Monday, September 23, 2013

Memória de Pablo Neruda

Ao meu Partido

Deste-me a fraternidade para com o que não conheço.
Acrescentaste à minha a força de todos os que vivem.
Deste-me outra vez a pátria como se nascesse de novo.
Deste-me a liberdade que o solitário não tem.
Ensinaste-me a acender a bondade, como um fogo.
Deste-me a rectidão de que a árvore necessita.
Ensinaste-me a ver a unidade e a diversidade dos homens.
Mostraste-me como a dor de um indivíduo morre com a vitória de todos.
Fizeste-me edificar sobre a realidade como sobre uma rocha.
Tornaste-me adversário do malvado e muro contra o frenético.
Fizeste-me ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria.
Tornaste-me indestrutível, porque, graças a ti, não termino em mim mesmo.


Pablo Neruda

Morreu há precisamente 40 anos.

Wednesday, September 11, 2013

Faz hoje 40 anos


Para que nunca se esqueça



HOMENAGEM AO POVO DO CHILE

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro

Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança
e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança

Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no Povo jamais vencido
– o Povo nunca se rende
mesmo quando morre unido

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um ricto de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
Uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.

 
José Carlos Ary dos Santos

Monday, September 09, 2013

Corpo de mulher...


Corpo de mulher, brancas colinas, coxas brancas,
pareces-te com o mundo na tua atitude de entrega.
O meu corpo de lavrador selvagem escava em ti
e faz saltar o filho do mais fundo da terra.

Fui só como um túnel. De mim fugiam os pássaros,
e em mim a noite forçava a sua invasão poderosa.
Para sobreviver forjei-te como uma arma,
como uma flecha no meu arco, como uma pedra na minha funda.

Mas desce a hora da vingança, e eu amo-te.
Corpo de pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah os copos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah a tua voz lenta e triste!

Corpo de mulher minha, persistirei na tua graça.
Minha sede, minha ânsia sem limite, meu caminho indeciso!
Escuros regos onde a sede eterna continua,
e a fadiga continua, e a dor infinita.

Pablo Neruda, 

in "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada"

Friday, September 06, 2013

É A FESTA!




AQUI. TRÊS DIAS. ONDE SE RESPIRA MELHOR!

Wednesday, September 04, 2013

*

"O amor
é uma ave a tremer
nas mãos duma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz."

Eugénio de Andrade