Thursday, October 28, 2010

Porque me apetece Ary dos Santos

Soneto presente

Não me digam mais nada senão morro
aqui neste lugar dentro de mim
a terra de onde venho é onde moro
o lugar de que sou é estar aqui.

Não me digam mais nada senão falo
e eu não posso dizer eu estou de pé.
De pé como um poeta ou um cavalo
de pé como quem deve estar quem é.

Aqui ninguém me diz quando me vendo
a não ser os que eu amo os que eu entendo
os que podem ser tanto como eu.

Aqui ninguém me põe a pata em cima
porque é de baixo que me vem acima
a força do lugar que for o meu.

José Carlos Ary dos Santos
(vou ali e depois volto. logo.)

Wednesday, October 27, 2010

Não sou mar


Se eu fosse mar deixaria que desaguasses em mim o rio que és.
Poderias então descansar de todas as cores no meu azul profundo.
Não sou mar.
Mas podes sempre descansar no meu regaço todos os cansaços da vida.
As tuas lágrimas. As chegadas e as partidas. A tua inquietação.
E repousar o corpo...

Monday, October 25, 2010

Ainda o tempo...


Quando o amor, a ternura, a solidariedade, a amizade, e tudo o resto que sentimos caminham assim, de mãos dadas, o tempo não tem fim!
Quando secamos as lágrimas, o sangue nos corre nas veias a arder, e todo o nosso eu é capaz de sentir assim, como um abraço, o tempo não tem fim!
Quando os sorrisos nos enchem a alma e o pulsar dos corações é feito a um tempo único, podemos inventar tudo, até um tempo sem fim!
Quando no meio da solidão a vida continua a fazer todo o sentido só porque te sinto meu irmão, o tempo nunca terá fim!

Saturday, October 23, 2010

Música para o fim-de-semana



Amor primero

Se me ha dormido un sueño en el café
Perdido por el tiempo de nunca volver
La tarde en el colegio y un corazón
Clavado en el pupitre entre los dos.
Estas algo más rubia y así de pie
Pareces aún más alta de lo que pensé
Cuando tú eras la envidia y yo el por qué
Que tu padre decía me iba a perder
Quiero echar la vista atrás
Donde se encuentran
Mi plumiere y mi compás
Y tus trenzas
Y volver a rebuscar por un solar
Yo mis ganas de pelear y tú el susto
Que te daba no verme más
A fin de curso.
Ay amor, amor primero
Y de segundo, tercero y cuarto
Ay amor, te quise tanto
Cuando el beso era amor
Y el amor canto.
Amor desde el gimnasio a la excursión
Desde la geografía, amor sin razón
Amor de tinta y tiza amor de portal
Amor de cada día y en cada lugar.
Amor que aun ahora guardo en la piel
El beso, la caricia, el toque, temblor
Amor perdido, amor de nunca volver.. .
Camarero, por favor, otro café.
Dónde están, donde se encuentran
Mi plumiere y mi compás
Y tus trenzas
Y volver a rebuscar por un solar
Yo mis ganas de pelear y tú el susto
Que te daba no verme más
A fin de curso.

Friday, October 22, 2010

Tempo


É de noite que entras em mim, devagarinho, num sonho que deveria ser apenas meu. É de noite que o teu silêncio me grita com mais força, num tempo que é só nosso. É pela madrugada que sais de mim, feito abraço, e o teu sorriso se escapa até voltares, no tempo que é teu.

Sunday, October 17, 2010

Música para um domingo



Deixo-vos com o Adriano.
(Vou ali e depois volto. logo)

Saturday, October 16, 2010

Saudade de Adriano



Nas tuas mãos tomaste uma guitarra.
Copo de vinho de alegria sã
Sangria de suor e de cigarra
que à noite canta a festa da manhã.

Foste sempre o cantor que não se agarra

O que à Terra chamou amante e irmã
Mas também português que investe e marra
Voz de alaúde e rosto de maçã.

O teu coração de oiro veio do Douro

num barco de vindimas de cantigas
tão generoso como a liberdade.

