Friday, February 21, 2020

Uma Pequenina Luz


Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indeflectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha


Jorge de Sena

Sunday, February 16, 2020

Carlos Paredes

23 abril 2007

Galeria da Música Portuguesa: Carlos Paredes



GUITARRA (Carlos Paredes)



A palavra por dentro da guitarra
a guitarra por dentro da palavra.
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
esta mão que nos busca e nos agarra
e nos rasga e nos lavra
com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua).
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

Esta mão de meseta
voltada para o mar
esta garra por dentro da tristeza.
Ei-la a voar, ei-la a subir
ei-la a voltar de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
mão cigana
guitarra guitarra
lusitana.

(Manuel Alegre – voz de Carmen Dolores)


Carlos Paredes nasceu em Coimbra, a 16 de Fevereiro de 1925. Filho de Artur Paredes, empregado bancário e guitarrista, por sua vez também descendente de exímios guitarristas de Coimbra, e de Alice Candeias Duarte Rosas, professora liceal, Carlos aprende a tocar guitarra portuguesa com o pai, com apenas 4 anos, embora a mãe preferisse que se dedicasse ao piano.
Em 1934, a família muda-se para Lisboa e Carlos conclui a instrução primária no Jardim-Escola João de Deus, começando também a ter aulas de violino e piano, mas não se adapta aos instrumentos. Carlos Paredes recorda: «Em pequeno, a minha mãe arranjou-me duas professoras de violino e piano. Eram senhoras muito cultas a quem devo a cultura musical que tenho. Passávamos horas a conversar e uma delas murmurava: "Não sei o que hei-de dizer aos seus pais". Mas aprendi muito com elas». (Jornal de Letras, 17.3.1992). Então, abandona o violino e o piano para se dedicar por inteiro, sob a orientação do pai, à guitarra. Carlos Paredes fala com saudades desses tempos: «Foi com o meu pai que eu aprendi a tirar da guitarra sons mais violentos, como reacção ao pieguismo langoroso a que geralmente a guitarra portuguesa estava ligada». E acrescenta: «Nesses anos, creio que inventei muita coisa. Criei uma forma de tocar muito própria que é diferente da do meu pai, do meu avô, bisavô e tetravô».
Em 1939, inicia colaboração regular no programa que o pai fazia na Emissora Nacional. Às vezes tinham desentendimentos musicais. Carlos Paredes recorda: «O meu pai chamava-me péssimo acompanhador, porque o fazia andar atrás de mim». Em 1943, termina os estudos secundários num colégio particular, depois de ter frequentado o Liceu Passos Manuel, e faz exame de admissão ao Curso Industrial do Instituto Superior Técnico, que não chega a concluir. Em 1949, torna-se funcionário administrativo do Hospital de S. José, com a categoria profissional de fiel de lavandaria (será promovido a escriturário de 1.ª classe, em 1953). Casa-se e nascem os filhos (terá seis), mas não pára de tocar guitarra, a sua grande paixão.
Se excluirmos as gravações de 1957 em que acompanha o seu pai – mas ainda sem as marcas expressivas que hoje lhe conhecemos – a primeira aparição conhecida em disco de Carlos Paredes acontece em 1958 como acompanhador à guitarra do cantor de Coimbra, Augusto Camacho Vieira, num EP intitulado "Fado de Coimbra", editado pela Valentim de Carvalho. Contando ainda com a participação de António Leão Ferreira à viola, esse EP inclui os seguintes temas: "A Água da Fonte" (Popular / Paulo de Sá), "Adeus a Coimbra" (Edmundo Bettencourt), "Quando os Sinos Dobram" (Eduardo Manuel Tavares de Melo) e "A Luz do Teu Olhar (Súplica)" (Augusto Camacho Vieira).
Em 1958, é preso pela PIDE, acusado de pertencer ao Partido Comunista Português, de que era de facto militante, e expulso da função pública. Durante os 18 meses em que esteve detido, primeiro no Aljube e depois na prisão de Caxias, andava de um lado para o outro na cela fazendo os gestos de quem toca guitarra, o que levou os companheiros de cárcere a pensar que estaria louco. De facto, o que ele estava a fazer, era a compor músicas mentalmente, como lembra Severiano Falcão, que também se encontrava preso na altura. É libertado no final de 1959, e passa a exercer a profissão de delegado de propaganda médica.
Em 1960, música sua é utilizada na curta-metragem de Cândido da Costa Pinto "Rendas de Metais Preciosos". Com algum nome e carreira atrás de si, Carlos Paredes, edita finalmente, em 1962, o seu primeiro disco a solo, um EP intitulado "Carlos Paredes", com chancela da Alvorada. Com acompanhamento à viola de Fernando Alvim, o disco inclui os seguintes temas: "Variações em Si Menor", "Serenata", "Variações em Lá Menor" e "Danças Portuguesas n.º 1". Nesse mesmo ano, é convidado pelo realizador Paulo Rocha (por recomendação do produtor António da Cunha Telles), para compor a banda sonora do filme "Os Verdes Anos" (estreado comercialmente em Novembro de 1963), cujos temas – "Despertar", "Raiz", "Acção" e "Frustração" – serão publicados em EP, pela Alvorada, no início de 1964. Paulo Rocha lembra: «Ele [Carlos Paredes] leu a história e compôs a música antes de eu filmar, uma música impressionante, e quando eu estava a rodar já tinha a música na minha cabeça. Fiquei com suores frios quando a ouvi». Carlos Paredes fala assim desse trabalho: «Muitos jovens vinham de outras terras para tentarem a sorte em Lisboa. Isso tinha para mim um grande interesse humano e serviu de inspiração a muitas das minhas músicas. Eram jovens completamente marginalizados, empregadas domésticas, de lojas. Eram precisamente essas pessoas com quem eu simpatizava profundamente, pela sua simplicidade».
