Saturday, April 15, 2017

Poema de Abril


A farda dos homens
voltou a ser pele
(porque a vocação
de tudo o que é vivo
é voltar às fontes).
Foi este o prodígio
do povo ultrajado,
do povo banido
que trouxe das trevas
pedaços de sol.
Foi este o prodígio
de um dia de Abril,
que fez das mordaças
bandeiras ao alto,
arrancou as grades,
libertou os pulsos,
e mostrou aos presos
que graças a eles
a farda dos homens
voltou a ser pele.
Ficou a herança
de erros e buracos
nas árduas ladeiras
a serem subidas
com os pés descalços,
mas no sofrimento
a farda dos homens
voltou a ser pele
e das baionetas
irromperam flores.
Minha pátria linda
de cabelos soltos
correndo no vento,
sinto um arrepio
de areia e de mar
ao ver-te feliz.
Com as mãos vazias
vamos trabalhar,
a farda dos homens
voltou a ser pele.

Sidónio Muralha

4 comments:

Manuel Veiga said...

beijo, Maria.

25 de Abril. Sempre!

Justine said...

Forte e belo, Maria! Obrigada

Jaime Portela said...

Um grande poema.
Obrigado pela partilha.
Vinte e cinco de Abril, SEMPRE.
Boa semana, amiga Maria.
Beijo.

Mar Arável said...

Roubem-me tudo menos as boas memórias
Bj