noite inteira junto do mar, na ilha.
Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.
Talvez bem tarde nossos
sonos se uniram na altura e no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento move,
embaixo como raízes vermelhas que se tocam.
Talvez teu sono se separou do meu e pelo mar escuro
me procurava como antes, quando nem existias,
quando sem te enxergar naveguei a teu lado
e teus olhos buscavam o que agora - pão,
vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos,
porque tu és a taça que só esperava
os dons da minha vida.
Dormi junto contigo a noite inteira,
enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos,
de repente desperto e no meio da sombra meu braço
rodeava tua cintura.
Nem a noite nem o sonho puderam separar-nos.
Dormi contigo, amor, despertei, e tua boca
saída de teu sono me deu o sabor da terra,
de água-marinha, de algas, de tua íntima vida,
e recebi teu beijo molhado pela aurora
como se me chegasse do mar que nos rodeia.


Pablo Neruda

(faço uma pausa. necessária. 
preciso de ir até à ilha. um dia eu volto)

Monday, May 07, 2012

Nunca seremos demais!


Quantos fomos, quantos somos
importa que a cada instante
todos juntos lado a lado
tenhamos a força bastante

Quantos desceram a avenida
mais uma vez no novo dia
importa a certeza do grito
e o punho erguido com alegria

Temos ainda o sangue a ferver
e recomeçaremos o tudo e o mais
ainda que sejamos bastantes
nunca seremos demais!

Saturday, May 05, 2012

M*


Flor de Abril. Em Maio!

Um amor tanto! Todo! Sempre! Mais!

Thursday, May 03, 2012

Noite


É de noite que renasço cada dia. É de noite que as palavras me escorrem pelos dedos como se fossem água de um rio caudaloso que corre desenfreado até à foz. Das palavras.
É de noite que me refaço ao pôr da lua. E é de noite que a poesia se solta do meu peito como se fosse um grito que ninguém ouve porque se juntou ao rio e já desaguou no mar.
É de noite que os amores secretos se encontram. Ainda que distantes. Ainda que apenas em pensamento. É de noite que escrevo porque as palavras me regressam em cada maré. E porque gosto deste silêncio...

Wednesday, May 02, 2012

.....


Ontem foi 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Dia que tem as suas raízes na luta dos trabalhadores que saíram para as ruas em Chicago, em 1886, exigindo a redução da jornada para oito horas de trabalho.
Ontem foi 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Dia que se pode comemorar no nosso país, em Liberdade, depois do 25 de Abril de 1974. Houve algumas centenas de trabalhadores que desceram a avenida da Liberdade. Outros, muitos milhares, subiram a avenida Almirante Reis até à Alameda. Outros ainda, um pouco por todo o país, preferiram correr atrás de uma cenoura a que chamaram desconto de 50%.
Ontem foi dia 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Trinta e oito anos depois de Abril sinto-me agoniada. De tristeza, de revolta, de raiva. Sei que daqui a pouco, quando acordar, tudo isto que sinto agora se transformará numa força enorme. Numa vontade de redobrar a Luta. Numa confiança crescente.
Ontem foi dia 1º de Maio. Dia do Trabalhador. Tanto caminho a fazer para despertar consciências. Ainda...