Saturday, June 11, 2016

O comum da terra



Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias mastros lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade
(para Vasco Gonçalves)

2 comments:

Teresa Durães said...

Adoro EA e escolheste um excelente poema!

Branca said...

Bela homenagem! Dois grandes homens aqui juntaste Maria!

Beijinhos.
Branca