Friday, April 20, 2012

A um Homem de Abril




"a Vasco Gonçalves”

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias lábios, tudo ardia.

Eugénio de Andrade

9 comments:

Luis Neves said...

Bonito o Poema.
Bela escolha para lembrar o 25 Abril.

Rogério G.V. Pereira said...

Não conhecia
Tal poesia
Nem acto tão empenhado
tão reconhecido
do meu (nosso) poeta

trepadeira said...

Bem apropriado.

Um abraço,
mário

Elvira Carvalho said...

Muito a propósito.
Um abraço e bom fim de semana

A.S. said...

São cada vez mais actuais as palavras do Vasco Gonçalves!...

Um abraço Maria!
AL

Pata Negra said...

E, no entanto, a história demora tanto tempo a erguer as palavras verdadeiras adulteradas pelo lixo da mentira!
Um abrasso da fenda do asso

mfc said...

Era um homem bom...

Luis Eme said...

não conhecia esta homenagem a um ser humano de excepção.

beijinhos Maria

Justine said...

Emociono-me sempre que leio este poema de Eugénio dedicado a a um homem inteiro chamado Vasco Gonçalves, que "habitava o comum da terra"...
Obrigada, Maria