Wednesday, June 30, 2010

Soneto da Fidelidade


De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinicius de Moraes

Monday, June 28, 2010

Porque corre o rio tão longe


Todos os dias me invade o silêncio da tua ausência
todas as noites procuro um som onde reconheça a tua voz
tenho as mãos calejadas de tanto te procurar e
o ventre seco e
o olhar baço e
os lábios cheios de sede. de ti.
Porque corre o rio tão longe
e a terra continua seca?

Saturday, June 26, 2010

Música para o fim-de-semana



A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
Vermelho!...

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
Meu coração!...

Meu coração é vermelho
Hei! Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
He Ho! He Ho!
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer...

Vermelhou o curral
A ideologia do folclore
Avermelhou!
Vermelhou a paixão
O fogo de artifício
Da vitória vermelhou...(2x)

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
Vermelho!...

A côr do meu batuque
Tem o toque, tem o som
Da minha voz
Vermelho, vermelhaço
Vermelhusco, vermelhante
Vermelhão...

O velho comunista se aliançou
Ao rubro do rubor do meu amor
O brilho do meu canto tem o tom
E a expressão da minha côr
(Vermelho!)
Meu coração!...

Meu coração é vermelho
Hei! Hei! Hei!
De vermelho vive o coração
He Ho! He Ho!
Tudo é garantido
Após a rosa vermelhar
Tudo é garantido
Após o sol vermelhecer...

Vermelhou o curral
A ideologia do folclore
Avermelhou!
Vermelhou a paixão
O fogo de artifício
Da vitória vermelhou...(4x)

Fafá de Belém

Monday, June 21, 2010

Mar ou Vento


Perco-me a olhar a ilha, vazia de mim
Não sei contar quanto tempo é o tempo
Desato o nó e deixo-me chorar assim
Por não te ter, nem ao mar nem ao vento

Ficou comigo o teu cheiro no meu leito
Desfeito pelas mãos do amor no momento
Sangra ainda de dor este meu peito
Por não te ter, nem ao mar nem ao vento

De tudo o que guardei e já não quero
Fica o canto das ondas como um lamento
Que me acolhe e leva para onde te espero
Para depois te ter, seja no mar ou no vento.


(vou ali e depois volto. logo)

Friday, June 18, 2010

Até amanhã, Camarada!


Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"
(16 de Novembro de 1922 - 18 de Junho de 2010)

Qualquer grito


Qualquer grito. Punho no ar ou bandeira
Fonte de nós na certeza de saber
Que tendo-te assim, a vida inteira
Será sempre possível fazer acontecer.
Qualquer dia. No tempo ou no espaço
No rio de onde brota a água mais pura
Que tendo-te assim, neste abraço
Te sei poeta da dor, do amor e da ternura.

Wednesday, June 16, 2010

Na Rua, em Luta!


Amanhã é no Rossio que nos encontramos. Mais uma vez. Até corrermos com quem nos impõe a política de direita que nos está a levar a um verdadeiro desastre económico e social.
É possível a alternativa. Porque a alternativa existe!

Tuesday, June 15, 2010

Cinzento

Há dias assim. Em que tudo nos parece cinzento, tão cinzento que não vemos para além de nós e do que sentimos. Mas há o Mundo lá fora. À nossa volta. Há uma mão sobre o ombro, uma gargalhada que nos desperta.
Apesar do nada poder ser o poema inteiro.
Há noites assim. Em que o cinzento fica preto, de tão escuro. E não queremos ver nada para além do que escrevemos. Mas sentimos. E há Vida lá fora. À nossa volta. Um olhar que te beija. Um abraço que te aquece.
Apesar do nada poder ser o poema inteiro.

Sunday, June 13, 2010

TRÊS POEMAS, MEMÓRIA DE TRÊS HOMENS


O comum da terra

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade
(para Vasco Gonçalves)



Até Amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade





La Lámpara Marina

I
El Puerto Color de cielo


Cuando tú desembarcas
en Lisboa,
cielo celeste y rosa rosa,
estuco blanco y oro,
pétalos de ladrillo,
las casas,
las puertas,
los techos,
las ventanas,
salpicadas del oro limonero,
del azul ultramar de los navíos.

