Monday, April 30, 2012
Abril é Ary! E Maio também!
O Futuro
Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente
Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente
Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.
O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.
Sunday, April 29, 2012
Wednesday, April 25, 2012
...
Pauso-me. Para fazer o que tem de ser feito.
Tuesday, April 24, 2012
Tempo de Abril
25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
Monday, April 23, 2012
Saturday, April 21, 2012
Friday, April 20, 2012
A um Homem de Abril
Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água. Na margem
vento areias lábios, tudo ardia.
Eugénio de Andrade
Wednesday, April 18, 2012
Poema Quadragésimo
Quando me deito contigo
respiro apenas pela pele.
E digo-te tudo
sem uma única palavra.
Joaquim Pessoa
(Do livro Guardar o Fogo, a publicar)
Monday, April 16, 2012
O lado de nós
No mar revolto dos sonhos por viver
Deixa que as ondas me venham lamber
Este corpo que é teu mas que se cala
Mãos que se entrelaçam deste lado
Sorrisos que trocamos de olhar absorto
Beijos que não demos, um nem outro
Em pas-de-deux fugidio e isolado
No lado de nós ficará, por fim
Tudo o que dissemos e fizemos um dia
E em que nos demos o abraço em alegria
Quando plantámos mais uma flor no teu jardim.
Friday, April 13, 2012
Música para o fim-de-semana
Clareia manhã
O sol vai esconder a clara estrela
Ardente, pérola do céu refletindo teus olhos
A luz do dia a contemplar teu corpo
Sedento, louco de prazer e desejos
Ardentes
Wednesday, April 11, 2012
Este lago de ti
Percorres as palavras e o tempo como se fosse a última vez. Sei da dor de ter tanta dor a rasgar o peito.
Pousas o olhar no rio que queres mar e lago ao mesmo tempo. E vejo duas lágrimas quentes a escorrerem no leito.
Caminhas passo largo nas ruas que reconheces e queres rever. E a saudade de tudo a apertar o coração.
Oiço os teus gritos silenciosos e da tua boca nasce outra canção. Rasgas-te de tanta inquietação.
Respiras o ar em busca de novo fôlego de nova vida. Raiz de ti! Que continuas de pé e és árvore quando estendes os braços e abraças os teus frutos. Que com sorrisos te vão sarando a cicatriz.
Com tempo no tempo e a tempo voltarás sempre a nascer. E sei que já és feliz!
É deste lago de ti que te sorrio. E te abraço, num abraço que é só nosso.
(as lágrimas também podem aquecer o peito...)
Monday, April 09, 2012
Fala-me do vento
Fala-me do vento. Do que respiro para ter a sensação de que te engulo. Do que me bate forte na cara logo de manhã para acordar. Do que te entra no olhar e te faz sorrir assim.
Fala-me do vento. Do que abraço todas as noites quando me deito. Do que na tua ausência dorme sempre comigo neste leito.
Fala-me do vento. Desse que, devagarinho, te faz entrar em mim.
Saturday, April 07, 2012
Música para o fim-de-semana
Dia da Criação
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar
Os bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguém bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade, o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia,
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinicius de Moraes
Thursday, April 05, 2012
Escrevo...
Escrevo o amor na areia de qualquer praia
que um dia foi só nossa a noite inteira
clandestinos amantes onde a onda se espraia
incendiando a palavra de qualquer maneira
Escrevo a saudade a sal e sangue
e espero por ti em todas as marés
amanheço-me entre pedras exausta e exangue
de te escrever nas ondas que me beijam os pés.
Escrevo-te ao fim do dia, a hora morta
E embora sabendo que não me lês
nem te lembres do amor que a gente fez
Escrever para ti é tudo que me importa...
Monday, April 02, 2012
Nós
Guardo estes nós dentro do peito. Nós que foram laços, mas que fui atando cada vez mais. Para que nunca saissem de mim. Para que ficassem para sempre.
Guardo estes nós dentro do peito. São nós que não desfaço, porque são o meu conforto em horas outras. Quando me perco nas noites. Quando me falta o nosso abraço.
Guardo estes nós dentro do peito. Nós dos amores da saudade da luta da memória dos segredos. Porque são a minha vida. E por isso são cheios de tanto...