Nos anos seguintes, continuará a sua colaboração musical no cinema, quer cedendo músicas já gravadas quer compondo de raiz as bandas sonoras: "P.X.O." (1962, curta-metragem de Pierre Kast e Jacques Doniol-Valcroze), "Fado Corrido" (1964, filme de Jorge Brun do Canto), "As Pinturas do Meu Irmão Júlio" (1965, curta-metragem de Manoel de Oliveira), "Mudar de Vida" (1966, filme de Paulo Rocha), "Crónica do Esforço Perdido" (1966, curta-metragem de António de Macedo), "A Cidade" (1968, curta-metragem de José Fonseca e Costa), "Tráfego e Estiva" (1968, curta-metragem de Manuel Guimarães), "The Columbus Route" (1969, curta-metragem de José Fonseca e Costa), "Na Corrente" (1969, documentário televisivo de Augusto Cabrita), "Hello Jim!" (1970, curta-metragem de Augusto Cabrita). Carlos Paredes, com a sua música visceralmente portuguesa, fica assim indelevelmente ligado ao cinema novo português. Diga-se, a título de curiosidade, que o próprio Pier Paolo Pasolini, depois de assistir a um concerto de Carlos Paredes em Bolonha, em Setembro de 1974, virá a fazer-lhe um convite para compor a música de um filme, projecto que não se viria a concretizar devido à morte do realizador, no ano seguinte.
Em Outubro de 1966, Carlos Paredes grava para a Valentim de Carvalho o seu primeiro LP, intitulado "Guitarra Portuguesa", nos estúdios de Paço d'Arcos, com acompanhamento à viola de Fernando Alvim. O disco marca igualmente a primeira colaboração com Hugo Ribeiro, o engenheiro de som que, anos mais tarde, Carlos Paredes diria ter sido o único a saber captar o som da sua guitarra. Hugo Ribeiro fala assim dessa experiência: «Eu ouvia-o e pensava: mas como é que é possível? Eu não percebia como é que ele tirava da guitarra aquele som todo... era a força com que ele tocava, e nem lhe saía uma nota desafinada. Era extraordinário!». Dos 11 temas do álbum merecem destaque: "Melodia n.º 2", "Dança" e "Canção Verdes Anos", talvez o tema mais emblemático de toda a sua produção. O álbum, lançado em 1967, contém um texto do francês Alain Oulman, célebre compositor de Amália Rodrigues, de que transcrevo as seguintes palavras: «A música de Carlos Paredes exprime, a meu ver, mais do que nenhuma outra, a terra e as gentes de Portugal. É intemporal, como a de Theodorakis quando canta a Grécia, como, aliás, deve ser a verdadeira música. Não se pode catalogar a música de Carlos Paredes, nem determinar as suas origens – uma possível influência de música barroca que não esconde a voz pessoal de um homem que ama o seu país profundamente, que se não envergonha de o confessar e que o faz com delicadeza e força viril. A primeira vez que o ouvi tocar foi em casa de Amália Rodrigues que também nunca o ouvira anteriormente. Ficámos todos desfeitos. Amália chorava e dizia que só lhe apetecia bater-lhe – reacção muito frequente nela quando se sente comovida pelo virtuosismo de alguém; nenhum de nós compreendia porque não era ele mais conhecido, pelo menos em Portugal. (...) Com este primeiro LP, possa a "voz" de Carlos Paredes ir longe, bem longe, pois ele canta Portugal com sinceridade absoluta, sem peias, com amor e compreensão que dele fazem um grande e raro artista onde a mediocridade não encontra abrigo».
Do álbum serão retirados, no ano seguinte, três EP: "Romance n.º 2", "Fantasia" e "Porto Santo". Ainda em 1967, ao lado de João Figueiredo Gomes (viola), acompanha à guitarra o cantor Luiz Goes, em três temas do LP "Coimbra de Ontem e de Hoje": "No Calvário" (Fausto José / José Paes de Almeida e Silva), "Canção da Infância" (Armando Goes) e "Balada do Mar" (Luiz Goes).
Em 1969, participa como acompanhador à guitarra e à viola num álbum que em Ary dos Santos diz poemas dele próprio, de D. Dinis, de Camões, entre outros.
Em Outubro de 1970, Carlos Paredes participa como produtor, director musical e acompanhador no LP "Meu País", da cantora Cecília de Melo, sua companheira durante alguns anos, e de quem é o único registo conhecido. O álbum, gravado nos Estúdios de Paço d'Arcos por Hugo Ribeiro e editado pela Decca, é constituído por seis peças tradicionais arranjadas por Paredes e seis melodias originais do guitarrista sobre poemas de Manuel Alegre, Mário Gonçalves e Carlos de Oliveira. Uma delas, "O Render dos Heróis", fora escrita para a encenação da peça homónima de José Cardoso Pires.
Em 1971, compõe a música para a peça de Augustin Cuzzani, "O Avançado Centro Morreu ao Amanhecer", levada à cena pelo Grupo de Teatro de Campolide, e fica igualmente responsável pela escolha da música para as produções do grupo, até 1977.
