Sunday, February 14, 2016

Quero-te


Não te quero mais. A noite levou-te de mim e eu deixei. Ficou o espanto da tua partida. Não te quero mais. Vou esquecer o teu abraço e o teu cheiro. Que me percorre ainda o corpo. Não te quero mais. Porque o caminho que foi o nosso fugiu-me na escuridão da noite. E eu não o encontro por entre as lágrimas que me escorrem no corpo. Perdi-me de ti do teu abraço do teu cheiro. Perdi-me de nós.
Quero a tua boca só mais uma vez. Morder-me de ti. Passear os meus dedos pelo teu corpo ainda húmido. Quero-te, porque me corres nas veias. Porque és amor amigo amante menino assim distante. Quero-te na solidão da noite. No areal da praia na espuma da onda. Quero-te dentro de mim, como só tu sabes. O sangue a arder. No tempo parado na loucura de nós. Quero-te tanto, quero-te sempre.

Tuesday, February 02, 2016

Vidas



Gostavam de se passear à beira da Lagoa, pés dentro da água, estivesse frio ou calor.
Era aquela a areia que ambos conheciam, pois desde crianças que aí brincavam. E sonhavam com o dia em que os seus filhos e netos fizessem o mesmo. Muitas vezes nadavam até ao outro lado para rolarem nas dunas. Era assim e foi assim durante muitos anos.
Depois, a vida afastou-os.
Passaram anos e a Lagoa continuou a ser um ponto de encontro para todos os que a amavam e amam. Um mergulho em pleno Verão ou um passeio nos dias frios de Inverno, mas sempre respirando o cheiro a sargaço.
Um dia, num final de dia, dois vultos aproximaram-se do cais, vindos de pontos opostos da Lagoa. Nem se olharam, apenas se sentiram. E mergulharam nas águas transparentes, nadando até à outra margem. As roupas do lado de cá. Eles do outro lado.
Nunca mais foram vistos. 

Diz-se que, na maré vazia, aparecem dois corações desenhados na areia, ao lado do cais. Mas nunca ninguém os viu...