Thursday, March 01, 2012

Eu luminoso não sou



Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.


José Saramago
(in Provavelmente Alegria)

8 comments:

Rogério G.V. Pereira said...

Na sua humildade
luminoso era
Te-lo entre nós?
quem dera...

Ale Quejinho said...

Nossa quanto tempo que não faço uma visita, estava com muita saudades.
Ale

Anonymous said...

gosto de José Saramago.
Gosto de Ti.

beijos

Filoxera said...

Sem ser luminoso, iluminou tanto...
Beijos, amiga.

Mar Arável said...

O nosso Saramago

Bjs

anamar said...

Beijo Maria e bom fim de semana.
Bela leitura.
Ana

Pata Negra said...

Em tempo de contida poesia não vamos dizer que somos luminosos, mas que temos superfície para reflectir alguma luz, lá isso temos!
Um abraço e obrigado pela reflexão

mfc said...

Uma alegoria bela, em que não nos conformamos nunca.