Sunday, December 21, 2014

NATAL DE 1971


Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem traz às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num mundo todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando ao longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Ou dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?


Jorge de Sena

6 comments:

Rogério G.V. Pereira said...

Este poema
é de um Natal
tão actual...

Mar Arável said...

Tudo pelo melhor

Manuel Veiga said...

Beijo, querida Amiga

Feliz Natal para ti e aqueles que amas.

Elvira Carvalho said...

Que pena que este poema continue atual em pleno século XXI.
Um abraço

Luis Eme said...

apesar de tudo, um Feliz Natal, Maria e que 2015 nos traga mais democracia e bem estar.

abraço

Teresa Durães said...

Natal deturpado, esquecido, esmagado.

É triste

(mas, de qualquer maneira, boas festas para ti)