Princípio do fim de Salazar começou a 3 de Agosto de 1968
Hilário emprestou-lhe o «Diário de Notícias». O ditador de Santa Comba Dão, que governava o país com punho de ferro e era «muito cabeça no ar», como recordava o seu barbeiro Manuel Marques, deixou-se cair para uma cadeira de lona.
Com o peso, António Oliveira Salazar tomba para trás. Com violência, cai no chão e a cabeça dá uma pancada nas lajes do terraço do forte onde anualmente passava as férias, acompanhado pela governanta, Maria de Jesus, a famosa D. Maria.
D. Maria, e Hilário, que estava a lavar as mãos numa bacia, precipitam-se para Salazar. Ele levanta-se, atordoado. Queixa-se de dores no corpo, mas pede segredo sobre a queda nem quer que chamem os médicos - é o que conta Franco Nogueira, no livro «Salazar, Volume VI - O Último Combate (1964-70)».
Outra testemunha, o barbeiro Manuel Marques, contou Fernando Dacosta, na revista Visão, em 1998, contraria esta tese. Afinal, Salazar não caiu na cadeira de lona, já desaparecida, mas tombou no chão desamparado.
Diz o barbeiro que Salazar «não se apercebeu, nessa manhã que a cadeira, onde se deveria instalar, se encontrava fora do sítio». «O dr. Salazar era muito educado, mas muito cabeça no ar», lembra.
A vida de António Oliveira Salazar prossegue normal. Hilário trata as unhas do ditador e só três dias depois é que o médico do presidente do conselho com o que se passou ao seu médico, Eduardo Coelho.
A 19 de Agosto, embora mal disposto, o chefe do executivo vai ao Palácio de Belém para assistir à posse daquele que viria a ser o seu último governo.
Só 16 dias depois, a 04 de Setembro, Salazar admite que se sente doente - «não sei o que tenho». A 06 de Setembro, à noite, sai um carro de São Bento. Com o médico, Salazar e, no lugar da frente, o director da PIDE, Silva Pais.
Envolto na noite e em segredo, a Censura encarregava-se de evitar qualquer notícia, Salazar é internado no Hospital de São José e os médicos não se entendem quanto ao diagnóstico - hematoma intracraniano ou trombose cerebral - mas concordam que é preciso operar, o que acontece a 07 de Setembro.
Só nesse dia sai o primeiro boletim clínico e se resume a uma frase: «O sr. Presidente de Conselho foi operado esta noite de um hematoma, sob anestesia local, encontrando-se bem».
A 16 de Setembro, o ditador desmaia, no Centro de Saúde de Benfica, onde ficou internado, e a situação agrava-se com uma hemorragia no cérebro. A médicos e até ao Cardeal Cerejeira é exigido segredo.
Nove dias depois, o presidente Américo Tomás é informado pelos médicos de que «a vida política de Salazar está terminada» e começam os contactos para formar um novo governo.
A 26 de Setembro, Tomás anuncia a substituição de Salazar e no dia seguinte Marcelo Caetano toma posse. O ditador tinha governado Portugal 40 anos, quatro meses e 28 dias.
O país é informado da substituição de Salazar por Marcelo, que dá início a uma tentativa de abertura do regime, mas o professor de finanças públicas foi o único a pensar que ainda estava na cadeira do poder.
A encenação à volta do ex-presidente do conselho deposto durou ainda dois anos.
«Há uma ficção de tragédia posta em teatro: Salazar vivendo na residência oficial do chefe de Governo. Salazar recebendo ministros, embaixadores, jornalistas estrangeiros. Salazar discutindo política, concedendo entrevistas. E Salazar sendo somente um grande inválido despojado de todo o poder terreno, cidadão como os outros, sem dúvida carregado de passado, de história, de simbologia nos seus princípios, e do poder próprio de uma autoridade moral», escreve Franco Nogueira.
A 15 de Julho de 1970, é acometido por uma grave «doença infecciosa» e 11 dias depois Salazar agoniza com perturbações cardiovasculares, funções renais, edema pulmonar. Gomes Duarte, pároco da Estrela, dá-lhe a extrema-unção.
Os médicos declararam a morte de António Oliveira Salazar às 09:15 de 27 de Julho de 1970. Morreu aos 81 anos.
Diário Digital / Lusa
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