Wednesday, August 01, 2012

Sem título



primeiro foi a tua roupa interior,
depois levaste os vestidos,
as blusas, a escova de penteares os cabelos após o duche.
depois levaste o corpo que vestias e que despias,
os cabelos, os olhos, finalmente.
depois a casa ficou mais fria,
como um remoinho de coisa nenhuma,
onde tudo se esgota inexoravelmente para o vazio.
depois, mesmo depois de teres ido,
abandonou-me o cheiro que deixaste nos lençóis.

lentamente, vai-se a alma que aqui morava,
e definha a que me habita.
 
Miguel Tiago

6 comments:

trepadeira said...

Às vezes só com muita coragem se consegue seguir em frente.

Um abraço,
mário

Rosa dos Ventos said...

Muito triste...mas bonito!

Abraço

viajantes said...

quanta dor...

beijinho

Elsa

Justine said...

O Miguel Tiago é mesmo um excelente poeta!

C Valente said...

Passei e deixo as minhas saudações amigas e tudo de bom

joão marinheiro said...

Poesia de Alvaro Cunhal sob o nome de Miguel Tiago. Quanta sensibilidade nas suas palavras. Abraço a norte.