Sunday, September 29, 2019

Petição de repúdio e exigência de que se trave e abandone a anunciada criação do «Museu Salazar», com esse ou outro nome, em Santa Comba Dão

Petição de repúdio e exigência de que se trave e abandone a anunciada criação do «Museu Salazar», com esse ou outro nome, em Santa Comba Dão

Para: Exmº Senhor Presidente da Assembleia da República

O projecto da reabilitação da figura de Salazar e do fascismo, que cumpre denunciar já foi travado há anos atrás, na sua primeira versão. Agora, perante a amplitude da indignação que suscitou e suscita, reaparece de novo, encenado e refugiando-se, desta vez, com designação e dimensão pretensamente mais ampla e com contornos de investigação e critérios académicos mas sem iludir o objectivo prosseguido, de sediar em Santa Comba Dão um “museu” ao ditador, adoptando a designação de “Centro de Interpretação do Estado Novo”, projecto que a Assembleia da República já condenou em 2007 e agora, de novo, o reafirma na Comissão Permanente reunida a 11 de Setembro de 2019.

Nesse sentido, as cidadãs e cidadãos que se identificam e assinam a presente Petição, vêm solicitar ao Senhor Presidente da Assembleia da República e aos Senhores Deputados que, no início da nova legislatura, efectuem as diligências necessárias, no respeito pelos valores inscritos na Constituição da República, para que tal ofensa aos portugueses em geral, e em particular à memória dos milhares de vítimas do regime fascista do «Estado Novo», seja definitivamente travada e abandonada.

Considerando os sinais concretos do desenvolvimento de forças fascistas e fascizantes por toda a Europa (e não só), a criação de um museu como o anunciado em Santa Comba Dão, não será apenas um depósito do espólio do ditador Salazar, mas um centro de conspiração contra a Democracia e o Portugal de Abril.

O “museu” não vai ser “um local de estudo e um centro interpretativo do Estado Novo” como proclamam os seus defensores, mas sim um instrumento para congregar saudosistas do passado e assumir-se como centro de divulgação e acção enquadradas na matriz corporativa/fascista que a maioria do Povo sofreu sob o “Estado Novo”.

Para fazer a história do “Estado Novo” existem já os baluartes e projecto da resistência e luta pela Liberdade em Peniche, no Aljube e outros deverão ser abertos, como a antiga cadeia da PIDE na Rua do Heroísmo, no Porto.

Ao que acrescem razões jurídico-substantivas para que não possa ser uma realidade a criação de tal associação-museu.

De facto, o n.º 4, do artigo 46.º da Constituição da República Portuguesa, proíbe todas as organizações que partilhem a ideologia fascista, esclarecendo a Lei 64/78 de 6 de Outubro, que «são proibidas e não pode exercer toda e qualquer actividade as organizações que mostrem (…) pretender difundir ou difundir efectivamente os valores, os princípios, os expoentes, as instituições e os métodos característicos dos regimes fascistas (…) nomeadamente (…) o corporativismo ou a exaltação das personalidades das mais representativas daqueles regimes.»

Pelo exposto e nos termos do número 1, do artigo 52 da Constituição da República Portuguesa, os abaixo assinados solicitam que a Assembleia da República, em nome do Portugal de Abril, mas também da Constituição da República Portuguesa e da Lei, condene politicamente o processo de criação do “Museu Salazar”, em Santa Comba Dão, e processe as diligências necessárias ao impedimento do intento que tanto ofende a memória dos milhares de vítimas do “Estado Novo” e os Portugueses em geral.

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Primeiros subscritores,
cidadãs e cidadãos, democratas de diferentes sensibilidades, profissões e regiões: médicos; advogados; juristas; operários; escritores; empregados; académicos; autarcas; membros de entidades do turismo; ex-presos políticos; jornalistas; músicos; sindicalistas; professores; estudantes; artistas e militares de Abril que agora vos apelam para que se juntem, assinem e divulguem.