Cuando tú desembarcas
no conoces,
no sabes que detrás de las ventanas
escuchan,
rondan
carceleros de luto,
retóricos, correctos,
arreando presos a las islas,
condenando al silencio,
pululando
como escuadras de sombras
bajo ventanas verdes,
entre montes azules,
la policía
bajo las otoñales cornucopias
buscando portugueses,
rascando el suelo,
destinando los hombres a la sombra.

II
La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emerges
en la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

III
Los presidios

Pero,
portugués de la calle,
entre nosotros,
nadie nos escucha,
sabes
dónde
está Álvaro Cunhal?
Reconoces la ausencia
del valiente
Militão?
Muchacha portuguesa,
pasas como bailando
por las calles
rosadas de Lisboa,
pero,
sabes dónde cayó Bento Gonçalves,
el portugués más puro,
el honor de tu mar e de tu arena?
Sabes
que existe
una isla,
la isla de la Sal,
y Tarrafal en ella
vierte sombra?
Sí, lo sabes, muchacha,
muchacho, sí, lo sabes.
En silencio
la palabra
anda con lentitud pero recorre
no sólo el Portugal, sino la tierra.
Sí, sabemos,
en remotos países,
que hace treinta años
una lápida
espesa como tumba o como túnica
de clerical murciélago,
ahoga, Portugal, tu triste trino,
salpica tu dulzura
con gotas de martirio
y mantiene sus cúpulas de sombra.

IV
El Mar Y Los Jazmines

De tu mano pequeña en otra hora
salieron criaturas
desgranadas
en el asombro de la geografia.
Así volvió Camoens
a dejarte una rama de jazmines
que siguió floreciendo.
La inteligencia ardió como una viña
de transparentes uvas
en tu raza.

Guerra Junqueiro entre las olas
dejó caer su trueno
de libertad bravía
que transportó el océano en su canto,
y otros multiplicaron
tu esplendor de rosales y racimos
como si de tu territorio estrecho
salieran grandes manos
derramando semillas
para toda la tierra.

Sin embargo,
el tiempo te ha enterrado.
El polvo clerical
acumulado en Coimbra
cayó en tu rostro
de naranja oceánica
y cubrió el esplendor de tu cintura.

V
La Lámpara Marina

Portugal,
vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevo
a la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.

La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?

Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?

Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura
de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.

Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.

Pablo Neruda
(para Álvaro Cunhal)

Saturday, June 12, 2010

Wednesday, June 09, 2010

A FOME



Eis alguns dados sobre a
fome:

- Mais de mil milhões de pessoas passam fome - ou seja: um em cada seis habitantes do planeta passa fome.
- Dessas, morrem todos os dias dezenas de milhares, na sua maioria mulheres e crianças.

- Em cada seis segundos morre uma criança. À fome.

- A imensa maioria dos que morrem à fome é oriunda dos «países mais pobres» - que são mais pobres porque os mais ricos lhes roubam as suas riquezas.

- A fome também marca presença nos «países mais ricos»: dos 10, 9 milhões de crianças com menos de cinco anos que morrem todos os anos nos «países desenvolvidos», 60% morrem em consequência da fome.

«A fome mata mais pessoas do que a sida, a malária e a tuberculose juntas».


Quer isto dizer que o número de vítimas da fome continua a aumentar.
Entretanto, prosseguem as «conferências», os «seminários», os «fóruns», os «anos europeus» e os «anos mundiais» que, desde há muito anos, garantem que vão acabar com a fome - mas que, até agora, apenas conseguiram aumentar as riquezas dos mais ricos.


Quanto a nós por cá... tudo bem:
«A falta de comida já afecta 95 mil crianças»
«O Banco Alimentar está a dar comida a 285 mil pessoas» - são «dez vezes mais do que a média do ano passado» e o brutal aumento deve-se, entre outras coisas, à entrada no reino da fome dos chamados «novos pobres» - que são aqueles que têm emprego e salário fixo, mas cujo rendimento não chega para comer.

