O meu pai partiu e está a ser difícil escrever. Não sei por onde começar. Há muita coisa que quero dizer, porque o meu pai levou uma vida cheia. Fez coisas bonitas. Basta ir à sua página para se perceber o legado que deixou. Recebi mensagens lindas, comoventes e que me enchem de orgulho. Mais do que falar do Capitão de Abril, queria falar-vos do Pai que foi. E foi um super pai. Presente, preocupado com a nossa educação, atento, mas extremamente carinhoso e afetivo. Era alegre e tinha imenso sentido de humor. Um contador de histórias fabuloso.
Geriu sempre de forma inteligente os conflitos habituais e naturais entre os filhos. Era justo. Eu e a minha irmã somos grandes amigos e isso dava-lhe imensa felicidade. Sempre falou de nós com imenso orgulho. Castigado pela vida dura que levou, dizia-nos muitas vezes: " Filhos, a vida é luta!". Queria preparar-nos, queria poupar-nos do sofrimento. Incentivou-me a ir para o Colégio Militar. Nunca me obrigou, mas eu fui. Agradeço-lhe por isso. É uma Escola de Valores. Ganhei amigos para a vida.
Fui colega do meu pai no curso de medicina dentária. Foi da minha turma e o meu parceiro nos anos clínicos. Estudamos juntos. Tinha uma memória incrível. Sempre teve uma excelente relação com colegas e professores. Nunca foi invasivo e dava-me espaço. Sabia quando se retirar. Acabou o curso de Medicina Dentária aos 56 anos, depois de um curso de Psicologia Clínica, mas era, como ele gostava de dizer: "Acima de tudo, Militar". Era um homem muito generoso, desapegado dos bens materiais. As injustiças sociais incomodavam-no. Tomava, invariavelmente, partido dos mais fracos. Era extremamente leal aos seus amigos, mas não perdoava a traição. Era um homem de esquerda. Sempre foi. Tinha uma coragem incrível. Era destemido e frontal. Fez parte de uma das mais belas páginas da História do século XX Português, que foi o 25 de Abril de 1974. No 11 de Março venceu e no 25 de Novembro saiu vencido. Caiu e levantou-se, sempre de cabeça erguida. A vida é luta, pai! Escreveu 3 livros, que são referências bibliográficas incontornáveis desse período da História de Portugal, e que o eternizam.
Hoje parte aos 76 anos, mas deixa um legado e uma memória que muito nos orgulha. Hoje perdi um amigo. O maior e o mais leal de todos.
Com todo o amor do teu filho,
Ricardo Dinis Almeida
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