Abílio Fernandes
Adelino Pereira da Silva
Adelino Silva Nunes Pereira
Adilo Oliveira Costa
Aguinaldo Cabral
Albano Nunes
Alberto Lopes Andrade
Alexandre Jorge Almeida
Alfredo Campos
Alfredo Graça
Alfredo Maia
Alfredo Monteiro
Alice Capela
Alice Vieira
Alma Rivera
Almada Contreiras
Álvaro Beijinha
Amadeu Battel
Américo Flor
Amílcar Cardoso
Ana Margarida Carvalho
Ana Souto
Anabela Mota Ribeiro
André Carmo
Aniceto Henrique Afonso
António Antunes - Tó Trips (Dead Combo)
António Avelãs Nunes
António Bernardo Colaço
António Branco
António Ceia da Silva
António Cluny
António Fernandes de Matos
António Figueira Mendes
António Gervásio
António Goulart
António José Martins
António Lopes
António Manuel Simões Ferreira
António Martins
António Matos
António Menano
António Neto Brandão
António Recto
António Redol
António Regala
António Rodrigues Canelas
António Saiote
António Vilarigues
Apolónia Teixeira
Aprígio Ramalho
Armando Myre Dores
Arménio Carlos
Augusto Flor
Avelino Gonçalves
Baptista Alves
Bernardino Soares
Camilo Mortágua
Carlos Campos Rodrigues Costa
Carlos Coutinho
Carlos Gonçalves Oliveira Duarte
Carlos Humberto Pinheiro Palácios de Carvalho
Carlos Manuel Tomé da Costa
Carlos Pinto Sá
Carlos Santos Pereira
Carlos Vale
Carvalho da Silva
Casimiro Menezes
Catarina Pires
Celso Moreira de Oliveira
Cláudio Torres
Conceição Matos
Custódia Chibante
Damião Ribeiro
Daniel Cabrita
Daniel Sampaio
Deolinda Machado
Diamantino Estanislau
Dinis Lourenço
Diniz de Almeida
Diogo Correia
Domingos Abrantes
Domingos Lobo
Dulce Rebelo
Eduardo Gageiro
Emídio Martins
Eulália Miranda
Eva Soares de Pinho da Cruz Leite Freitas
Fátima Amaral
Faustino Reis
Fernando Medina
Fernando Paes
Firmino Martins
Francisco Bruto da Costa
Francisco Canelas
Francisco Dias Pereira
Francisco Duarte Mangas
Francisco Jesus
Francisco Lobo
Francisco Melo
Francisco Mesquita Machado
Glória Maria Marreiros
Gonçalo Lagar
Graciete Cruz
Guilherme da Fonseca
Heitor Sequeira Alves
Hélder Madeira
Helena Pato
Henrique Mendonça
Herculana Velez
Hortênsia Menino
Inês Fontinha
Isabel do Carmo
Jaime Carvalho
Jaime Mendes
Jaime Serra
Joana Dias Pereira
Joana Manuel
Joana Villaverde
João Carlos Lopes Serra
João Correia da Cunha
João Durão Carvalho
João Goulão
João Gralheiro
João Leonardo da Cunha
João Luis Madeira Lopes
João Miguel Judas
João Miranda
João Monge
João Neves
João Português
João Torres
Joaquim Almeida
Joaquim Barata
Joaquim Correia
Joaquim Judas
Joaquim Letria
Joaquim Loureiro
Joaquim Santos
Joaquina Silvério
Jorge Cabral Campos
Jorge Sarabando
Jorge Sario de Matos
José Abreu
José Alberto Quintino
José Barata-Moura
José Costa Neves
José Elio Sucena
José Ernesto Cartaxo
José Jorge Letria
José Goulão
José Lestra Gonçalves
José Lopes de Almeida
José Luís Peixoto
José Manuel Jara
José Manuel Mendes
José Manuel Sampaio
José Pedro Soares
José Santa Bárbara
José Teodósio Cachochas
José Veloso
José Viale Moutinho
José Viola
Josué Marques
Júlia Maria de Almeida Lima e Sequeira Rodrigues
Júlio Dias
Laura Lopes
Levy Baptista
Lídia Jorge
Luís Cília
Luís Farinha
Luís Ferreira
Luís Filipe Lopes Pinheiro
Luís Filipe Pimenta Correia
Luís Miguel Carraça Franco
Luís Simão
Luísa Tito de Morais
Machado dos Santos
Madalena Santos
Manuel Barbosa da Silva
Manuel Begonha
Manuel Condenado
Manuel Freire
Manuel José Costa Oliveira
Manuel Lima Bastos
Manuel Magrinho
Manuel Pedro
Manuel Strecht Monteiro
Manuela Bernardino
Margarida Barbedo
Margarida Taveira
Margarida Tengarrinha
Maria da Piedade Morgadinho
Maria das Dores Meira
Maria João Brilhante
Maria João Luís
Maria José Ribeiro
Maria Lourença Cabecinha
Maria Manuela Antunes da Silva
Mariana Metelo Cunha Lopes
Mariana Rafael
Mariana Silva
Marília Villaverde Cabral
Mário Araújo
Mário de Carvalho
Mário Pereira
Martins Guerreiro
Miguel Amoêdo Canudo
Miguel Boeiro
Miguel Pessoa
Modesto Navarro
Nuno Judíce
Nuno Ramos de Almeida
Nuno Silva
Odete Santos
Osvaldo de Sousa
Otelo Saraiva de Carvalho
Pedro Estorninho
Pedro Fernandes
Pedro Gonçalves (Dead Combo)
Pedro Santos
Pezarat Correia
Pilar del Río
Ribeiro Cardoso
Ricardo Ferraz
Rita Magrinho
Rodrigo Francisco
Rosalina Carmona Pica
Rui Cardoso Martins
Rui Garcia
Rui Mateus
Rui Namorado Rosa
Rui Nunes
Rui Raposo
Rui Solheiro
Samuel Quedas
Santa Clara Gomes
Sérgio Augusto Costa Esperança
Sérgio Dias Branco
Sérgio Machado Letria
Sérgio Manso Pinheiro
Sérgio Ribeiro
Sérgio Vicente
Sílvia Pinto
Silvina Miranda
Susana Sousa Dias
Tarroso Gomes
Teresa Carvalho
Teresa Lopes
Teresa Tito de Morais
Tiago Jacinto
Tiago Mota Saraiva
Tomás Urbano
Tomé Pires
Valter Ferreira
Vasco Lourenço
Vicente Barbedo Gonçalves
Vítor Costa
Vítor Proença
Vítor Zacarias
Vitorino
Zeferino Coelho
 
