Das memórias...
Em 12 de Março de 1962, FAZ HOJE 62 ANOS,
a RÁDIO PORTUGAL LIVRE dava início às suas emissões.
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UMA VOZ QUE O FASCISMO NUNCA CONSEGUIU CALAR
No
início de 1962, inserida na luta de resistência ao fascismo e como reforço à imprensa clandestina, o PCP decidiu criar a Rádio Portugal Livre.
Assim, em 12 Março de 1962 a Rádio Portugal Livre iniciou as suas emissões e durante 12 anos manteve emissões diárias de meia hora, que iam para o ar 4 vezes por dia; aos domingos uma emissão que era dirigida especialmente aos camponeses e aos agricultores; e aos sábados uma emissão ("A Voz das Forças Armadas") dirigida às forças armadas.
Hoje pode-se revelar, sem transgredir regras de segurança que então eram necessárias, que os emissores da RPL estavam instalados na Roménia e que foi a partir de Bucareste (quando se dizia que era de Moscovo ou de Praga) que foi lançada “no ar” de Portugal, desde a primeira até à última emissão.
Durante os 12 anos e meio da sua existência, a pequena redacção da RPL trabalhou em condições de completa "extra-territorialidade", como se estivesse instalada em território português, e com total independência quanto à sua orientação e à organização do seu trabalho.
Durante esses 12 anos e meio, a Rádio Portugal Livre foi a voz livre dos que, cá dentro, não podiam falar livremente. Era uma voz que vinha de longe, é certo, mas que era ouvida bem de perto, com o ouvido colado à onda curta, abafando os sons que pudessem levar à sua detecção na noite ainda a dormir, ou na madrugada por acordar.
Contra essa voz, foi montado um autêntico arsenal técnico de interferências, numa orquestração de ruídos estridentes e confusos, por vezes de um agudo tão metálico que parecia querer furar os tímpanos de quem a escutava. Nessa infame “missão”, à colaboração dos emissores da "Voz da América", localizados no Ribatejo, juntaram-se os serviços de rádio-comunicações das Forças Armadas, numa tentativa desesperada para calar aquela voz que inquietava, que agitava, que acordava consciências...
O contacto permanente com o País, através das notícias enviadas pelo Partido, foi o principal suporte do trabalho diário na RPL. Eram notícias que passavam de mão em mão, por muitas mãos, atravessando muitos perigos e fronteiras, até chegarem às mãos de quem as iria fazer chegar a todo o país. Não teria sido possível alimentar os programas de uma rádio com emissões diárias, sem esse suporte de informações colhidas por todo o país, através da organização do PCP, em fábricas, empresas, escolas, quartéis, cidades, vilas e aldeias.
Em Outubro de 1974, por se considerar que já existiam condições para consolidar a democracia conquistada com o 25 de Abril, a RPL terminou as suas emissões. E a sua última emissão acabou com a seguinte frase: "Esperamos que nunca mais seja necessário haver uma rádio clandestina, para que o povo português saiba o que se passa no seu próprio país".
Isaura Moreira
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© António Domingues - Rádio Portugal Livre, Gravura