Resta de ti a ilha de um Tesouro

A jóia com as pedras mais antigas.
Não é saudade, não! É amizade.


(Ary dos Santos)

Thursday, October 14, 2010

Porque me apetece Joaquim Pessoa



És tu. Mulher normal. Mulher inteira.

Olhos de amêndoa amarga. E peito doce.

Cisterna de água pura. Amendoeira.

Mulher de quem não sou. Mas antes fosse.


Tu és a flor do meu cantar de amigo.

Papoila no meu sangue amachucada.

De bruços a fazer amor comigo

na cama onde se deita a madrugada.


Mulher. Corça da noite. Erva do dia.

No peito duas rosas de alegria!

No ventre a rosa negra de cantar-te!


Mulher a quem desejo em plena rua.

A quem dispo. E ficas toda nua.

Que ali mesmo mulher eu quero amar-te.


Joaquim Pessoa

(in Amor Combate)

Wednesday, October 13, 2010

Sobre o Orçamento de Estado

"..........

Do que precisamos no próximo Orçamento do Estado é de um aumento real dos salários, das reformas e pensões, que reponha uma parte da perda de rendimento dos últimos anos e que seja também um instrumento de combate à pobreza e de dinamização do crescimento económico. Precisamos de um orçamento que aumente o investimento público com vista ao crescimento económico.
Precisamos de um Orçamento que aumente os impostos onde isso é justo e indispensável e que corte na despesa onde isso é útil e justificável.

Relativamente à receita fiscal, o PCP insiste que é possível, (sem aumentar a carga fiscal já muito pesada sobre os trabalhadores ou os reformados, e sobre as micro e pequenas empresas), obter níveis de receita fiscal significativamente superiores, seja através do alargamento da base de incidência – começando finalmente a tributar rendimentos e lucros que hoje nada pagam -, seja através da aplicação de taxas mais justas e equitativas a rendimentos cujo nível de tributação é inaceitavelmente pequena, seja através da eliminação de benefícios fiscais injustos e injustificados.

Assim, no que respeita ao aumento da receita fiscal, o PCP propõe 5 medidas:

1. A criação de um novo imposto, (o Imposto sobre as Transacções e Transferências Financeiras, ITTB), que taxa em 0,2% todas as transacções bolsistas realizadas no mercado regulamentado e não regulamentado e que taxa em 20% as transferências financeiras para os paraísos fiscais. (receita adicional mínima de, respectivamente 260 milhões de euros e 1500 milhões de euros;

2. A tributação extraordinária do património imobiliário de luxo, através da introdução temporária de uma taxa de 10% de IMT (Imposto Municipal sobre Transacções Onerosas), e de uma taxa de 1% de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), onerando a aquisição e a detenção de imóveis e propriedades de valor superior a um milhão de euros (receita não definida);

3. A tributação agravada sobre a aquisição ou posse de bens de luxo, (em sede de ISV, Imposto sobre Veículos, e de IUC, Imposto Único de Circulação), incidindo sobre aviões particulares, iates de recreio e veículos de custo superior a 100 000 euros (receita não definida);

4. A tributação das mais-valias bolsistas, alargando a sua incidência a rendimentos do património mobiliário obtidos por Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS), entidades residentes no estrangeiro e fundos de investimentos. (receita adicional mínima de 250 milhões, equivalente à que o Governo estima obter com a tributação em IRS de rendimentos individuais de mais-valias mobiliárias, não entrando naturalmente em linha de conta com a receita da tributação das mais-valias obtidas pela PT pela venda da VIVO);

5. A aplicação de uma taxa efectiva de IRC de 25% ao sector bancário e grandes grupos económicos com lucros superiores a 50 milhões de euros, eliminando os benefícios fiscais que actualmente usufruem, e alargando este regime ao sector financeiro que opera na Zona Franca da Madeira. (receita estimada 700 milhões de euros, cerca de 350 para a banca, o restante para os grupos económicos).