Link para assinar a petição:
https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=naoaomuseusalazar&fbclid=IwAR3q7F4IkA_8O3dDQnGZlkyGmJWqGQ9ygJVbynOXhnqGOVOTz2Uw9byjoOw

Friday, September 27, 2019

Pequena Elegia de Setembro


Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos poisados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de Setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.


Eugénio de Andrade
(«Coração do Dia» - 1956-1958)

Monday, September 23, 2019

Carta a um Super-herói (II)


Carta a um Super-herói (II)

Esta noite viajámos juntos nos meus sonhos. Passámos a noite acordados a correr, a jogar à bola, a comer gelados, a conversar... rimos muito, abracei-te muito!

Contaste-me as tuas novidades e eu contei-te as minhas: "Sabes, a tia ainda não te disse, mas vais ter mais um priminho... está a crescer forte e só espero que seja um terço do que tu és - Já dizia isso do primeiro e saiu-me melhor que a encomenda - Tu riste-te com aquele teu jeito envergonhado e maroto.

Falaste-me das tuas aventuras todas de Super-T, mostraste-me as tuas medalhas e conquistas. Estás crescido! És um verdadeiro Super-herói! E eu tenho muito orgulho em ti!

O despertador tocou e eu tive de voltar à minha realidade. São 4 meses... e ainda não parece real. Não sei lidar com a tua ausência, não quero lidar com ela. Continuo sem compreender, continuo sem aceitar. Não sei se algum dia isso acontecerá.

Esta música, uma das mais bonitas canções de embalar de sempre, fazem-me lembrar de ti... acho que tu sabes porquê! ;)

Obrigada pelo sonho perfeito, volta logo à noite, sim?

https://youtu.be/PC2-IBgWX1w

Joana Correia

Saturday, September 14, 2019

O mar nos teus olhos



Vives comigo e não te conheço. Apenas sei que o teu pensamento está na Ilha, porque vejo-te mar. Há noites em que sais e só chegas de madrugada, ébria de tudo, e aninhas-te no canto que é teu. Dormes um sono agitado e curto. E o mar nos teus olhos. O vestido de alças descai-te do ombro, e beijo-o. Estás fria. Abraço-te na tentativa de te aquecer. Acendes um cigarro e sais para o jardim, gostas de andar descalça na relva e na terra. E o mar nos teus olhos. Criaste um mundo que é só teu e que ninguém consegue romper. Dizes-te feliz e eu não sei o que é essa felicidade. Sentas-te e escolhes um livro ao acaso, que abres ao acaso. Numa página em branco. Dizes que é a página da tua vida. E o mar nos teus olhos.

