Monday, January 17, 2011

Memória de Ary dos Santos


NÃO PASSAM MAIS


Em nome dos nossos braços
em nome das nossas mãos
em nome de quantos passos
deram os nossos irmãos.
Em nome das ferramentas
que nos magoaram os dedos
das torturas das tormentas
das sevícias dos degredos.
Em nome daquele nome
que herdámos dos nossos pais
em nome da sua fome
dizemos: não passam mais!

E em nome dos milénios
de prisão adicionada
em nome de tantos génios
com a voz amordaçada
em nome dos camponeses
com a terra confiscada
em nome dos Portugueses
com a carne estilhaçada
em nome daqueles nomes
escarrados nos tribunais
dizemos que há outros nomes
que não passam nunca mais!

Em nome do que nós temos
em nome do que nós fomos
revolução que fizemos
democracia que somos
em nome da unidade
linda flor da classe operária
em nome da liberdade
flor imensa e proletária
em nome desta vontade
de sermos todos iguais
vamos dizer a verdade
dizendo: não passam mais!

Em nome de quantos corpos
nossos filhos foram feitos.
Em nome de quantos mortos
vivem nos nossos direitos.
Em nome de quantos vivos
dão mais vida à nossa voz
não mais seremos cativos:
o trabalho somos nós.
Por isso tornos enxadas
canetas frezas dedais
são as nossas barricadas
que dizem: não passam mais!

E em nome das conquistas
vindas dos ventos de Abril
reforma agrária controlo
operário no meio fabril
empresas que são do estado
porque o seu dono é o povo
em nome de lado a lado
termos feito um país novo.
Em nome da nossa frente
e dos nossos ideais
diante de toda a gente
dizemos: não passam mais!

Em nome do que passámos
não deixaremos passar
o patrão que ultrapassámos
e que nos quer trespassar.
E por onde a gente passa
nós passamos a palavra:
Cada rua cada praça
é o chão que o povo lavra.
Passaremos adiante
com passo firme e seguro.
O passado é já bastante
vamos passar ao futuro.

(Ary dos Santos)
(O sangue das palavras)

18 comments:

Maria said...

Deixou-nos a 18 de Janeiro de 1984.
Nunca esteve tão vivo como hoje!

João P. said...

Maria:

Este poema precisa de ser gritado bem alto!
Ary é sempre actual (infelizmente e em determinados campos)

beijo

João

Paula Barros said...

É impressionante como a história ser repete, em termos de estar sempre precisando gritar, em nome dos excluídos, em nome do bem comum, em nome da seriedade e honestidade.

(não sei se compreendi, mas foi o que senti)

Saudades.

beijo

Carminda Pinho said...

Em nome de tudo isto...não baixaremos os braços.
Ary, nunca desaparecerá.

Beijo, Maria.

Fernando Samuel said...

Bem lembrado.

Um beijo grande.

svasconcelos said...

O Ary sabia:) Também vou levar o Ary ao meu "estabelecimento".:)

Um beijo,

Justine said...

Vamos então passar ao futuro!!!
Beijo

Anonymous said...

Não passarão!
Como não passará, nunca, da nossa memória, viva, a força desse grande poeta da revolução, da liberdade, de Abril!
Beijinho

Som do Silêncio said...

Olá Maria!

Vim aqui deixar o meu beijo e o meu sorriso!

Som

samuel said...

Grande Ary! Grande amigo!

Abreijo.

salvoconduto said...

Se cada rua cada praça
é o chão que o povo lavra temos muito para lavrar.

Abreijos.

OUTONO said...

Na sua voz...sentiu-se muitas vezes o crepitar de um grito de liberdade...

Rosa dos Ventos said...

Grande e saudoso Ary!

Anonymous said...

extraordinário e essencial! meu abraço carinhoso.

C Valente said...

Só uma psudo-liberdade não mata a fome
A democtacia deve implicar:Liberdade, Pão, Saùde. Justiça e muito mais-
Ary, um grande poeta
Saudações amigas

Cristina Caetano said...

A liberdade conquistada nunca mais fugirá entre os dedos.

Beijinhos

Maria said...

Muito obrigada por terem passado aqui.

Beijos a todos.

Branca said...

Sempre genial o Ary e tão necessário relembrá-lo em dias de não baixar os braços.

Beijos
Branca