as pessoas amam-se logo ali de pés nus na relva húmida bem no início do
verão, amam-se na cama, amam-se no chão. as pessoas amam-se num fio em
que a intranquilidade é um nó.
as pessoas amam os amigos de peito à prova de bala. amam-se assim de coração, e sob as estrelas, nuas ou não.
as pessoas amam-se p'ra sempre apaixonadas ou até amanhã, camaradas.
as pessoas amam a poesia que lhes escrevem, principalmente se por
analfabetos. um dedo, uma língua, ou toda uma praia ao pôr-do-sol na
palma na mão. as pessoas amam a sagração da primavera ou todas as quatro
estações. de quando em quando as pessoas até amam quem lhes diz não.
amam enquanto o amor as separa e talvez menos quando as une. são assim
os humores que nos percorrem por dentro e não raras vezes no peito.
as pessoas amam-se sem intermediários mas precisam deles para receber a primeira carta e sorriem quando amam as letras, principalmente se forem à mão.
as pessoas amam as asas abertas no céu ou a membrana em chamas do inferno porque o purgatório é uma ave engaiolada. as pessoas amam, acima de tudo, existir em mais do que em si próprias e ser casa de alguém.
as pessoas amam-se sem intermediários mas precisam deles para receber a primeira carta e sorriem quando amam as letras, principalmente se forem à mão.
as pessoas amam as asas abertas no céu ou a membrana em chamas do inferno porque o purgatório é uma ave engaiolada. as pessoas amam, acima de tudo, existir em mais do que em si próprias e ser casa de alguém.
Miguel Tiago
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