É assim a vida no capitalismo que é, há centenas de anos, o sistema dominante.
E assim será enquanto o capitalismo dominar.
Até que as vítimas da fome se levantem e construam «uma terra sem amos»...


retirado do Cravo de Abril

(vou ali e depois volto. logo. logo)

Em termpo: cliquem aqui e revoltem-se!!!
http://www.publico.pt/Sociedade/criancas-vestemse-com-fardas-da-mocidade-para-reviver-100-anos-de-republica_1440933

Um Poema de José Gomes Ferreira. Porque sim!

(A Eterna Criança que me persegue a
pedir esmola. Grito de cólera.)


Ouve, Não-sei-quem:

recuso-me a viver
num mundo assim de lua podre
disfarçado de flores
com repetições de esqueletos
e a Eterna Voz Faminta
aqui na minha frente
- pálida de existir!

Ouve, Não-sei-quem:

e se, depois de tudo isto,
ainda há céu e inferno
ou outra sombra intermédia,
recuso-me terminantemente a morrer
e a entrar nessa comédia!



José Gomes Ferreira

(9.Junho.1900 - 8.Fevereiro.1985)

Tuesday, June 08, 2010

Arde um sonho no meu peito


Arde um sonho no meu peito
que tarda em afogar a mágoa
sei que o sonho para ser perfeito
precisa de muito mais do que água

Arde um sonho no meu peito
e ninguém ouve este grito
passam os momentos a eito
e o sonho ainda arde aflito

Arde um sonho no meu peito
é tempo de secar o olhar
deixo-te um abraço, ao meu jeito,
e mergulho aqui, neste mar.

Sunday, June 06, 2010

Saudade

A saudade é uma segunda pele que vestimos. Que nos asfixia, por vezes. Que nos faz em rio, outras.
A saudade é um aperto que nos dói no coração. Que corre nas nossas veias. Que vive dentro de nós, sempre.
A saudade é um mar imenso que engulo para te tragar. Que eu devolvo em cada maré de ir, para te recolher na maré de vir.
E que vive em mim, como um abraço. Para sempre.

Back to no. 1!!!!!!


Parabéns, Nadal!
De volta a nr. UM. Por quanto tempo?

Saturday, June 05, 2010

Música para o fim-de-semana



Tomara
Que você volte depressa
Que você não se despeça
Nunca mais do meu carinho
E chore, se arrependa
E pense muito
Que é melhor se sofrer junto
Que viver feliz sozinho

Tomara
Que a tristeza lhe convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais...



Vinicius de Morais

Thursday, June 03, 2010

Momento...


Foi naquele momento em que nada mais contou
a não ser o amor, que tu
pacientemente
me quiseste, momento em que eu, qual menina,
com o receio dos quinze anos e a vergonha não sei de quê
te quis,
amor já desejado mas não vivido
momento belo, e profundo, e bonito,
o momento em que
nos demos
calmamente
avidamente
um ao outro
como que para recuperar um tempo perdido
que havemos de voltar a ter,
foi naquele momento em que nos amámos pela primeira vez,
esse foi o momento
que tanto ansiávamos...

E Beijo-te!

Wednesday, June 02, 2010

Porque é tão bonito...


repete-te em mim

olha bem nos meus olhos
afoga-te neles, enquanto te salvo entre os lábios

(quentes)
recusas achar-te nos meus braços
mas o meu nome é fogo que te arde na boca
(sente…)
pela madrugada
aconchega-te no olhar, abraça-me o desejo
e faz-me tua
(…simplesmente)
encontra-te no aroma das palavras
e colhe a cor dos molhos de rosas
que deixaste no meu ventre
deixa que se alimentem com murmúrios ofegantes
como mãos ansiosas e húmidas e repete-te em mim


(olha bem nos meus olhos
e pela madrugada
aconchega-te no meu ventre
e repete-te em mim)

Vanda Paz

Tuesday, June 01, 2010

OS OLHOS DAS CRIANÇAS



Atrás dos muros altos com garrafas partidas
bem para trás das grades do silêncio imposto
as crianças de olhos de espanto e de medo transidas
as crianças vendidas alugadas perseguidas
olham os poetas com lágrimas no rosto.

Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas.

Sidónio Muralha