Monday, February 24, 2014
No dia de hoje
No dia de hoje não falo de inquietação
Falo-te de um rio, fonte de vida
Tão pouco falarei da rouca solidão
Prefiro dizer-te a palavra sentida
que se solta das mãos, talvez sofrida
Sei-te homem vagabundo poeta menino
Solidário amigo pássaro e jardim
Sonho vertigem estrada e peregrino
Casa de todos aromas e cores, enfim
saberás um dia assim de mim?
Rasgo o meu peito em palavras de amor
Marés de ir e vir do teu cansaço
Na fogueira de lágrimas calamos a dor
No silêncio aflito o cheiro a sargaço
e no sangue do grito somos o abraço.
Sunday, February 23, 2014
Wednesday, February 19, 2014
Abismo
De tanto cerrar os dentes trinquei o coração.
Que sangra sem parar, como um rio.
Quando nos perdemos. Porque deixei de te ver.
Não sei dos trilhos que caminhas nem das árvores que te abrigam.
Sei de um rio, verde-sangue. Mas não sei da foz nem da fonte.
Perdi-me no meio do nada e não encontro o caminho.
Não sei regressar-me. Os meus passos levam-me à falésia.
E à vertigem. O abismo. O sim e o não.
O silêncio é total e ensurdeço. Nem te oiço.
Mas cheiro-te. E tu salpicas-me de lágrimas. O mar em frente.
Deixo-me cair devagarinho e adormeço.
Sei que quando a maré começar a subir virás lamber-me os pés…
Friday, February 14, 2014
Porque é preciso cantar!
CANTA
Atreve-te a julgar. Julga os outros julgando-te a ti mesmo.
A natureza das coisas é a tua natureza. Respira-te, despe-te,
faz amor com as tuas convicções, não te limites a sorrir
quando não sabes mais o que dizer. Os teus dentes
estão lavados, as tuas mãos são amáveis, mas falta-te
decisão nos passos e firmeza nos gestos.
Procura-te. Tenta encontrar-te antes que te agarre a
voracidade do tempo.
Faz as coisas com paixão. Uma paixão irrequieta,
que não te dê descanso
e te faça doer a respiração. Aspira o ar, bebe-o com força, é
teu, nem um cêntimo pagarás por ele.
Quanto deves é à vida, o que deves é a ti mesmo. Canta.
Canta a água e a montanha e o pescoço do rio,
e o beijo que deste e o beijo que darás, canta
o trabalho doce da abelha e a paciência com que crescem
as árvores,
canta cada momento que partilhas com amigos, e cada amigo
como um astro que desponta no firmamento breve do teu corpo.
E canta o amor. E canta tudo o que tiveres razão para cantar.
E o que não souberes e o que não entenderes, canta.
Não fujas da alegria. A própria dor ajuda-te a medir
a felicidade. Carrega nos teus ombros os séculos passados e
os séculos vindouros,
muito do pó que sacodes já foi vida,
talvez beleza, orgulho, pedaços de prazer.
A estrela que contemplas talvez já não exista, quem sabe,
o que te ajudou a ser vida de quantas vidas precisou. Canta!
Se sentires medo, canta. Mas se em ti não couber a alegria,
não pares de cantar.
Canta. Canta. Canta. Canta. Canta. Constrói o teu amor,
vive o teu amor,
ama o teu amor. De tudo o que as pessoas querem, o que
mais querem é o amor.
Sem ele, nada nunca foi igual, nada é igual, nada será igual
alguma vez.
Canta. Enquanto esperas, canta.
Canta quando não quiseres esperar.
Canta se não encontrares mais esperança. E canta quando a
esperança te encontrar.
Canta porque te apetece cantar e porque gostas de cantar e
porque sentes que é preciso cantar.
E canta quando já não for preciso. Canta porque és livre.
E canta se te falta a liberdade.
Joaquim Pessoa
Saturday, February 08, 2014
Recomeça...
Recomeça…
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
Miguel Torga
Saturday, February 01, 2014
ENTRE NÓS
Entre nós o verde sangue
Derramado nas searas
De um país cansado e exangue
E o vermelho da esperança
De um povo a levantar-se
E entra na roda da dança
Entre nós a alegria
De
um sorriso de criança
Do nascer de um novo dia
Da ternura de um abraço
Do cio fecundo da terra
Desabrochando sem cansaço
Entre nós sempre a certeza
De termos o futuro na mão
De o agarrarmos sem pressa
Ao som da tua canção
Tocada na mais linda viola
Que tens rente ao coração.
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