Tuesday, December 11, 2007

Levei um soco no estômago...

(Recebi este email há um par de horas. Achei que o devia partilhar...)

Entrei apressado e com muita fome no restaurante.
Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha naquele dia atribulado para comer e consertar alguns bugs de programação de um sistema que estava desenvolvendo, além de planejar minha viagem de férias, que há tempos não sei o que são.
Pedi um filé de salmão com alcaparras na manteiga,uma salada e um suco de laranja, pois afinal de contas fome é fome, mas regime é regime, né? Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim:
- Tio, dá um trocado?
- Não tenho, menino.
- Só uma moedinha para comprar um pão.
- Está bem, compro um para você.
Para variar, minha caixa de entrada estava lotada de e-mails. Fico distraído vendo poesias, as formatações lindas, dando risadas com as piadas malucas. Ah! Essa música me leva a Londres e a boas lembranças de tempos idos.
- Tio, pede para colocar margarina e queijo também?
Percebo que o menino tinha ficado ali.
- OK, mas depois me deixe trabalhar, pois estou muito ocupado, tá?
Chega a minha refeição e junto com ela o meu constrangimento. Faço o pedido do menino, e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto ir. Meus resquícios de consciência me impedem de dizer. Digo que está tudo bem.
- Deixe-o ficar. Traga o pão e mais uma refeição decente para ele.
Então o menino se sentou à minha frente e perguntou:
- Tio, o que está fazendo?
- Estou lendo uns e-mails.
- O que são e-mails?
- São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via Internet.
Sabia que ele não iria entender nada, mas a título de livrar-me de maiores questionários disse:
- É como se fosse uma carta, só que via Internet.
- Tio, você tem Internet?
- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.
- O que é Internet, tio?
- É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem tudo no mundo virtual.
- E o que é virtual, tio?
Resolvo dar uma explicação simplificada, novamente na certeza que ele pouco vai entender e vai me liberar para comer minha refeição, sem culpas.
- Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.
- Legal isso. Gostei!
- Mocinho, você entendeu o que é virtual?
- Sim, tio, eu também vivo neste mundo virtual.
- Você tem computador?
- Não, mas meu mundo também é desse jeito... Virtual. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas eu não entendo, pois ela sempre volta com o corpo. Meu pai está na cadeia há muito tempo. Mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida muitos brinquedos de Natal, e eu indo ao colégio para virar médico um dia. Isto não é virtual, tio?
Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas caíssem sobre o teclado.
Esperei que o menino terminasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que eu já recebi na vida, e com um 'Brigado tio, você é legal!'. Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!

(vou ali ao lado dois ou três dias. volto logo logo...)

57 comments:

Gi said...

Um soco bem forte, tive a mesma sensação quando tive conhecimeno deste texto. Dá que pensar mas sobretudo para "repensar" . Vivemos uma vida virtual mas não somos "virtuosos" ...

Beijos Maria Sereia

O Sibarita said...

Fia ô fia! kkkkkkkkkkkkkkkkk

Como você posta, heim? Sei não... essa moça tem que morar na Bahia, faça fé! kkkkkk

Que texto demolidor! Não há o que comentar ele por si só fala, demais!

Oi Deixa os zoios da minha Gueixa sua menina, que implicância! kkkkk

Você fique esculhambando o olhar dela depois que ela lhe der um golpe de judô, karatê e até de capoeira (Oi ela já aprendeu capoeira, foi eu quem ensinou, viu? kkk) ai você vá se queixar a minha Cumadi! kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

bjs
O Sibarita

Isamar said...

Esta é a realidade de muitos meninos em muitas partes do mundo. Um mundo de contrastes, de hipocrisia, de injustiça... levei um soco no estômago, levo um soco no estômago quando dou conta do dinheiro que se esbanja, por exemplo, em armamento e sei que ele daria para acabar com a fome no mundo. Acabemos com o consumismo desenfreado que a uns engorda e a outros não chega para matar a fome.
Natal é isto. Minorar sofrimento, ouvir, partilhar sentires...
Beijinhosssss

O Profeta said...

Conheço o e:mail, é realmente um soco no estomago querida amiga...

Doce beijo

amigona avó e a neta princesa said...

`´E maria, o pior é que esta história virtual retrata muitas histórias reais ainda piores1 Beijo querida e tudo de bom!

eu said...

