Thursday, January 29, 2009

A chuva

É quando o sol se põe no horizonte
e o mar ruge, rebentando em ondas de espuma
que a chuva cai em gotas de amor sobre o chão
e a natureza cumpre o seu dever de fecundar a terra

(eu vou ali. depois eu volto logo, logo)

Wednesday, January 28, 2009

O Primeiro Dia



A princípio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vaza
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.


Sérgio Godinho

E para Letícia...


...um acarajé. Para matar saudades.
PARABÉNS, Amiga-Irmã! Bem vinda a este nosso País!

Tuesday, January 27, 2009

Liberdade


No verde dos campos te semeio
e de mim nasces como um rio
nas ruas te festejo e te premeio
no vermelho dos cravos te sorrio

No amarelo do sol que nos aquece
desenho um malmequer que não desfolho
e ao branco da lua que te esconde
atiro beijos que chegam aos teus olhos

No azul do mar em que me deito
oiço cantos de sereias sem idade
descanso-me na rocha, e é já refeito
que em todas as cores te conquisto, Liberdade!

Monday, January 26, 2009

Amigo


Amigo
É mais que uma palavra, é uma aragem de esperança

Amigo
É mais que um irmão, é um “sempre presente”

Amigo
É mais que o sol ou a lua, a chuva ou o vento

Amigo é terra, porque fecunda e dá fruto
É mãe, porque protege
É mar, porque é vida

Amigo é tanto!

Amigo é ar, porque respira
É fogo, porque aquece
É partilha, porque cúmplice

Amigo é abraço
Amigo é ternura
Amigo, sem cansaço
É a forma de amor mais pura

Amigo é tanto que nem cabe na palma da mão!

Sunday, January 25, 2009

Agradecendo...


O Delfim Peixoto, Poemas ao luar, e a Anamar, Um chá no Deserto, mimaram-me com este prémio "sobrevivente ao romantismo".
Fica aqui o selo para os meus leitores o levarem, já que serão também "sobreviventes ao romantismo"...

Muito obrigada Delfim e Ana. Beijos aos dois.

Porque me apetece António Botto

Não me peças mais canções

Se passares pelo adro
No dia do meu enterro,
Dize à terra que não coma
Os anéis do meu cabelo.

Já não digo que viesses
Cobrir de rosas meu rosto,
Ou que num choro dissesses
A qualquer do teu desgosto;

Nem te lembro que beijasses
Meu corpo delgado e belo,
Mas que sempre me guardasses
Os anéis do meu cabelo.

Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo
Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Se a minha voz conseguisse
Dissuadir essa frieza
E a tua boca sorrisse!
Mas sóbria por natureza

Não a posso renovar
E o brilho vai-se perdendo…
- Sou como as velas do altar
Que dão luz e vão morrendo.

Saturday, January 24, 2009

Friday, January 23, 2009

Porquinho-da-Índia

Quando eu tinha seis anos
ganhei um porquinho-da-Índia.
Que dor de coração eu tinha
porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra a sala
pra os lugares mais bonitos e mais limpinhos
Ele não se importava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-Índia foi a minha primeira namorada.


Manuel Bandeira


(poema retirado do Cravo de Abril)

Thursday, January 22, 2009

Blog de Ouro


A Carla, do blog http://palavrasemdesalinho.blogspot.com/ e a Arábica, do blog http://empequenasdoses.blogspot.com/ ofereceram-me o selo acima, que desde já agradeço, e que foi criado para as mulheres que, de diferentes modos, constroem um mundo diferente.

De acordo com as regras este selo deverá:
1. ser atribuido só a mulheres
2. ser copiado e colado no blog, fazendo referência de quem o recebeu
3. presentear seis mulheres deixando um comentário nesses blogs para que saibam que ganharam o prémio.