Em Agosto de 1971, Carlos Paredes grava o seu segundo LP, "Movimento Perpétuo", para a Valentim de Carvalho, com o técnico de som Hugo Ribeiro. Conta com as participações musicais de Fernando Alvim no acompanhamento à viola e de Tiago Velez em flauta (nas duas composições do filme "Mudar de Vida" – tema e música de fundo). Deste magnífico álbum, lançado em Novembro de 1971, fazem ainda parte peças tão sublimes como "Danças Portuguesas n.º 2", "Variações Sob Uma Dança Popular", "António Marinheiro", "Canção" e "Valsa", esta da autoria do seu avô Gonçalo. Diz o próprio Carlos Paredes: «Meu avô, Gonçalo Paredes, é, pode dizer-se, um representante dessa tradição (iniciada por António da Silva Leite, nos fins do século XVIII). A segunda parte da sua valsa, incluída neste disco, foi-lhe acrescentada por meu pai, Artur Paredes, o original renovador da chamada guitarra de Coimbra. São, aliás, influências de ambos, de mistura com propensão pessoal para o virtuosismo e o melodismo de sugestão violinística, que marcam as minhas mais antigas realizações: "Movimento Perpétuo", "Variações em Mi Menor", "Variações em Ré Menor" e "Danças Portuguesas"».
Em Dezembro de 1971, será também editado o single "Balada de Coimbra", com os temas "Balada de Coimbra" (José Eliseu, arr. de Artur Paredes) e "O Fantoche" (Carlos Paredes) gravados nas sessões de "Movimento Perpétuo", mas não incluídos no álbum. Deste, no ano seguinte, são retirados três EP: "Movimento Perpétuo", "Mudar de Vida" e "António Marinheiro".
Em Abril de 1973, Carlos Paredes entra novamente em estúdio para gravar o seu terceiro LP para a Valentim de Carvalho, mas as gravações são interrompidas devido à lendária relutância do músico em estar fechado num estúdio e à sua conhecida auto-exigência de perfeccionista, ficando no entanto terminadas algumas músicas. É o próprio músico que confessa: «A dar espectáculos nunca me tenho recusado, mas gravar... Tenho tendência para pensar que daqui a 3 meses toco melhor do que hoje.» Hugo Ribeiro conta: «Quando entrávamos para estúdio, o Paredes dizia sempre que íamos fazer experiências, nunca era para gravar! "Vamos ver, se calhar, talvez…", dizia ele, e ficávamos sempre em suspenso, com a sessão adiada para o dia seguinte. O Paredes tocava por ali fora, e no outro dia vinha ouvir. E depois dizia-me: "Oh Ribeiro, você tinha razão! Aquilo ficou bem!" Ele entusiasmava-se a tocar. Aquela força anímica era fenomenal».
Após o 25 de Abril de 1974, quando se dá a libertação dos presos políticos, muitos deles são tratados como heróis nacionais. No entanto, Carlos Paredes recusa esse estatuto. Sobre o tempo em que esteve preso nunca gostou muito de falar. Dizia: «há pessoas que sofreram mais do que eu!». É reintegrado no quadro do Hospital de São José (onde permanecerá até à aposentação, em Novembro de 1986), com as funções de arquivista de radiografias, vindo depois a ser promovido a chefe de secção. Uma das colegas de trabalho, Rosa Semião, recorda-se da mágoa que o guitarrista sentia devido à denúncia de que fora alvo: «Para ele foi uma traição, ter sido denunciado por um colega de trabalho do hospital. E contudo, mais tarde, ao cruzar-se com o homem que o denunciou, não deixou de o cumprimentar, revelando uma enorme capacidade de perdoar!». Percorre o país, actuando em sessões culturais, musicais e políticas em simultâneo, mantendo sempre uma postura de grande simplicidade e humildade. Comenta Octávio Fonseca Silva: «Por estranho que pareça, até 1984 não realizou um único concerto em Portugal sob a sua exclusiva responsabilidade. Parece algo anedótico mas, para ser devidamente reconhecido no seu país teve de dar provas do seu talento no Olympia de Paris, na Ópera de Sydney, na Exposição Mundial de Osaka e em tantas outras grandes salas do mundo». Carlos Paredes, mais tarde, dirá: «Para se fazer música com prazer tem muita importância a amizade entre as pessoas. Não se pode fazer música friamente e com cálculo, profissionalmente, no mau sentido da palavra, a receber xis à hora. Não pode ser assim». (Se7e, 16.03.1988). Quando o criticavam, por ir para o emprego de autocarro e de Metro, dizia: «Não percebem que se eu não andasse em contacto com as pessoas não fazia as músicas que faço.» Em 1990, acrescentará: «As pessoas gostam de me ouvir tocar guitarra, a coisa agrada-lhes e elas aderem. Não há mais nada.» E confessa: «Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas.» (Público, 20.3.1990).
Em Julho de 1974, Carlos Paredes participa, como acompanhador (guitarra portuguesa, viola de fabrico popular e citolão - uma guitarra portuguesa modificada para abranger simultaneamente as escalas da guitarra portuguesa e da guitarra clássica), no álbum "É Preciso Um País", onde o poeta Manuel Alegre diz poemas de sua autoria. Em 1975, Carlos Paredes colabora também com Adriano Correia de Oliveira no álbum "Que Nunca Mais": a marca inconfundível da sua guitarra está bem patente nos temas "Tejo Que Levas as Águas" e "Recado a Helena".
No mesmo ano, retoma as sessões de gravação para a Valentim de Carvalho interrompidas dois anos antes, mas durante o pouco tempo que está em estúdio apenas regrava algum do material já terminado. O disco ficará de novo por acabar.
Em 1977, uma compilação de Carlos Paredes, intitulada "Meister der Portugiesischen Gitarre", é publicada na então na Alemanha de Leste, pela editora Amiga.
Em 7 de Maio de 1980, estreia-se no Bobino em Paris, acompanhado por Fernando Alvim, na primeira parte de Paco Ibañez, actuação que se prolongará por três semanas. Nesse ano, Carlos Paredes regrava na RDA, com acompanhamento de Carlos Alberto Moniz à viola, o material já gravado em 1973 para a Valentim de Carvalho num álbum intitulado "O Oiro e o Trigo". A edição é feita sem o conhecimento da Valentim de Carvalho, o que leva à ruptura da editora com o artista.