Maria! Este mail deixou-me arrepiada... profundamente arrepiada... um murro no estômago!
Virtual... nossas fantasias...
e a realidade do menino... se calhar de tantos meninos... por aí...
Faz bem levar uns "murros" assim para acordar.
beijos Maria
Gosto-Te muitoooooooooooooooo

Berta Helena said...

Já conhecia. Li de novo e voltei a sentir a mesma dor.

Sol da meia noite said...

Maria, obrigada por dares a ler...
É de sentir vergonha. Quantas vezes inventamos problemas, talvez por não sabermos o que são problemas de verdade; situações complexas como esta, que dá a este menino uma extrema clarividência e a capacidade de a simplificar.

Beijos

LuzdeLua said...

Um soco bem dado.
Que coisa linda e triste viu. Não conhecia, mas amei.
Obrigada por partilhar.
Deixo-te um beijo com carinho.
Bjs

Teresa Durães said...

a verdade crua é o que vejo...

Luis Eme said...

Não senti nenhum soco, porque sei que esta a realidade de milhões de crianças, inclusive no nosso país.

O "soco" que levo, é ver que se está a voltar ao tempo de Salazar, em que havia a mania de se esconder os pobrezinhos, Maria...

abraço

Leticia Gabian said...

Maroca,
Era preciso um soco no estômago, bem assim, a cada dia... Pra que a gente nunca se desviasse os olhos e atenção dessa realidade cruel.

Beijo grande, amiga

Cristina Caetano said...

Maria, tenho certeza de que esse email é brasileiro, infelizmente. E esse menino teve muita "sorte", já que o mêdo assalta a todos nós quando vemos um menino de rua, especialmente no Rio de Janeiro, onde normalmente os meninos de rua, são pivetes (bandidos) que assaltam sem dó nem piedade, e os outros, que têm fome acabam "perdendo", porque fugimos apavorados de uma possível aproximação.

O estatuto da criança e do adolescente que deveria proteger essas crianças tem muitas falhas e dentre elas permite que crianças durmam nas ruas, e por ali perambulem o dia inteiro sem serem obrigadas a passarem o dia numa escola. Eles não podem (é lei) serem obrigados a deixarem as ruas, que escolheram como moradia. A minha explanação do assunto aqui é a mais suscinta possível, há muito mais causas para essa situação descrita no post e há muito mais que deveria ser feito e não é por essas crianças.

Beijinho

jorge esteves said...

As mais fundas lições acabam quase sempre nas histórias mais simples!...

abraço.

C Valente said...

Já conhecia a historia, mas são pequenos gestos como este que podemos fazer alguem feliz, nem que seja por uns momentos
Saudações amigas com um beijo

Licínia Quitério said...

Este é um tempo de grandes socos no estômago. Para quem ainda não perdeu a capacidade de os sentir.

Abraço.

Marias said...

Apesar de me parecer uma história passada no Brasil, infelizmente também aqui, perto de nós, ainda há muitos meninos destes por aí!...
Tenho-me cruzado com alguns ao longo da minha vida... vou fazendo o que posso!...

Quem dera que um dia não precisasses de receber emails destes!...

Beijinhos

Luna said...

Já conhecia,
Mas é a verdade de tanta gente
Infelizmente, tantas vidas que
Se arrastam pela sobrevivência,
E ainda nos queixamos quando
Algo não corre melhor na nossa vida

Beijinhos
luna

AJO said...

Pois foi uma boa ideia publicar o mail... não são preecisas palavras acho que o momento é mesmo de reflexão... volta rápida que fazes falta. BJS e «bom ir»

Ana M. said...
This comment has been removed by the author.
Paúl dos Patudos said...

Sem palavras...
beijo grande
Ana Paula

Ana M. said...

Fui eu que apaguei o comentário.
Deois de voltar a lê-lo pareceu-me fútil, que queres?
A realidade é bem amarga para tantas crianças.
Bom descanso.

Beijinho

M.M said...