Porque recebi dois selos posso nomear doze mulheres e, apesar da dificuldade, aqui ficam as nomeadas, por ordem alfabética:

Amigona – Instantes da vida
Ana - Pedras no sapato
Ana Camarra – Isto tem dias
Filoxera - Escrito a quente
Isabel Mendes Ferreira - Piano
Isabel Victor - Caderno de campo
Maria P. - Casa de Maio
Mié - Roads
Placi – Porque me condenas
Sal - Mar sem sal
Vanda Paz - Néctar das palavras
Vela - as velas ardem sempre até ao fim

Obrigada Carla, obrigada Arábica.

Desejos vs Sonhos

O fj do blogue http://fj-100maisnemenos.blogspot.com/ lançou-me um desafio, cujas regras são as seguintes:

1 - Pensar e fazer uma lista com 8 coisas que sonho fazer ou que gostaria que se concretizassem neste ano de 2009;
2 - Convidar oito bloguistas a responder ao mesmo;
3 - Dizer no blog de quem partiu o desafio;
4 - Dizer no blog quem desafiamos;
5 - Mencionar as regras.

Não sou muito dada a esta “coisa” de correntes, mas vindo do fj não poderia recusar. Assim, aqui vai:

1. Saúde para todos que amo.
2. Resolução de todos os conflitos dando lugar à Paz no Mundo.
3. Fim da fome em África e em todos os outros países.
4. Perdão da dívida do terceiro mundo.
5. Que os Professores ganhem de uma vez por todas este braço de ferro com a Ministra.
6. Que o partido que ganhar as eleições este ano não tenha maioria absoluta.
7. Que diminua o desemprego neste país.
8. Por fim, que os meus desejos se concretizem ☺.

Vem agora a parte mais difícil, que é desafiar oito bloguistas.
Como as regras se fizeram para serem quebradas, eu descumpro-as…
Quem quiser pegar neste desafio está à vontade para o levar e dar continuidade…

Obrigada, fj. Não foi fácil fazer a lista dos 8 desejos…

Wednesday, January 21, 2009

Um dia


Um dia chegaste, sem eu dar por isso.
Um dia partiste, sem eu te ter visto.
Foi nesse dia que me deixaste a falar sozinha.
Trinta dias o sangue me ferveu. Esperando um regresso. E foi a partida.
Dez dias o sangue me gelou. Procurei o mar.
Mergulhei no mais profundo de ti, no imenso azul.
Esperei pela maré de ir. Espero ainda.
Não quero a maré de vir...

Tuesday, January 20, 2009

Renascer: Que


Pelo rio

Pela corrente

Pelo vento

Pelo sangue da lágrima caída

Pela retina

Pelo desejo

Pela vontade

Possamos renascer também...

... no vai e vem de cada maré cheia...



Monday, January 19, 2009

Sunday, January 18, 2009

Lembrando Ary dos Santos

(imagem da net)

AUTO-RETRATO

Poeta, é certo, mas de cetineta
fulgurante de mais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos.

Cozido à portuguesa, mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento, ambas partes
do meu caldo entornado na infância.

Nos olhos, uma folha de hortelã
que é verde, como a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.

Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos poucos de ternura.

TOMAR PARTIDO



O Zé Carlos deixou-nos há 25 anos.
E a saudade é enorme...

Saturday, January 17, 2009

Friday, January 16, 2009

BURGUESES

Não tenho pena dos burgueses
vencidos. E quando penso que vou ter pena,
aperto bem os dentes e fecho bem os olhos.
Penso nos meus longos dias sem sapatos nem rosas.
Penso nos meus longos dias sem chapéu nem nuvens.
Penso nos meus longos dias sem camisa nem sonhos.
Penso nos meus longos dias com a pele proibida.
Penso nos meus longos dias.

- Isto é um clube. Aqui não pode entrar.
- A lista já está cheia.
- Não há quarto no hotel.
- O senhor não está.
- Rapariga precisa-se.
- Fraude nas eleições.
- Grande baile para cegos.
- A taluda saiu em Santa Clara.
- Tômbola para órfãos.
- O cavalheiro está em Paris.
- A senhora marquesa não recebe.

