Monday, July 08, 2013
Confissão
Lembro-me de ter andado neste campo,
de ter sacudido o sol de dentro das espigas,
de ter ouvido ao longe alguém rir e depois o silêncio,
de sentir que nada se passava ao passar pelos muros,
de não ver ninguém e era a tarde a começar,
de fechar os olhos para me libertar do azul,
e de os abrir como se o céu tivesse outra cor,
de olhar para uma casa como se alguém a habitasse,
e de saber que as janelas se abrem para ninguém,
de perguntar de onde veio a flor que colheste,
sem me lembrar que é o tempo das flores,
de te perguntar quem és sem ouvir uma palavra,
e de ouvir tudo o que a tua respiração me diz,
de teres pousado a cabeça no chão
como se a terra te dissesse um segredo,
e de ter adivinhado o que a terra te disse
quando te olhei, e o teu rosto dizia tudo.
Nuno Júdice
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
5 comments:
Maravilha!
Beijinhos, Maria :)
mariam
... e saudades de por aqui pass(e)ar :)
mariam
belíssimo.
excelente partilha.
beijo
Belo texto
Bjs
...de uma beleza ímpar!
Post a Comment