Sinceramente, acho que já li ou ouvi isto em qualquer lado...
sem ser no email...
Do ponto vista da forma é um texto sufrível,razoável.
Do ponto de vista do conteúdo, da matéria, pergunto-me... o que traz de novo?.. Nada!
Com certeza já todos nós convivemos, dum modo ou de outro, com a pobreza.
Creio que o pior tipo de pobreza é a pobreza disfarçada.
... Quem, qual de nós?
Eu não sou de máscaras, sorry.:))
Mas sim,compreendo o velho discurso da criancinha, da favela, do coitadinho.
Coitado é do meu colega, licenciado e com mestrado, que já pensa em roubar carteiras lá no emprego para poder continuar a pagar a escola privada, isto é, o ensino «riquinho» da filha.
É destes de quem tenho mais pena. Perdoem-me os que sempre foram pobres.Mas esses não sabem a diferença.
Bjs. Gosto do seu blogue.

Carlos Henrique Leiros said...

Olá...
Eis-me de volta à Ilha, passando de imediato a me inteirar das postagens anteriores [perdi algumas]. Contudo, é sobre esta atual que teço considerações, não sobre a pobreza de bens materiais, esta bem evidente, mas sobre a nossa pobreza interna, que muitas vezes nos faz distantes e insensíveis.
Sou a favor da consciência sem paternalismos. Que se mate a fome primeiramente, mas que a consequência natural seja o fomento à educação. Sem isso, nem as melhores intenções subsistem.
Abraços.
Carlos

andorinha said...

Por vezes são necessários estes socos no estômago, para não deixar que adormeçamos no egoísmo real dos nossos dias virtuais.

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! said...

maria,

já conhecia, noutras versões...
é sempre bom relembrar, especialmente,nesta época em que não se olha a gastos, os que podem... e às mesas fartas, até estragar...

e mais não digo, hoje.

Sobre aquele assunto, sabes que há muito tempo apaguei o comentário, porque não sabia se querias partilhá-lo, mas já colocaste outro.

Voltarei ainda.

beijos

Elvira Carvalho said...

Já conhecia o mail que me enviaram há tempos. A imagem de uma criança com fome sempre nos põe um nó na garganta. Mas há tantas crianças com fome, de que ninguém dá conta...
Um abraço

isabel said...

uma história cada vez mais comum. infelizmente.

beijo maria

♥Serena♥ said...

Bom...
Eu já levei vários "socos" no estômago...acho que levo uns quantos todos os dias...
...

***

maresia_mar said...

Olá querida,
venho repassar a
CAMPANHA, SOU SEU FÃ!!!

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já ganhaste a tua, agora vou
ver se ganho a Minha Também. Passa para os teus AMIGOS,
e ganha mais Estrelinhas também.

amigona avó e a neta princesa said...

Quando voltares tens lá um desafio...beijo,amiga...

BlueVelvet said...

Olá Maria,
não conhecia o mail, mas a sua leitura só me fez recordar mais uma vez, aquela pergunta: Mas as crianças, Senhor, porquê?
Colocar esta situação no Brasil é absolutamente sectário e VIRTUAL, porque cenas destas existem, infelizmente em todos os países, haja em vista o nosso.
Sé se for pelo humor, que apesar de tudo, aquele povo não perde.
Beijinhos

Rosa dos Ventos said...

Arrepiante, chocante e nada virtual!

Abraço

Rui Caetano said...

É de facto muito difícil.

Belzebu said...

Antes fosse um mundo virtual, mas infelizmente é a mais pura das realidades! Talvez por isso é que todos nós sentimos o murro no estômago, quando confrontados com certas situações que nos vão escapando, sempre tão distraídos com as nossas pequenas coisas cheias de nada!

Aquele abraço infernal!

A OUTRA said...

Não é necessário ir longe para ver esses meninos!.
Há milhares tão virtuais como esses, e piores ainda.
Poca gente para para os ver, não há tempo para isso... nem vontade!

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! said...

venho repassar a
CAMPANHA, SOU SEU FÃ!!!

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já ganhaste a tua, agora vou
ver se ganho a Minha Também. Passa para os teus AMIGOS,
e ganha mais Estrelinhas também.beijos


toma mais uma, para a tua árvore, ficar a mais linda...

beejos

Maria P. said...

Que soco!


Beijinho e até...

Maçã com Canela said...

Já conhecia...
É daquelas coisas, para abrirmos bem os olhos...

Um beijinho minha linda...

Nilson Barcelli said...

E que soco no estômago esta história representa.
Obrigado pela partilha.
Beijinhos.

~ Marina ~ said...

Surpreendentemente chocante!

Abraços,

Gerlane

Ana said...

