O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gásluz e telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açucar
do pão
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
So cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema senhores,
não fede
nem cheira.
Ferreira Gullar
3 comments:
Está tudo caríssimo, rsrssr. Gostei do poema
.
Cumprimentos poéticos.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
Peço desculpa, mas este soneto nasceu da leitura desse poema:
HOJE HÁ VAGAS!
*
No mundo dos versos nascidos de humanos
Descubro um poema que cheira a suor,
Que pode comer-se, que fede a bolor,
Que treme de frio coberto de panos,
*
Que pinga das bicas, que escorre dos canos
De esgoto da casa de um trabalhador
Que ostenta as mazelas sem qualquer pudor,
Que geme de dor, que desmente os enganos...
*
No mundo dos versos dos homens reais
Se sonhos encontro, procuro bem mais
Do que fantasias com asas douradas
*
E se por achá-lo todos vós me achais
Inconveniente ou rebelde demais,
Replico "hoje há vagas": portas arrombadas!
*
Mª João Brito de Sousa
03.02.2022 - 15.45h
Obrigada, Maria João. Beijinho.
Post a Comment