Em 1982, o bailarino Vasco Wellenkamp coreografa música de Carlos Paredes no bailado "Danças para Uma Guitarra". O guitarrista toca ao vivo no palco do Ballet Gulbenkian e parte com ele em digressões pelo mundo. Apaixona-se pela dança: «Já não vou conseguir pensar na música da mesma maneira; a música não está apenas na pauta e nos nossos dedos», diz Paredes a Alice Vieira. «Os bailarinos respiram a música que se toca. Às vezes penso neles como instrumentos de alta precisão.»
Em 1983, é publicado o álbum "Concerto em Frankfurt", gravado ao vivo na Ópera daquela cidade alemã, constituído por bastante material nunca editado em disco (incluindo os seis temas completos nas gravações de estúdio de 1973, se bem que renomeados e com algumas alterações na estrutura). Trata-se de um dos raros registos em palco da carreira do guitarrista e foi gravado sem o conhecimento do músico. Em entrevistas posteriores, o próprio Paredes confessaria que tal decisão acabou por ser pelo melhor – o nervosismo de saber que estava a ser gravado poderia ter afectado a sua performance. É o primeiro disco de Carlos Paredes para a PolyGram, editora com a qual assinou contrato depois da sua saída da Valentim de Carvalho. A edição de "Concerto em Frankfurt" acaba por inviabilizar a edição projectada, pela EMI-Valentim de Carvalho, de "A Montanha e a Planície", um álbum que deveria disponibilizar alguns dos temas que Carlos Paredes gravara em 1973, mas que surgem entretanto registados ao vivo. Em substituição, são reeditados, em duplo-álbum, "Guitarra Portuguesa" e "Movimento Perpétuo", pouco antes do Natal. Ainda em 1983, Carlos Paredes participa no álbum de Carlos do Carmo, "Um Homem no País", compondo e acompanhando à guitarra o "Fado Moliceiro" (poema de Ary dos Santos).
Em Outubro de 1986, é editado pela Polygram, o LP "Invenções Livres", um álbum de improvisações em duo com o pianista António Victorino d'Almeida, gravado por José Manuel Fortes. O encontro entre a guitarra de Paredes e o piano de Victorino d'Almeida resulta num trabalho brilhante e surpreendente, que obtém a aclamação da crítica. O pianista explica: «Carlos Paredes e eu não nos sujeitámos a qualquer espécie de esquema harmónico, rítmico ou formal previamente estabelecido, mas a ideia condutora das "invenções" que – em total liberdade – produzimos, consubstancia-se no diálogo, na atenção, na busca conjunta de uma verdade musical capaz de sobrepor à mera exploração das vozes dos instrumentos ou à originalidade da sua fusão. Pretendemos fazer música, encarando-a como linguagem transmissora de ideias e não como álibi para malabarismos de viciado individualismo».
Em Fevereiro de 1988, sai, pela PolyGram, o álbum "Espelho de Sons", gravado no ano anterior por José Manuel Fortes, e com produção de Tozé Brito, tendo o acompanhamento sido repartido entre Luísa Maria Amaro (viola de cordas de nylon) e Fernando Alvim (viola de cordas de metal). Agrupando as músicas por séries temáticas (Coimbra e o Mondego / Os Amadores / A Canção / O Teatro / Lisboa e o Tejo / A Dança / A Mãe e o Lar / Contrates), Carlos Paredes reutiliza muito do material gravado no "Concerto de Frankfurt" e mesmo composições mais antigas. É o caso de: "Serenata" surgida no primeiro EP a solo (1962), “Verdes Anos” (1963 e 1966), “O Fantoche” (1971) e "Canção de Alcipe", tema alusivo à Marquesa de Alorna criado por Afonso Correia Leite e Armando Rodrigues para a banda sonora do filme "Bocage" (1936), de Leitão de Barros, que fora originalmente gravado em 1971 mas só editado em 1996 (no CD “Na Corrente”). O álbum entra directamente para o 3.º lugar do top oficial de vendas e virá a ser premiado com um Se7e de Ouro (atribuído pelo Jornal Se7e), na categoria de música popular/tradicional. Em Setembro, uma nova compilação de material inédito de Carlos Paredes é cancelada pela EMI-Valentim de Carvalho. O álbum deveria chamar-se "Salvados", título sugerido pelo próprio Carlos Paredes para reflectir o facto de as gravações serem 'restos' de sessões de estúdio, e também jogando com a sua condição de 'sobreviventes' do incêndio do Chiado que, em 25 de Agosto, destruíra parte dos arquivos da Valentim de Carvalho na Rua Nova do Almada.
Em 1989, o tema "Dança" (do álbum "Guitarra Portuguesa") é escolhido por Paul McCartney para música ambiente da sua digressão mundial.
Ainda em 1989, sai um novo disco de Carlos Paredes, com o título "Asas Sobre o Mundo", em edição especialmente concebida para a TAP Air Portugal (terá lançamento comercial em 1991). O disco é constituído com o material de "Espelho de Sons" e inclui ainda dois temas inéditos, dedicados pelo autor à transportadora aérea portuguesa – "Asas Sobre o Mundo" e "Nas Asas da Saudade".
Em Janeiro de 1990, retomando o conceito de improvisações em dueto, Carlos Paredes grava com o contrabaixista de jazz Charlie Haden, o álbum "Dialogues", para a Polydor. O disco, gravado em Paris, tem a marca de génio de dois grandes músicos mas o diálogo entre os instrumentos é algo desanimador, sobretudo quando comparado com o resultado alcançado em "Invenções Livres". Em 26 de Maio, os músicos voltam a encontrar-se, em concerto no Coliseu de Lisboa, pretexto que a RTP aproveita para a realização de um documentário.