Quantas vezes , na correria dos nossos dias, fechamos os olhos à realidade cruel da vida?
Agradeço-te que me tenhas feito parar um pouco.
Um beijo e ...volta logo, logo.

Anonymous said...

Maria,

Eu também recebi esse mail... A tristeza foi enorme e a lição desta história maior do que eu esperava!

Obrigado por teres feito deste mail um post! Bem hajas!

Beijinhos

APC said...

Perturbador, diria. Muito perturbador.
Beijo.
O link para mim terá de ser alterado. Apagaram-me o outro blog

São said...

Belo e duríssimo texto!
Esperemos que quem tem second life acorde!!!!
Abraço.

eu said...

Então Maria!!!! Demoras muito??
Espero que estejas bem.
beijo Grande

Agulheta said...

Maria. Quem não leva um belo soco no estômago,com um mundo tão distraído,com o superfulo! Outros com o básico,seriam felizes...
Maria agradeço a passagem no meu espaço,adorei.
Beijinho fica bem Lisa

rosa dourada/ondina azul said...

Maria,
Já conhecia mas foi bom voltar a ler.
Há por aí tantos meninos "virtuais".


Beijinho p ti,

Meg said...

Maria
E há quem se sinta feliz no Natal!
Quem pode ser feliz, se tiver olhos na cara e um coração no peito?
Natal feliz, para quem?

Eu vou contigo, Maria!

Beijos

Era uma vez um Girassol said...

Já conhecia o texto, mas é sempre oportuno relembrar!
Então até um dia destes, Maria, diverte-te!
Beijinhos da flor

Hata_ mãe - até que a minha morte nos separe Hugo ! said...

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Sempre achei que o teu blogue, era de 5 estrelas.

jinho

Alice Matos said...

Já conhecia o texto... mas é sempre um aperto forte ao lê-lo...

Beijo para ti...

MIMO-TE said...

Um texto que realmente dá muito que pensar, mas que não surpreende infelizmente...

Mas nunca é demáis lembrar.

Um beijo meu e mimos

rascunhos said...

É bem verdade tudo isto!

...

bjs

Maria said...

Agradeço a todos a vossa passagem por aqui.
Como é costume, não respondo a comentários sobre textos que não são meus. No entanto, o comentário da m.m obriga-me a deixar-lhe duas palavras:

m.m

"Eu não sou de máscaras, sorry.:))"
Também não sou. Os amigos que vêm aqui também não são. Sorry.:))
Aqui não se fala apenas da pobreza, mas da FOME!!!!!! Fala-se de quem dá água a um irmão mais novo para ele pensar que é sopa. É da FOME que se fala aqui.
Tem o Natal possível.

Mais uma vez obrigada.
Beijos

BlueVelvet said...

Maria,
também não sou de comentar comentários de outros.
Por isso, dou-te os parabéns a ti por teres publicado e respondido à M M.
Eu, se calhar tinha-o apagado, porque teria uma certa vergonha de ser visitada por pessoas assim.
A propósito, também sou licenciada, tenho uma post graduação e um Mestrado e também estou desempregada. Mas ainda guardo no coração a sensibilidade para me virem as lágrimas aos olhos quando penso em crianças que sofrem, seja de dor ou de fome.
"Perdoem-me os que sempre foram pobres.Mas esses não sabem a diferença."
Sem mais comentários.
Desculpa ter-me metido no assunto.
Beijinhos

M.M said...

Maria:

Só uma nota de reparo, antes que me crucifiquem, sem apelo, nem agravo. Espero que a contra-resposta seja permitido neste blogue... ou a liberdade não passa por aqui?

Obviamente que ninguém é indiferente à pobreza e à fome das crianças, mas apenas salientei que sou, igualmente, sensível à pobreza e à fome disfarçada de adultos e crianças que um dia tiveram tudo ou quase tudo e, de repente, se encontram com nada ou quase nada.
Espero que desta vez tenha sido entendida e que não tenha ferido a susceptibilidade de ninguém.
Sobre licenciados desempregados só posso ter compaixão e solidariedade e, muita, muita pena que o estado nos proporcione tais situações.
Não entendi, Maria, para quem se destina a sua missiva «tem o Natal possível», mas concordo que é um facto, cada um tem o Natal à medida da sua possibilidade e, não é certamente por isso, que ele será melhor ou pior do que qualquer outro.
E não tem que agradecer a minha visita.
Até hoje,pelo menos, tem sido um prazer.