Tuesday, October 20, 2015

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Ainda abro a porta todos os dias, logo de manhã, num gesto 'mecanizado'.
E pergunto-me porque o faço, se tu já não vens...

Friday, October 16, 2015

Memória da voz da ternura


Soneto a Adriano

Não era só a voz o som a oitava
que ele queria sempre mais acima
nem sequer a palavra que nos dava
restituída ao tom de cada rima.


Era a tristeza dentro da alegria
era um fundo de festa na amargura
e a quase insuportável nostalgia
que trazia por dentro da ternura.


O corpo grande e a alma de menino
trazia no olhar aquele assombro
de quem quer caber e não cabia.


Os pés fora do berço e do destino
alguém o viu partir de viola ao ombro.
Era Outubro em Avintes. E chovia.


Manuel Alegre

Monday, October 12, 2015

Wednesday, October 07, 2015

Do cizento dos dias


Hoje não me apetece escrever. Tenho nada para contar ou dizer e tenho cansaço que sobra. Caiu um cinzento em mim que me tolhe o pensamento e os dedos. Por isso as palavras não saem. Um cinzento estranho quase chumbo que há muito não sentia. É por isso que hoje não me apetece escrever. E no entanto preciso tanto de te falar de deixar sair pela boca as palavras que não queres ouvir as palavras que já deviam ter sido ditas no tempo certo. Mas também não sei quando é o tempo certo para te falar porque tu és hábil a fugir a assuntos ou temas que não te agradam. Daí o meu cansaço que sobra. E por isso hoje não me apetece escrever.