No mês de Dezembro seguinte, Carlos Paredes assina contrato com a EMI-Valentim de Carvalho, regressando à casa onde gravara os seus momentos mais emblemáticos. Inicia, pouco depois, as gravações de material original para um novo álbum, mas as sessões serão suspensas devido à doença, do foro neurológico, que acometerá o guitarrista. Em 30 de Abril de 1991, Carlos Paredes e Luísa Amaro, sua acompanhadora à viola e companheira na vida (desde 1984), participam como convidados especiais no concerto dos Madredeus no Coliseu de Lisboa, de que resultará o duplo CD "Lisboa", editado em 1992. Para a ocasião, Pedro Ayres Magalhães escreveu uma letra inédita para a música de Paredes "Canto de Embalar". Em palco, Carlos Paredes interpretou "Mudar de Vida" e acompanhou o grupo, primeiro, na sua versão de "Canto de Embalar" e, depois, no original dos Madredeus "O Navio".
Em 20 e 21 de Março de 1992, Carlos Paredes regressa aos palcos, em dois concertos no Teatro de São Luiz filmados pela RTP em alta definição. Nos espectáculos, nos quais são estreados quatro novos temas compostos para o novo álbum, Paredes é acompanhado à viola por Luísa Amaro e Fernando Alvim, e participam como convidados Manuel Paulo, Natália Casanova e Nuno Guerreiro em "Cantiga do Maio" (de José Afonso), Mário Laginha em "Porto Santo", Rui Veloso em "Porto Sentido" e o flautista Paulo Curado em "Mudar de Vida". Os concertos serão repetidos a 25 no Teatro Rivoli, no Porto.
A EMI-Valentim de Carvalho reedita em CD uma compilação temática (originalmente editada em 1973) reunindo temas de Carlos Paredes, José Afonso e Luiz Goes. Os temas de Carlos Paredes foram extraídos do seu primeiro álbum, "Guitarra Portuguesa", e são: "Variações em Ré Maior", "Divertimento", "Canção Verdes Anos", "Melodia nº2" e "Fantasia".
Em Dezembro de 1993, é diagnosticada a Carlos Paredes uma mielopatia (hérnias na medula) que lhe prende os movimentos, impossibilitando-o de manejar a guitarra. Fica internado no Fundação-Lar Nossa Senhora da Saúde, em Campo de Ourique, Lisboa. Tinha agendado encontros com o Kronos Concert, com Ravi Shankar e até com Astor Piazzola. «Acho que adoeceu na altura errada», lamenta Luísa Amaro.
Em 1994, Carlos Paredes é distinguido com o Prémio de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.
Em Dezembro de 1996, a EMI-VC publica "Na Corrente", compilação que reúne todo o material inédito que Carlos Paredes gravara para a Valentim de Carvalho até 1980, ano em que saiu da editora: os seis temas que haviam ficado completos nas sessões de gravação de 1973 ("A Montanha e a Planície", "Dança dos Montanheses", "Dança dos Camponeses", "Os Senhores da Terra", "Em Memória de Uma Camponesa Assassinada" e "Sede e Morte"), os dois temas do single "Balada de Coimbra / O Fantoche", publicado em 1971 e nunca incluídos em LP, e duas gravações inéditas, "Canção de Alcipe" e "Na Corrente", esta última o único registo em que Carlos Paredes tocou viola a solo. O álbum atinge rapidamente o top-20 oficial de vendas de álbuns, da Associação Fonográfica Portuguesa. Ao ouvir os belos temas que constituem este disco, uma interrogação me interpela: quantas composições geniais se terão perdido (ou que não chegaram a nascer, para ser mais preciso), quando Carlos Paredes, no auge das suas faculdades criativas, ocupava muito do seu tempo a desempenhar banais funções administrativas num hospital e a fazer inúmeras actuações no país e no estrangeiro? É caso para dizer que ganharam aqueles que tiveram o privilégio de o ouvir ao vivo, mas ficou a perder a posteridade que só pode fruir da sua arte graças às gravações.
Em Março de 2000, é editada pela Mundo da Canção, uma biografia intitulada "Carlos Paredes: A Guitarra de um Povo", da autoria do crítico musical Octávio Fonseca Silva, com a colaboração fotográfica de Luís Paulo Moura. O livro inclui ainda textos de vários especialistas, o pensamento musical de Paredes, além de um dossier documental com artigos sobre o músico e partituras manuscritas.
Em Dezembro de 2000, é lançado o seu derradeiro trabalho de inéditos, de título genérico "Canção Para Titi", com nove composições, entre as quais figuram "Uma Canção Para Minha Mãe", "Canção Para Titi", "Mar Goês", "Arcos de Jardim" e "Arco de Almedina". O material fora gravado em 1993, quando o músico já se sentia afectado pela doença. Diz o musicólogo Rui Vieira Nery, consultor da edição: «Da experiência da audição concentrada e seguida de todo o material disponível, dos takes interrompidos às sucessivas versões integrais de cada peça, depressa me ficou, contudo, uma sensação de enorme felicidade. Apesar da luta desesperada evidente que Carlos Paredes travava consigo próprio naquelas sessões de 1993 e das limitações técnicas incontornáveis a que a doença já então o submetia, a sua Música impunha-se com uma força verdadeiramente mágica logo a partir dos primeiros compassos – pujante de inspiração e de rasgo, deslumbrante no seu lirismo inconfundível. Lá estava aquele impulso rítmico único, partindo das anacrusas iniciais suspensas no