Adriano Correia de Oliveira
não sei cantar para ti como cantaste
numa noite coimbrã de fogo aceso
corações eles foram tantos que tocaste
tal o meu também voando estando preso
vens de um tempo das afrontas sufocadas
de grilhões prendendo mãos e pensamento
nesse tempo em que ao som de guitarradas
descobrimos ser tão livres como o vento
era um tempo de combate e duras pedras
já cantavam na tão velha escadaria
era negra-negra a noite e as capas negras
mas em cada olhar a esperança se fez dia
na denúncia do algoz soltando amarras
como arauto no combate à força bruta
a tua voz na plangência das guitarras
ia unindo a alma e o corpo à mesma luta
era de Maio essa cor que então cantavas
ou de Abril nesse Inverno descontente
e o calor de rubras flores onde voavas
era o azul de um novo céu de nova gente
eram cores e sons de Abril que já trazias
num assombro de poesias perturbadas
e cantavas naus giestas e alegrias
que fazias ser em nós gume de espadas
à razão deste voz que não se guarda
pressentindo um pulsar que se inquieta
foste o canto a arma e a mão que não se atarda
o percurso firme e tenso de uma seta
ao canto deste a vida e foste esperança
conjugaste em tom diverso o verbo dar
e adivinho o Adriano na criança
que ali corre vida fora junto ao mar
porque somos feitos só de terra e barro
já partiste irmão maior mas entretanto
se nas cinzas se amortalha aquele cigarro
fica em nós presente o grito do teu canto.
Jorge Castro
3 comments:
Homenagem lindíssimo que muito me agradou e encantou ler
Cumprimentos poéticos
Um dos principais responsáveis por gostar de poesia.
Como pode ser possível!
40 anos e está tão presente!
Lembro a emoção que senti quando li pela primeira vez , Menina dos Olhos Tristes.
ficou me sempre na memória.
" Anda bem triste um amigo,
Uma carta o fez chorar
O soldadinho não volta
Do outro lado do mar.
Tantos e tantos que não voltaram.
Obrigada doce Maria por este momento.
Adriano Correia de Oliveira para Sempre
A voz de Adriano continua a calar fundo noa nossos corações, a alma do povo, o seu sofrimento e mágoa e luta por uma vida melhor tão actual e por isso tão ostracizado pelos meios de comunicação social num tempo em que campeia a alienação, a propaganda e a mentira, ler estes poemas é um bálsamo para o nosso espírito. Obrigado.
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