O PCP propõe igualmente 5 medidas de redução da despesa fiscal:

1. Suspensão temporária do regime fiscal de isenção plena de IRS e IRC, ou de quase isenção em sede de IRC (taxa máxima de 5%), aplicável na Zona Franca da Madeira a empresas não financeiras, passando a ser aí aplicável pelo menos a taxa de IRC de 12,5% que incide sobre empresas localizadas no interior do País; (diminuição de despesa fiscal não inferior a 400 milhões de euros, face ao total de 1090 milhões de euros estimado no Relatório do OE de 2010);

2. Redução, de quatro para três anos, do período máximo durante o qual são permitidas deduções de prejuízos fiscais aos lucros tributáveis (diminuição de despesa não definida);

3. Eliminação dos benefícios fiscais, (por exemplo, de IMT e de imposto de selo), aplicáveis a operações de reestruturação empresarial (fusões e cisões empresariais); (diminuição de despesa não definida);

4. Revogação dos benefícios fiscais concedidos a PPR (corte na despesa fiscal de 100 milhões de euros);

5. O fim dos benefícios fiscais para os seguros de saúde – 100 milhões de euros.

No que respeita à despesa, o PCP propõe 5 medidas de corte na despesa:

1. A participação das Forças Armadas em todas as operações no estrangeiro - 75 milhões de euros;
2. Abonos variáveis /indemnizações por cessão de funções - cortar 20% – 16 m€;

3. Aquisição de bens e serviços correntes – 1515 m€ , dos quais 396 em estudos, pareceres e outros trabalhos especializados e outros serviços dos quais propomos cortar 50% - cerca de 200 milhões de euros;

4. O fim da transferência de verbas da ADSE para os hospitais privados, cujo montante, certamente de dezenas de milhões de euros, continua a não ser divulgado pelo Ministério das Finanças;

5. O fim definitivo do escandaloso negócio do terminal de Alcântara com a Liscont, que agora avança para um Tribunal Arbitral por proposta da APL, figurino altamente favorável aos grupos privados, como o exemplo do hospital Amadora – Sintra demonstrou.

Para além destas propostas imediatas e concretas, o PCP apresenta ainda 5 medidas contra o desperdício de dinheiros públicos no futuro:

1. A redução para um máximo até cinco membros, de todos os Conselhos de Administração de Empresas Públicas e Entidades Públicas Empresariais, e para um número máximo até três membros dos Conselhos Directivos de Institutos Públicos, não podendo as suas remunerações serem superiores à do Presidente da República;

2. A redução para metade do número do pessoal dos gabinetes dos membros do Governo e de todos os altos cargos do Estado cujos titulares tenham direito a gabinetes idênticos aos de ministros e idêntica redução, para metade, do número do pessoal dos gabinetes dos Conselhos de Administração das empresas públicas;

3. O não estabelecimento de qualquer nova Parceria Público Privada, como forma de concretizar infra-estruturas ou realizar investimentos, a extinção das entidades reguladoras e a reintegração das suas funções na Administração Central, de onde foram retiradas; A não transferência de funções do Estado para empresas públicas em substituição de serviços da administração pública, como acontece com a transferência para uma empresa pública (GERAP) das contratações para o Estado assumindo que é para contratar privados para o desenvolvimento dessas funções;

4. Elaboração urgente, pelo Tribunal de Contas, de uma auditoria completa a todos os fenómenos de desorçamentação no Estado, incluindo as situações de migração para o direito privado e, ainda, para a determinação completa do nível de endividamento do Estado, incluindo o (designado) endividamento oculto;

5. O fim das injustificadas e milionárias contratações de software proprietário na Informática do Estando, cujos custos totais o próprio Governo afirma desconhecer e a efectiva opção pelo software livre.

O PCP vai ainda propor, como forma de melhorar os instrumentos para o combate ao crime fiscal, e na sequência de anteriores iniciativas sobre a eliminação do sigilo bancário que vieram a ter a aceitação parcial na Lei 37/2020, de 2 de Setembro, a eliminação do efeito suspensivo de qualquer recurso judicial sobre decisões tributárias para aceder a informação bancária.

........."