tempo para depois se despenharem no seu tempo forte de resolução e lançarem a partir daí frases longas e ondulantes, sempre ao sabor de uma dicção musical perfeita. Lá estavam aquelas tonalidades menores carregadas de melancolia, salpicadas aqui e além de traços modais e de passagens cromáticas que tornavam o desenrolar da melodia num mistério sempre imprevisível. Lá estava, mesmo que agora por vezes transformado num grito de pássaro ferido, aquele som intenso, vibrado, plangente, e lá estava até, aqui e além, ainda que dramatizado pelo esforço transparecente, um virtuosismo ocasional ainda surpreendente na sua musicalidade inteligente. (...) É de sublinhar muito em particular a maneira como esta Música, privada de um virtuosismo que pudesse valer por si para lá de qualquer outra lógica de construção musical, se depura de tudo o que não é essencial para assentar apenas numa inspiração concentrada onde nada é acessório. E chama-nos também a atenção o modo como Paredes parece regressar aqui a um universo que é o das suas reminiscências de infância, evocando as figuras tutelares da Mãe e da Tia, os espaços familiares da Coimbra da sua meninice, e mesmo, de alguma forma, os sons tradicionais das baladas de Artur e Gonçalo Paredes, seu Pai e seu Avô, tudo isto com um olhar melancólico mas cheio de serenidade que nem a tensão dolorosa que marca alguns momentos da sua execução consegue perturbar. Por tudo isto seria imperdoável que o que constitui verdadeiramente o testamento musical de Carlos Paredes não saísse a público, como documento artístico e humano de uma força emocional rara, para nos dar esta visão final que fecha o círculo de um meio século de carreira. Uma carreira que nos ajudou como poucas neste século a reencontrarmo-nos connosco próprios e com a nossa identidade de portugueses.»
Em Fevereiro de 2003, assinalando os 10 anos sobre o retiro forçado de Carlos Paredes, a EMI-VC lança a sua obra completa sob o título "O Mundo Segundo Carlos Paredes", numa caixa com 8 CD, acompanhada de uma biografia. Além dos temas a solo e das improvisações em dueto, a edição contém também o repertório de outros intérpretes em que Carlos Paredes participou como instrumentista – Augusto Camacho Vieira, Luiz Goes, Ary dos Santos, Cecília de Melo, Manuel Alegre, Adriano Correia de Oliveira, Carlos do Carmo e Madredeus.
Em Junho de 2003, é lançado pela Universal um disco de homenagem intitulado "Movimentos Perpétuos: Música para Carlos Paredes", projecto que conta com a participação de nomes tão diferentes como António Pinho Vargas, Gabriel Gomes, Rodrigo Leão, Ricardo Rocha, Mísia, Ana Sofia Varela, José Eduardo Rocha, Carlos Bica, Mário Laginha, Maria João, Gaiteiros de Lisboa, Dead Combo, Sam The Kid, entre outros. A guitarra portuguesa chega assim, e de uma só vez, aos universos do jazz, do fado, da música tradicional, da electrónica e do 'hip hop', dando continuidade a uma preocupação que Carlos Paredes sempre teve presente enquanto músico – a transposição de barreiras invisíveis. Ainda em matéria de tributos, merecem referência o músico Pedro Jóia que em Fevereiro de 2001 gravou, para a Farol Música, o CD "Variações Sobre Carlos Paredes" com versões em guitarra clássica de nove temas do compositor de "Verdes Anos", e a fadista Mísia com o álbum "Canto" (Warner Jazz France, 2003) composto por canções expressamente escritas para músicas de Carlos Paredes, quase todas pelo poeta Vasco Graça Moura.
Carlos Paredes vem a falecer em Lisboa, a 23 de Julho de 2004, aos 79 anos de idade. O Governo decreta um dia de luto nacional. «Portugal teve no Carlos Paredes a genialidade, sensibilidade, poder de composição, uma belíssima técnica, e interpretação. Ele cumpriu os pontos que tinha a cumprir nesta passagem pela Terra», disse Luísa Amaro. E acrescentou: «Era um homem muito bom e muito simples, que deu uma contribuição muito grande para a cultura portuguesa». O cantor Luís Cília, que acompanhou Carlos Paredes como amigo e como profissional em vários recitais, faz votos de que «a guitarra do Paredes fique e seja para sempre lembrada». «Conheci o Paredes quando cheguei de Paris e uma das coisas que me chocou foi que um homem com o seu génio não vivesse da sua arte», acrescentou Luís Cília à agência Lusa, lamentado que, em Portugal, artistas como Carlos Paredes «não vivam no paraíso que os merece».
Em 2006, o cineasta Edgar Pêra realiza o documentário "Movimentos Perpétuos: Tributo a Carlos Paredes", editado em DVD.
«A música que faço é um produto das circunstâncias imediatas do tempo em que eu vivo, e passará a ser encarada de outra forma quando essas circunstâncias desaparecerem. É uma coisa que, se perdurar graças aos discos, ficará apenas com o valor de documento, como acontece com toda a pequena música, desde os Beatles ao Manuel Freire. E já ficarei muito orgulhoso se, daqui a muitos anos, puder ser entendido como um compositor que se integrava bem nos acontecimentos desta época...» (Se7e, 5.10.1983). Na verdade, a música de Carlos Paredes, como acontece com toda a grande arte, tem na sua essência a marca da intemporalidade (como disse Alain Oulman) e ficará como um dos mais autênticos testemunhos musicais da portugalidade, a par dos mais sublimes fados de Amália Rodrigues.