Enfim, recordo tudo.
E como recordo tudo,
que caralho me pede você que faça?
E além disso, pergunte-lhes.
Com certeza
que eles também se lembram.


Nicolás Guillén

Thursday, January 15, 2009

O que é que uma pessoa sente


O que é que uma pessoa sente
frente ao quadro de Picasso
no mistério do minotauro
mãe com filho morto no braço
o que é que uma pessoa sente
se tem Guernica na frente
corpos mutilados no chão
braços erguidos ao céu
o que é que uma pessoa sente
sabendo que Guernica não mente
o cavalo em agonia
o horror de noite e dia
o que é que uma pessoa sente
quando tenho Guernica em frente
eu sozinha e tanta gente
e nada me é indiferente
o que é que uma pessoa sente?

Wednesday, January 14, 2009

Rente ao coração


Rente ao coração anoiteço-me
deixo-me embalar pelas palavras
que não oiço mas sei que dizes
No teu peito explodo-me
de pele desfeita todas as noites
com a certeza de que havemos
de nos amar outra vez, um dia...

Monday, January 12, 2009

Ontem em Madrid...


... foi assim...


A "cauda" da concentração que depois saiu em Manifestação, com gente de todas as idades, credos e de muitas nacionalidades.


Nem a temperatura de 1º nem a neve e o gelo impediram que dezenas de milhares de pessoas se manifestassem em apoio à Palestina, exigindo o cessar-fogo na Faixa de Gaza e o fim do massacre por parte de Israel.

Música para hoje

Friday, January 09, 2009

Porque me apetece Brecht...

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são!
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos
Quem ainda está vivo não diga: nunca!
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga?
De nós.
De quem depende que ela acabe?
Também de nós.
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, como pode calar-se?
E o nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã!


Bertold Brecht



(eu vou ali. depois eu volto, logo)

Thursday, January 08, 2009

*


Do rebentar das ondas teço lençóis de espuma para te deitares
Das brisas farei velas para todos os barcos de tanto navegar
Do meu corpo mil fontes de água para as tuas sedes saciares
Do meu mar, uma seara enorme de onde ceifaremos a palavra amar.


*********

Mais logo, às 18.00, frente à Embaixada de Israel
Contra o Massacre na Faixa de Gaza!

Wednesday, January 07, 2009

Não te digo o que faço







Não te digo o que faço
no silêncio da noite
quando poiso a cabeça
no colo do meu amor
Muito menos o que faço
quando ele descansa as palavras
sobre as minhas coxas
eu enlaço os seus joelhos
e ele se atreve a sonhar....

Tuesday, January 06, 2009

No dia em que eu voltar…


És tu que tens de pôr tudo no lixo, se é o que queres.
És tu que tens de tirar o toalhão de cima da cama, se isso te incomoda.
És tu que apagarás todas as palavras e pintarás as paredes de outras cores. Para apagares a minha voz.
Abre as janelas, para que entre o ar fresco da noite. Sabes que gosto do ar fresco. Sabes que deixo sempre o toalhão em cima da cama.
Trouxe quase tudo. Mas eu fiquei. E deixei uma garrafa de vinho, das nossas. Porque um dia, quando eu voltar, quero ter desse vinho, sangue meu, para beber. Contigo.
Na taça de todos os corpos.
Na noite de todos os amantes.
No dia em que eu voltar…

Monday, January 05, 2009

Contra o massacre na faixa de Gaza


Hoje, 18.00 horas - Largo de S. Domingos - Lisboa

Concentração dia 8, 18.00, Rua António Enes (frente à Embaixada de Israel) - metro: Picoas


PARA NUESTRA PATRIA

Para nuestra patria,
Próxima a la palabra divina,
Un techo de nubes.

