Monday, October 29, 2012

A casa



Deixaste-me num dia de outono quase inverno. Sem avisares e sem que pudesse prever. A casa fortaleza ficou igual um tempo. Igual por fora e gelada por dentro.

Os dias passaram e tudo mudou. Da casa restam as paredes, ainda altivas, mas no chão só existem pedras. Entre as pedras o teu coração.

Mais tarde percebi que a casa eras tu. E apressei-me a ir buscar, entre as pedras, o teu coração, que voltei a colocar no meu peito. Para te aquecer.

Foi então que saíste de mim e voaste...

Tuesday, October 23, 2012

... e não consigo...



Entraste devagarinho dentro de mim. E eu deixei.
Inundaste-me com a alegria de um menino. E eu sorri.
Dançámos todas as danças que havia para inventar. Estremeci
e o teu coração bateu forte, apressado.

No vai e vem das marés andámos por caminhos proibidos. E tu sabias.
Demos as mãos com a ternura do amor primeiro. O nosso.
Pintámos esse amor com o vermelho da paixão. Vivido.
Das palavras que nos dissemos só uma ficou acordada. Falo da saudade.
Todas as outras adormeceram no tempo no dia na hora que não escolhemos.
Vejo os teus olhos que me sorriem e tu não me vês.
Dou-te um abraço apertado que tu não sentes.
Beijo-te o corpo sem te tocar e amo-te!
Mantenho o teu cheiro, que guardo com todos os sentidos.
Vives rente ao meu coração que ainda bate descompassado, por ti.
Agora sou eu que quero sair de dentro de mim.
Estilhaçar-me em mil pedaços.
… e não consigo…

Saturday, October 20, 2012

Wednesday, October 17, 2012

Sagrado é o amor


Sagrada será a chuva sempre que chegar, sagrado é o amor, todo o amor, sagrado é o trabalho do Poeta no labor das palavras.

Tuesday, October 16, 2012

Memória de Adriano




Faz hoje 30 anos que Adriano nos deixou fisicamente.
Ficou a sua voz, a voz da ternura, para o sentirmos por perto...

Wednesday, October 10, 2012

Porque me apetece Joaquim Pessoa


De esperas construímos o amor

Se ao menos soubesses tudo o que eu não disse
ou se ao menos me desses as mãos como quem beija
e não par
tisses, assim, empurrando o vento
com o coração aflito, sufocado de segredos;
se ao menos percebesses que eram nossos
todos os bancos de todos os jardins;
se ao menos guardasses nos teus gestos essa bandeira de lirismo
que ambos empunhámos na cidade clandestina

Quando as manhãs cheiravam a óleo e a flores
e o inverno espreitava ainda nas esquinas como uma criança tremendo;
se ao menos tivesses levado as minhas mãos para tocar os teus dedos
para guardar o teu corpo;
se ao menos tivesses quebrado o riso frio dos espelhos
onde o teu rosto se esconde no meu rosto
e a minha boca lembra a tua despedida,
talvez que, hoje, meu amor, eu pudesse esquecer
essa cor perdida nos
teus olhos

De esperas construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amamos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos e, nas minhas mãos,
a tarde projectava as suas grandes sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a água
talvez um peixe inquieto, algo que nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre, ávidas e macias
E por muito tempo permaneciam assim, unidas,
Machucando-se, torturando as nossas línguas quase enlouquecidas.
Depois olhávamo-nos nos olhos
No mais profundo silêncio. E, sem palavras,
Partíamos com as mãos docemente amarradas e os corações estoirando uma alegria breve
Quando a noite descia apaixonada
Como o longo beijo da nossas despedida.

(Joaquim Pessoa)

Monday, October 08, 2012

Pegadas


 
Passeio-me no jardim dos amantes e não têm conta as pegadas que por lá ainda vivem. Dizem-me que quanto mais profunda é a pegada mais forte foi o amor. São pegadas de todos os tamanhos e formas, e as pegadas masculinas distinguem-se das femininas, mais suaves. Como se os amantes andassem por cima de um campo de flores. Como se os amantes dormissem, ainda, num leito de flores. Como se os amantes...

Passeio-me no jardim dos amantes e posso contar as pegadas que por lá já não vivem...

Saturday, October 06, 2012

Thursday, October 04, 2012

Cansaço


 
Estou cansada das palavras. Das minhas, das tuas, de todas as palavras. É um respirar que não sinto, um desejo que não tenho, um amanhecer que não existe.

Estou cansada das palavras. Das que leio, das que não leio, das que ficam por reler. É um abraço que não sinto, um olhar que já não tenho, o anoitecer que sempre existe.

Estou cansada das palavras...

Monday, October 01, 2012

O meu abraço


 
Hoje não tenho palavras para ti. Mas tenho um abraço. Nesta tempestade de palavras recolho a tua lágrima e guardo-a. E tenho um abraço. Terás o meu grito, sempre que necessário. E também o meu abraço. Solta-te em lágrima, deixa que escorra e fique no passado. O manto do futuro aconchega-te. E o meu abraço. O meu abraço...