Jornadas Parlamentares do PCP
Propostas para responder aos problemas do país
(excerto, daqui)

Monday, October 11, 2010

Arco íris


Gostava de andar descalça. De sentir o fresco do chão e a humidade da terra. Por isso enterrava os pés quando passeava pela praia ou quando plantava flores. E gostava de andar à chuva, deixando que esta escorresse cara abaixo até os pingos entrarem na roupa e lhe molharem o corpo. Sentia-se assim parte integrante da Natureza.
No dia aprazado foi ao encontro que tinha marcado com o amado. Na ponte que atravessa o rio. Nessa ponte que os separa mas que também os une. Estiveram juntos todo o dia, fizeram o que ainda estava por fazer. Marcaram novo encontro para daqui a três meses, na mudança de estação. Voltou para casa. Começara a chuviscar e ainda teve tempo de ver o arco íris. Depois adormeceu. Em paz.

Saturday, October 09, 2010

Música para o fim-de-semana



Samaritana

En Madrid ya agonizando el presente mes

me siento al fin enfrente de un papel

para escribirte justo hasta la piel

aunque no entiendas lo que te diré
Probablemente no te acordarás

ni de mi nombre ni el de aquel café

donde borracho con mi soledad
casi en la puerta te paré y te hablé

tú me miraste y me dejaste hablar

no preguntaste, yo no pregunté

después salimos juntos desde el bar
para andar toda la noche al revés

Probablemente no sabrás jamás

que nunca fuiste foto de carnet
que tu mayor palabra fue callar

y fue la mía amarte, mujer.

Porque yo te amé aquel anochecer
que fuiste el cuenco donde yo dejé

mi soledad de atrás de antesdeayer,

mis viejas penas y el primer deber.

Tuvo tu casa vocación de hogar

y tu mayor victoria fue saber

que siempre fuistes algo que olvidar

de cualquier hombre y en cada café.

Y fuiste el puerto del que yo partí

y fuiste el muelle donde decanté

todos los besos que pude fingir

todos los sueños que nunca encontré

No fuiste una, fuiste LA MUJER,

que bautizó mi nuevo amanecer

me diste agua, me hiciste café...

yo no acuerdo ya ni si te pagué.

Eres la caja fuerte del dolor

naciste por, desde, y para el amor,

eres la amante fiel, la más verdad,

samaritana de la libertad.

Perdóname la versificación,

de tu recuerdo he hecho una canción,

mi mala letra y hasta ese borrón,

perdona el tono y el vocablo "amor".

Probablemente no supe explicar

lo que he guardado bien, bien, bien, bien a tu pesar

y que intenté, intenté poner en un papel

en Madrid y agonizando el presente mes.


Monday, October 04, 2010

Perguntas

Onde estavas tu quando fiz vinte anos
E tinha uma boca de anjo pálido?
Em que sítio estavas quando o Che foi estampado
Nas camisolas das teenagers de todos os estados da América?
Em que covil ou gruta esconderam as suas armas
Para com elas fazer posters cinzeiros e emblemas?
Onde te encontravas quando lançaram mão a isto?
E atrás de quê te ocultavas quando
Mataram Luther King para justificar sei lá que agressões
Ao mesmo tempo que viamos Música no Coração
Mastigando chiclets numa matinée do cinema Condes?
Por onde andavas que não viste os corações brancos
Retalhados na Coreia e no Vietname
Nem ouviste nenhuma das canções de Bob Dylan
Virando também as costas quando arrasaram Wiriammu
E enterraram vivas
Mulheres e crianças em nome
De uma pátria una e indivisível?
Que caminho escolheram os teus passos no momento em que
Foram enforcados os guerrilheiros negros da África do Sul
Ou Allende terminou o seu último discurso?
Ainda estavas presente quando Victor Jara
Pronunciou as últimas palavras?
E nem uma vez por acaso assististe
Às chacinas do Esquadrão da Morte?
Fugiste de Dachau e Estalinegrado?
Não puseste os pés em Auschwitz?
Que diabo andaste a fazer o tempo todo
Que ninguém te encontrou em lugar algum.


Joaquim Pessoa

(vou ali. depois volto. logo)

Saturday, October 02, 2010

Música para o fim-de-semana



Já passou por aqui. Mas é tão lindo...