Discografia:

- Fado de Coimbra (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1958) (com Augusto Camacho Vieira)
- Carlos Paredes (EP, Alvorada, 1962)
- Guitarradas Sob o Tema do Filme Verdes Anos (EP, Alvorada, 1964)
- Guitarra Portuguesa (LP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1967, 1983; CD, EMI-VC, 1987, 1998, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
- Romance n.º 2 (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1968)
- Fantasia (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1968)
- Porto Santo (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1968)
- Espiral Op. 70 (LP, Espiral/Decca, 1969) (com Ary dos Santos)
- Meu País (LP, Decca, 1970) (com Cecília de Melo)
- Movimento Perpétuo (LP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1971, 1983; CD, EMI-VC, 1988, 1998, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
- Balada de Coimbra / O Fantoche (single, Columbia/Valentim de Carvalho, 1971)
- Movimento Perpétuo (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1972)
- Mudar de Vida (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1972)
- António Marinheiro (EP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1972)
- Carlos Paredes / Artur Paredes (LP, Alvorada, 1972) (seis temas de Carlos Paredes, na face A + seis temas de Artur Paredes, na face B)
- Carlos Paredes / José Afonso / Luiz Goes (LP, Columbia/Valentim de Carvalho, 1973; CD, EMI-VC, 1992, "Encontros Em Coimbra", Valentim de Carvalho/Iplay, 2008) (compilação colectiva)
- É Preciso Um País (LP, col. A Voz e o Texto, Decca/Valentim de Carvalho, 1974; CD, EMI-VC, 1994) (com Manuel Alegre)
- Meister der Portugiesischen Gitarre (LP, Amiga/RDA, 1977) (compilação)
- O Oiro e o Trigo (LP, Amiga/RDA, 1980)
- Concerto em Frankfurt (LP, Philips/PolyGram, 1983; CD, Philips/PolyGram, 1990)
- Invenções Livres (LP, Philips/PolyGram, 1986; CD, Philips/PolyGram, 1994) (com António Victorino d'Almeida)
- Espelho de Sons (LP/CD, Philips/PolyGram, 1988)
- Asas Sobre o Mundo (CD, Philips/PolyGram, 1989; LP, Philips/PolyGram, 1990)
- Dialogues (LP/CD, Polydor, 1990) (com Charlie Haden)
- Carlos Paredes [e] Artur Paredes, col. O Melhor dos Melhores, vol. 36 (CD, Movieplay, 1994) (reúne o repertório dos dois primeiros EPs a solo de Carlos Paredes e de um EP de Artur Paredes, editado em 1957)
- Na Corrente (CD, EMI-VC, 1996, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007)
- O Melhor de Carlos Paredes: Guitarra (CD, EMI-VC, 1998, Valentim de Carvalho/Som Livre, 2007) (compilação)
- Carlos Paredes [e] Artur Paredes, col. Clássicos da Renascença, vol. 72 (CD, Movieplay, 2000) (mesmo conteúdo do CD da col. O Melhor dos Melhores)
- Canção Para Titi - Os Inéditos de 1993 (CD, EMI-VC, 2000)
- Uma Guitarra com Gente Dentro: Antologia (CD, Universal, 2002) (compilação)
- Os Verdes Anos de Carlos Paredes: As Primeiras Gravações a Solo 1962-1963 (CD, Movieplay, 2003) (reúne o repertório dos dois primeiros EPs em nome próprio, editados pela Alvorada)
- O Mundo Segundo Carlos Paredes: Integral 1958-1993 (Livro/8CD, EMI-VC, 2003)
1. Despertar
2. Na Corrente
3. Danças
4. As Mãos
5. Improvisos
6. Asas
7. Diálogos
8. Memórias
- Uma Guitarra Portuguesa (DVD, RTP/Immortal, 2006) (gravado no São Luiz, em 1992)
- Antologia 62/89 (2CD, Universal, 2007)
- A Voz da Guitarra (2CD, Universal, 2010) (compilação)

