Saturday, May 19, 2018

RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA





Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.


Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.

Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.

Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.

José Carlos Ary dos Santos

13 de Fevereiro de 1928
19 de Maio de 1954

Thursday, May 17, 2018

A espera dos que voltarão


Meu povo plantou suas tendas na areia
E estou acordado
com a chuva
Sou
filho de Ulisses aquele que esperou o correio do Norte  
Um marinheiro me chamou, mas eu não parti
Atraquei o
barco e subi ao cume de uma montanha

- Ó rocha sobre a qual meu pai orou 
 Para que fosse abrigo do rebelde 
 Eu não te venderia por diamantes  
Eu não partirei  
Eu não partirei
As
vozes dos meus fendem o vento, sitiam as cidadelas
 
- Ó mãe, espera-nos no umbral  
Nós voltaremos  
Este tempo não é como eles imaginam
O
vento sopra segundo a vontade do navegante
E a
corrente é vencida pela embarcação  
Que cozinhaste para nós? Voltaremos
Roubaram as
jarras de azeite Ó mãe, e os sacos de farinha

Traz as ervas dos pastos, traz
Temos
fome
Os
passos dos meus ressoam como o suspiro das rochas  
Debaixo de uma mão férrea
E estou acordado
com a chuva  
Em vão perscruto o horizonte
Permanecerei na
rocha...  debaixo da rocha...  
inquebrantável

Mahmoud Darwish