Saturday, June 22, 2019

Carta a um Super-herói

Carta a um Super-herói

Faz hoje 7 anos e 1 mês que te vi pela primeira vez. Quando soube que estavas quase a nascer, deixei tudo e corri para ser das primeiras pessoas que tu visses, para que soubesses logo ali que poderias contar comigo para tudo. E poucos minutos depois de vires ao mundo, ali estava eu a contemplar-te, completamente apaixonada e rendida aos teus olhos rasgados e feições perfeitas. Foi a primeira vez que senti o mais puro amor incondicional.

E desde então foi um crescendo de amor. Pelos teus olhos e sorriso via-se o amor que te envolvia, a felicidade nos teus passos confiantes, a inteligência em cada aprendizagem tua, a doçura na tua voz e a alegria em tudo o que fazias.

Lembras-te dum dia que estávamos os dois sentados no sofá a conversar, tinhas uns 5 anos e o teu primo meia dúzia de meses e tu, a olhar para ele me dizes: "Ó tia, porque não tiveste o primo mais cedo para eu poder brincar mais com ele..." e que resposta te poderia dar?! "Tens razão, meu amor, mas agora vais ter muito tempo para brincar com ele." E se brincaram... e que paciência a tua... porque ele não te largava um instante! Nele vejo muito de ti... no que veste, nos brinquedos e nas brincadeiras, mas acima de tudo no olhar, no mesmo olhar feliz!

Tenho pensado muito nessa resposta que te dei e numa frase que o teu tio costuma dizer: "Temos uma vida toda para isso..." e acabamos por ir adiando as coisas. Contigo aprendi que não se pode adiar, que o que é agora amanhã pode já não ser. Dói-meu saber que não te liguei para me contares como foi conheceres os jogadores do Benfica (mas vi o video umas 30 vezes), que não te disse vezes suficientes que te adorava e que tinha muito orgulho em ti e no Super-T em que te transformaste, "até porque, achava eu, iríamos ter uma vida toda para isso..."

Custa-me pensar naquilo que não fizeste e no tanto que ainda tinhas para fazer. No almoço de aniversário do teu pai; na festa de pijama que íamos fazer em minha casa; no passeio ao jardim zoológico com o teu primo e os teus avós; na tua festa do 7º aniversário (e todas as seguintes) com todas as pessoas que te adoram; no aprenderes a ler e a escrever; o ver-te tornar adolescente e depois num homem. Era assim que deveria ser... tinhas tanto para ser, para viver!

Sabes Super-T, este mês tem sido muito difícil. Com toda a certeza o mais difícil da minha vida. Quando me perguntam: "Está tudo bem?" A minha resposta imediata é "Está tudo bem, obrigada!", mas por dentro só eu sei como estou destroçada. A vida não é a mesma, não pode ser a mesma! Partiu contigo uma parte de mim.
Quero muito acreditar que um dia vou voltar a ver esse teu sorriso a dizer: "Olá tia, tive saudades tuas!" e abraçar-te até tu te fartares.

Ahh... e não te preocupes, estamos todos a tomar conta dos teus pais e da tua mana e a tentar que os dias deles voltem a amanhecer a sorrir...

Se não te importares, de vez em quando vou-te escrevendo estas cartas para sentir que estamos sempre juntos.

Beijinhos da tia que te adora!!!

Ps. Quando tiveres matado essas saudades todas do avô Zé e tiveres um tempinho livre, manda um pouco desses teus super-poderes, que aqui em baixo estamos a precisar.

Joana Correia

3 comments:

Elvira Carvalho said...

Emocionante.
Abraço e bom Domingo

Teresa Durães said...

Digam não à exploração do lítio na serra de Arga!

Teresa Durães said...

Acorda! Acorda, a vida não é feita dessa gente, de A a Z, acorda! A vida são árvores de fruto e as que nos dão oxigénio, água potável, insisto, água potável, não haverão animais, estão em extinção, acorda, de A a Z são todos iguais, ignoram o futuro, querem ouro branco, o Litium, acorda, vão dar cabo da nossa natureza, da nossa água, de A a Z, acordem, os cientistas dizem que em 2050 não temos mundo e não há plano B, não há escapatória, terei 80 anos, mas há as crianças de agora que têm direito à vida, não a minha que já a vivi, a deles, acordem, de A a Z, acordem.