Grito
De ti que inventaste
a paz
a ternura
e a paixão
o beijo
o beijo fundo intenso e louco
e deixaste lá para trás
a côncava do medo
à hora entre cão e lobo
à hora entre lobo e cão.
De ti que em cada ano
cada dia cada mês
não paraste de acender
uma e outra vez
a flor eléctrica
do mais desvairado
coração.
De ti que fugiste à estepe
e obrigaste
à ordem dos caminhos
o pastor
a cabra e o boi
e do fundo do tempo
me chamaste teu irmão.
De ti que ergueste a casa
sobre estacas
e pariste
deuses e linguagens
guerras
e paisagens sem alento.
De ti que domaste
o cavalo e os neutrões
e conquistaste
o lírico tropel
das águas e do vento.
De ti que traçaste
a régua e esquadro
uma abóboda inquieta
semeada de nuvens e tritões
santidades e tormentos.
De ti que levaste
a volupta da ambição
a trepar erecta
contra as leis do firmamento.
De ti que deixaste um dia
que o teu corpo se cansassse
desta terra de amargura e alegria
e se espalhasse aos quatro cantos
diluido lentamente
no mais plácido
silente
e negro breu.
De ti
meu irmão
ainda ouço
o grito que deixaste
encerrado
em cada pétala do céu
cada pedra
cada flor.
O grito de revolta
que largaste à solta
e que ficou para sempre
em cada grão de areia
a ressoar
como um pálido rumor.
O grito que não cansa
de implorar
por amor
e mais amor
e mais amor.
José Fanha
(Breve tratado das coisas da arte e do amor)
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17 comments:
E que este grito, por amor, ecoe nos quatro cantos do mundo e, que se mutiplique, conquistando adeptos, incomodando os que se fazem de surdos.
Beijos pra ti!
Ficou a noite menos fria. Por ti aqui falada.
Bjinho
Escutei o grito amiga - esse grito ultramarino!
O que me impressiona é que nessa socidade dita "pós-moderna", não é esse tipo de grito - com tal apelo - o que se faz ecoar com maior força.
Abraços,
Jorge Elias
Jos� Fanha no seu maior. Adorei este poema. Jinhos mil
Não conhecia este poema do autor.
É excelente, fizeste uma boa escolha.
Obrigado pela partilha.
Beijinhos.
Maria, bom dia!
José Fanha? Estás mesmo empenhada em trazer aqui "gente" do meu tempo...
Vinha convidar-te a um desafio mas já vi que já sabes...
Um beijinho e obrigado por teres aceite.
António
Um grito é sempre preciso!Por aqui com pouco tempo para visitar os amigos,assim que terminar esta quadra de Espirito-Santo voltarei.Beijinhos ternos e doces amiga.Salomé
Fiz um dos recitais deste 25 de Abril com o Fanha.
Matei saudades!
Abreijo
O zé escreve e diz poesia maravilhosamente, gosto de o lêr e ouvir!
Que dizer de ti, que és incansável na prucura, de coisas boas para nos divulgares,-és aquela amiga, de todos,mas que só alguns merecem!
Bjo
Manangão
Enfim Maria, cá estou para te ler
porque chegou o tempo de voltar o tempo, mas está difícil, Maria.
É altura, cada vez mais de chamar por todos estes nomes. Amanhã é mais um dia em que somos todos chamados a estar presentes.
E queremos mais poemas como este.
Um grande abraço
cada grito que ecoa é sentido nas linhas da vida
Vim aqui assinar este tratado! Este é daqueles que subscrevo inteiramente!
Ler José Fanha fez-me voltar umas décadas atrás e soube muito bem.
Aquele abraço infernal!
breve mas bravo!
conheço mal josé fanha, gostei muito.
também eu imploro... (de que serve?)
abraço
luísa
Cara Maria:
Tomo a liberdade de a informar que o grupo de música Rogério Charraz Trio estará a tocar na Taverna dos Trovadores em S.Pedro de Sintra nos dias 2 e 3 pelas 23H30.
O blog do RCT não está actualizado devido ao facto do Rogério Charraz estar fora de Lisboa e sem acesso à Internet.
Grato.
Um amigo do Rogério, José Santos.
Maria.
Amanhã é dia de estar presente,como diz este poema ( o grito que não cansa)amei.
beijinho e Viva o 1º de Maio
Lisa
Muito obrigada a todos que passaram por aqui.
Beijos
Olá Maria...Excelente poema de José Fanha !
Beijos
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