[acrescentada em 23-Jul-2014]


Fontes:
- Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa, dir. Luís Pinheiro de Almeida e João Pinheiro de Almeida, Círculo de Leitores, 1998
- Literatura inclusa na discografia de Carlos Paredes
- Página http://puxapalavrainextenso.blogspot.com/2004/07/carlos-paredes-morreu-biografia-e.html



Propostas para a 'playlist' da RDP-Antena 1 (e Antena 3):
(por ordem alfabética)

- A Montanha e a Planície (in "Concerto em Frankfurt" / "Na Corrente")
- Acção (in "O Melhor de Carlos Paredes: Guitarra")
- António Marinheiro (in "Movimento Perpétuo")
- Balada de Coimbra (in "Na Corrente")
- Canção de Alcipe (in "Na Corrente")
- Canção Verdes Anos (in "Guitarra Portuguesa")
- Canto de Embalar (in "Concerto em Frankfurt" / "Asas Sobre o Mundo")
- Canto de Rua (in "Concerto em Frankfurt" / "Asas Sobre o Mundo")
- Canto do Amanhecer (in "Concerto em Frankfurt" / "Asas Sobre o Mundo")
- Canto do Rio (in "Concerto em Frankfurt")
- Dança (in "Guitarra Portuguesa")
- Dança dos Camponeses (in "Concerto em Frankfurt" / "Na Corrente" / "Asas Sobre o Mundo")
- Dança dos Montanheses (in "Na Corrente")
- Dança Palaciana (in "Concerto em Frankfurt")
- Danças Portuguesas n.º 1 (in "O Melhor de Carlos Paredes: Guitarra")
- Danças Portuguesas n.º 2 (in "Movimento Perpétuo")
- Em Memória de Uma Camponesa Assassinada (in "Na Corrente")
- Fado Moliceiro (in "Asas Sobre o Mundo")
- In Memoriam (in "Concerto em Frankfurt")
- Melodia n.º 2 (in "Guitarra Portuguesa")
- Mudar de Vida - tema (in "Movimento Perpétuo")
- Mudar de Vida - música de fundo (in "Movimento Perpétuo")
- Nas Asas da Saudade (in "Asas Sobre o Mundo")
- O Fantoche (in "Na Corrente")
- Os Senhores da Terra (in "Na Corrente")
- Sede (in "Concerto em Frankfurt" / "Asas Sobre o Mundo")
- Sede e Morte (in "Na Corrente")
- Serenata (in "O Melhor de Carlos Paredes: Guitarra")
- Serenata no Tejo (in "Asas Sobre o Mundo")
- Valsa (in "Movimento Perpétuo")
- Variações Sob Uma Dança Popular (in "Movimento Perpétuo")
- Variações Sobre o Mondego (in "Asas Sobre o Mundo")
- Variações sobre o Mondego n.º 1 (in "Asas Sobre o Mundo")
- Verdes Anos (in "Asas Sobre o Mundo")



Canção Verdes Anos



Música e guitarra portuguesa: Carlos Paredes
Viola: Fernando Alvim


(instrumental)


(in "Guitarra Portuguesa", 1967)

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Outros artistas desta galeria:
Adriano Correia de Oliveira
Janita Salomé
José Afonso
Luiz Goes
Pedro Barroso


Retirado daqui: http://nossaradio.blogspot.com/2007/04/galeria-da-msica-portuguesa-carlos.html
 

Thursday, February 06, 2020

As sete virtudes filosofais ou A alquimia dos poetas


1. O ORGULHO

Por vezes          no poema
desperdiçamos tudo
      e fica apenas
                               uma terrível faca de silêncio
                               um muro
uma sebe de sede que defende
                            a fome de ódio puro.

2. A AVAREZA


A palavra           vã guardada
A esmola           aliterante.
      Eis a miséria doirada
      da poesia altissonante.

3. A LUXÚRIA


Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
                            Com elas violentamos
                            o cerne do silêncio.

4. A IRA


Uma rosa de cólera
                            o poema
Uma antena de raiva.
                            Uma espoleta
na serena gaveta do poeta.

5. A GULA


Comemos vegetais e animais
Bebemos vinho.
Respiramos fundo.
Somos normais. Apenas
devoramos o mundo.

6. A INVEJA


Não sermos nós a voz
                            o tacto
                            o texto.
Darmos cinco sentidos
Para termos o sexto.

7. A PREGUIÇA


Este
                      lento
                               talento
      de vazarmos tristeza.


José Carlos Ary dos Santos, Obra Poética