Para nuestra patria,
Lejana de las cualidades del nombre,
Un mapa de ausencia.

Para nuestra patria,
Pequeña cual grano de sésamo,
Un horizonte celeste... y un abismo oculto.

Para nuestra patria,
Pobre cual ala de perdiz,
Libros sagrados... y una herida en la identidad.

Para nuestra patria,
Con colinas cercadas y desgarradas,
Las emboscadas del nuevo pasado.

Para nuestra patria cautiva,
La libertad de morir consumida de amor.
Piedra preciosa en su noche sangrienta,

Nuestra patria resplandece a lo lejos
E ilumina su entorno...
Pero nosotros en ella
Nos ahogamos sin cesar.

Mahmoud Darwish
(13 Março 1941 – 9 Agosto 2008)

Sunday, January 04, 2009

RESPONDE TU...

Tu, que partiste de Cuba,
responde tu,
onde acharás verde e verde,
azul e azul,
palma e palma sob o céu ?
Responde tu.

Tu, que tua língua esqueceste,
responde tu,
e em língua estranha mastigas
o güel e o yu,
como viver podes mudo ?
Responde tu.

Tu, que deixaste a terra,
responde tu,
onde teu pai repousa
sob uma cruz,
onde deixarás teus ossos ?
Responde tu.

Ah infeliz, responde,
responde tu,
onde acharás verde e verde,
azul e azul,
palma e palma sob o céu ?
Responde tu.


Nicolás Guillén

Saturday, January 03, 2009

Música para o fim de semana


Aprendimos a quererte,
Desde la histórica altura,
Donde el sol de tu bravura
Le puso cerco a la muerte.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia
De tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.

Tu mano gloriosa y fuerte
sobre la historia dispara,
cuando todo Santa Clara
Se despierta para verte.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia
De tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.

Vienes quemando la brisa
con soles de primavera
para plantar la bandera
con la luz de tu sonrisa

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia
De tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.

Tu amor revolucionario
te conduce a nueva empresa,
donde espera la firmeza
de tu brazo libertario.

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia
De tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.

Seguiremos adelante
como junto a ti seguimos
y con Fidel te decimos :
«¡Hasta siempre Comandante!»

Aquí se queda la clara,
La entrañable transparencia
De tu querida presencia,
Comandante Che Guevara.

Friday, January 02, 2009

Se eu fosse mar


Se eu fosse mar deixaria que desaguasses em mim o rio que és.
Poderias então descansar de todas as cores no meu azul profundo.
Não sou mar.
Mas podes sempre descansar no meu regaço todos os cansaços da vida.
As tuas lágrimas. As chegadas e as partidas. A tua inquietação.
E repousar o corpo...

Thursday, January 01, 2009

Nos 50 anos da Revolução em Cuba!

O primeiro cheiro da Ilha, à saída do aeroporto

Havana, Malecón

Praça da Revolução, Monumento a José Martí

Praça da Revolução

Havana, Museu da Revolução

Santiago de Cuba, Quartel Moncada

Santiago de Cuba, Sierra Maestra com Catedral da Senhora do Cobre ao fundo

Santiago de Cuba, Casa da Trova

A Baía de Santiago de Cuba

Era aqui que eu deveria estar, hoje. Por razões que não vêm ao caso não posso estar. Mas estou com o coração, cheio de ternura por um Povo que soube e sabe resistir ao garrote económico imposto pelos vizinhos da América do Norte, e que já custou à Ilha 46 anos de privações e prejuízos directos de muitos milhões de dólares, por um Povo que luta com dignidade, por um Povo solidário e internacionalista que já venceu e continua a vencer!

Viva o Povo Cubano! Viva Cuba!

(deixo-vos um link para um artigo no Anónimo Séc. XXI, que acho da maior importância, http://anonimosecxxi.blogspot.com/2008/12/50-anos-cuba.html)