A noite é uma selva de ruídos silenciosos,
um mar escuro que afogou a luz do sol
e nos permite repousar as faces inundadas
em busca de outra margem. Em cada noite os
meus amigos estão diante de mim e a liberdade
vai crescendo no meu sono e nos meus pulsos.
Ah!, a liberdade é uma semente, é um grão de
quase nada que quer florir nos limites e
para isso sonha, trabalhando o silêncio.
E eis porque cantamos na noite enquanto
forjamos espadas, publicamos livros, amando
mais, amando sempre, construindo impossíveis
como se erguêssemos pontes para festejar
a luz. Um dia amamentámos a revolução como
se fosse uma filha, com um jeito terno e quase
maravilhado. E as nossa mãos florescem agora
que conhecemos o caminho e todas as mágoas
que nos permitiram amar sem recriminação,
mas também o orgasmo dos corpos, das ideias
e dos braços que, movendo altíssimas montanhas
nos encheram já os olhos de ternura. Eu amo
a noite, sim. Essa madrugada do dia que virá.
Joaquim Pessoa
1 comment:
Uma perda tão grande do homem que nos deixou, com tantas palavras, tanta ternura, tantos sentimentos.
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