Thursday, June 08, 2023

65.º aniversário de uma eleição fraudulenta em Portugal.



Há 65 anos, no dia de hoje, Humberto Delgado, general da aeronáutica saído das fileiras do Estado Novo, recém-convertido à democracia, fez tremer Salazar e o regime fascista que o sustentava.
A ditadura percebeu nesse dia, nas eleições que o «general sem medo» arriscou disputar, que o voto popular não mais lhe permitia manter a fachada democrática, por maior que fosse a repressão, por mais retaliações que exercesse, por mais restrições que impusesse à liberdade de expressão e à circulação de ideias.
Humberto Delgado galvanizou o País e, quando um jornalista lhe perguntou o que faria a Salazar, se vencesse as eleições, e respondeu “obviamente demito-o”, o país perdeu o medo e entrou em euforia, antes de o regime consumar a fraude e redobrar a repressão.
Após a fraude, que alterou os resultados eleitorais, a ditadura redobrou a vindicta contra opositores, reforçou a censura e endureceu a vigilância e repressão que a Pide, a Legião e a União Nacional sempre tinham usado.
Seguiram-se as prisões, demissões da função pública a funcionários, a perseguição feroz aos oposicionistas, mas a ditadura nunca mais se sentiu segura. Até a lei para a ‘eleição’ do PR deixaria de ser universal. A nomeação de um biltre subserviente era a segurança do regime. Américo Tomás protagonizou, até ao 25 de Abril, o papel do lacaio de que o ditador precisava e que a guerra fria consentiu, indiferente a um país europeu que viveu meio século de ditadura.
O assassinato, em território espanhol, de Humberto Delgado e da sua secretária Arajaryr Campos, por uma brigada da Pide de que faziam parte Rosa Casaco, Casimiro Monteiro e Agostinho Tienza, foi prontamente atribuído pelo próprio Salazar aos comunistas, os suspeitos do costume e as maiores vítimas da ditadura.
Hoje, sessenta e cinco anos depois, recordar Humberto Delgado é homenagear a sua coragem e determinação, a sua entrega à democracia e o sacrifício da vida, e agradecer a todos os que, durante a longa noite fascista, se bateram por um Portugal livre e democrático.
Glória a Humberto Delgado!
Carlos Esperança
https://pt.wikipedia.org/wiki/Elei%C3%A7%C3%B5es_presidenciais_portuguesas_de_1958

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