Um dia estava quente em casa e abri a janela. Encontrei uma ilha com cheiro. Diz-me semente e flor ao vento, vagabundo e príncipe sem tino, amante e menino. Deixei que a porta ficasse sempre aberta para deixar passar as cores e a pele dos vestidos. À noite, ouvia-se um andar pesado, uma gargalhada única e sempre futuro. Comia-se queijo e bebia-se vinho. E a casa continuava quente. E a janela pintava mares e rios e passos de princesa. Lembro-me bem desse dia, em que vestia uma camisola de gola alta castanha e o meu olhar procurava na multidão. E depois no lume de tantos versos. E depois na silêncio de tantas fugas. O calor, esse, invadiu-me o corpo e adormece-me a inquietação.
Pedro Branco
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