Wednesday, September 11, 2019

Homenagem ao povo do Chile


Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Nas suas almas abertas
traziam o sol da esperança
e nas duas mãos desertas
uma pátria ainda criança.

Gritavam Neruda Allende
davam vivas ao Partido
que é a chama que se acende
no povo jamais vencido.
- o povo nunca se rende
mesmo quando morre unido.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Alguns traziam no rosto
um rictus de fogo e dor
fogo vivo fogo posto
pelas mãos do opressor.
Outros traziam os olhos
rasos de silêncio e água
maré-viva de quem passa
uma vida à beira-mágoa.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que tombaram pelo Chile
morrendo de corpo inteiro.

Mas não termina em si próprio
quem morre de pé. Vencido
é aquele que tentar
separar o povo unido.
Por isso os que ontem caíram
levantam de novo a voz.
Mortos são os que traíram
e vivos ficamos nós.

Foram não sei quantos mil
operários trabalhadores
mulheres ardinas pedreiros
jovens poetas cantores
camponeses e mineiros
foram não sei quantos mil
que nasceram para o Chile
morrendo de corpo inteiro.


José Carlos Ary dos Santos

Saturday, September 07, 2019

Festa do Avante 2019

Falta-me o barulho, falta-me o 'respirar', falta-me a multidão, faltam-me os Camaradas, faltam-me as papas de sarrabulho de Viana, a sopa da pedra de Santarém, a sopa de cebola de Vila Real, os doces de Aveiro, o queijo e o salpicão da Guarda, os maranhos de Castelo Branco, o calor da Festa, a poncha e a nikita da Madeira, a morcela com ananás dos Açores, a broa de Avintes com qualquer coisa (podem ser azeitonas) do Porto, o choco frito de Setúbal, os filetes de bacalhau frito e a malga de branco gelado de Braga, o calor da Festa, as tarefas no Palco 25A, a tarefa (importantíssima!!!) no Palco Raízes, os mojitos em Cuba, o calor da Festa, os abraços a e de Camaradas que não vejo há tanto tempo (as vidas mudam, as casas também, a Amizade e o Amor não!), falta-me a cachupa em Cabo Verde, as caipirinhas no Brasil, o café de Timor, o calor da Festa, faltam-me as perguntas de quem lá vai pela primeira vez 'porque é que não pode ser assim todos os dias', falta-me o borrego de Évora e o cante alentejano, o calor da Festa, oh... falta-me tanto...

Friday, September 06, 2019

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Falta-me o barulho, falta-me o 'respirar', falta-me a multidão, faltam-me os Camaradas, faltam-me as papas de sarrabulho de Viana, a sopa da pedra de Santarém, a sopa de cebola de Vila Real, os doces de Aveiro, o queijo e o salpicão da Guarda, os maranhos de Castelo Branco, o calor da Festa, a poncha e a nikita da Madeira, a morcela com ananás dos Açores, a broa de Avintes com qualquer coisa (podem ser azeitonas) do Porto, o choco frito de Setúbal, os filetes de bacalhau frito e a malga de branco gelado de Braga, o calor da Festa, as tarefas na Cidade Internacional, no Palco 25A, a tarefa (importantíssima!!!) no Palco Raízes, os mojitos em Cuba, o calor da Festa, os abraços a e de Camaradas que não vejo há tanto tempo (as vidas mudam, as casas também, a Amizade e o Amor não!), falta-me a cachupa em Cabo Verde, as caipirinhas no Brasil, o café de Timor, o calor da Festa, faltam-me as perguntas de quem lá vai pela primeira vez 'porque é que não pode ser assim todos os dias', falta-me o borrego de Évora e o cante alentejano, o calor da Festa, oh... falta-me tanto...