Saturday, January 18, 2014

Memória de Ary dos Santos


Ecce Homo  

Desbaratamos deuses, procurando
Um que nos satisfaça ou justifique.
Desbaratamos esperança, imaginando
Uma causa maior que nos explique.

Pensando nos secamos e perdemos
Esta força selvagem e secreta,
Esta semente agreste que trazemos
E gera heróis e homens e poetas.

Pois deuses somos nós. Deuses do fogo
Malhando-nos a carne, até que em brasa
Nossos sexos furiosos se confundam,

Nossos corpos pensantes se entrelacem
E sangue, raiva, desespero ou asa,
Os filhos que tivermos forem nossos.

Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'


No 30º aniversário da sua morte.

5 comments:

OUTONO said...

Uma poesia feita de luta e honra, única!
Bem partilhado, neste dia.
Beijo!

Justine said...

Do lado luminoso e coerente da vida!

Manuel Veiga said...

excelente escolha - um belo poema que dá toda a "dimensão" do Ary...

beijo

Cristina Caetano said...

Pois somos... :)

Boa semana, Maria! Beijinhos

bettips said...

Já o disse, assim ou de outra maneira: homem terno e querido. Este poeta das noites cansadas e dos dias imensos.
Abç