Sunday, December 31, 2023
POEMA CXIV
Friday, December 29, 2023
lembro-me do futuro
Wednesday, December 27, 2023
A Odete Santos não morreu
A Odete era genuína. Não era comunista por acidente. Era comunista inteira. Como muito poucos. Era das mais brilhantes deputadas. Não era uma deputada de bancada. Não era mais uma no meio de tantos. Era uma deputada do terreno. Ligada às pessoas. Ligada à justiça social e à liberdade.
Não quis ser fotografada na AR. Quis ser fotografada no palco (não me lembro que sala) e junto ao rio Tejo.
Ali, a grande Odete, a brilhante deputada. A obreira da democracia. A mulher da luta. Todos os dias. Junto ao rio, com as gaivotas a voarem em liberdade.
A Odete Santos não morreu.
Sunday, December 24, 2023
Natal...
Elas andam a trabalhar numa fona há dois ou três dias, sem o descanso necessário. Primeiro as compras, depois a cozinha. Fazem sonhos rabanadas aletria arroz doce coscorões azevias e só não fazem o bolo rei porque lhes falta o tempo. São os homens a ir buscar o bolo rei que elas encomendaram. Levantaram-se cedo e começaram logo ainda não saíram da cozinha e os homens a perguntar quando é que se almoça. Fazem-lhe um bife (as que podem) rápido e nem se sentam à mesa, porque há que começar a levar para a sala de jantar o serviço de porcelana e os copos que se usam uma ou duas vezes por ano. Tudo do enxoval. Quantos sonhos ficaram pelo caminho. A esta hora já descascaram as batatas, arranjaram a couve, os tachos estão em cima do fogão que será ligado daqui a pouco para cozer o bacalhau. E eles sentados no sofá a verem televisão. Elas põem a mesa com a toalha que usam uma vez por ano, o serviço de porcelana e os copos. Têm de caber quinze. Os três filhos chegarão dentro de pouco tempo com os respectivos parceiros e dois filhos cada um. Vai ser uma festa pois vai mas ninguém pensa que elas estão de pé há mais de dez horas e ainda têm pela frente mais seis ou sete horas de trabalho até poderem ir descansar um pouco sim porque amanhã o almoço é igualmente lá em casa e elas têm de se levantar às sete ou oito para voltarem a por a mesa, repor os doces e acender o fogão onde se irá assar o perú, que elas têm temperado há dois dias. Eles levantam-se mais tarde, chegam à cozinha e pedem o pequeno almoço, depois fumam um cigarro e vão à vida deles. Voltam a aparecer quando são chamados para a mesa. Elas não veem mais nada a não ser os ponteiros do relógio avançarem e os filhos estão quase a chegar e o arroz de passas ainda está por fazer e ela tem ainda de tomar um duche. É tão lindo o Natal quando elas trabalham assim e eles dizem ponham os olhos na vossa mãe, que é uma mulher como deve ser. Felizmente à noite o jantar vai ser o que sobejou do almoço e do jantar da véspera. Despediram-se ao final do dia e elas mal aguentam pensar que amanhã é já daqui a meia dúzia de horas... e que o trabalho as espera.
Saturday, December 23, 2023
Poema de natal
Tuesday, December 19, 2023
Refaz-me
Penetras-me todos os dias, sempre que te apetece. Deixas que eu me encha de ti, naturalmente. Namoras-me e saboreias-me da mesma forma e ao mesmo tempo que te namoro e te saboreio. As crianças a brincarem com a nossa espuma.
A corrente leva-me sempre para ti, e traz-te de volta. Mas é de noite que nos amamos melhor. Com as estrelas como manto. Às vezes a lua, cúmplice dos nossos beijos e abraços. Enquanto as crianças sonham com castelos de areia e sorriem.
Nas minhas margens costumam chapinhar os mais pequenos e deixo que os barquinhos se passeiem imaginando viagens que não fazem. Mas estes dias foram de tempestades e amores proibidos, e as margens que em mim deixaste são enormes. Cavaste um fosso entre mim e o que resta da praia, que continuas a lamber. As minhas margens são agora enormes. Como podem as crianças voltar a brincar no meu regaço?
Refaz-me, uma e outra vez, com a doçura com que sempre o fizeste. Preciso do teu abraço, forte. E das gargalhadas das crianças...
Monday, December 18, 2023
Amor
Thursday, December 14, 2023
TERRA
Tuesday, December 05, 2023
POEMA DA CURVA
Monday, December 04, 2023
O BAR
Saturday, December 02, 2023
***
Adoro-te minha gata de Janeiro meu amor minha gazela meu miosótis minha estrela minha amante minha Via Láctea minha filha minha mãe minha esposa minha margarida meu gerânio minha princesa aristocrática minha preta minha branca minha chinezinha minha Paulina Bonaparte minha história de fadas minha Ariana minha heroína de Racine minha ternura meu gosto de luar meu Paris minha fita de cor meu vício secreto minha torre de andorinhas três horas da manhã minha melancolia minha polpa de fruto meu diamante meu sol meu copo de água minhas Escadinhas da Saudade minha morfina ópio cocaína minha ferida aberta minha extensão polar minha floresta meu fogo minha única alegria minha América e meu Brasil minha vela acesa minha candeia minha casa meu lugar habitável minha mesa posta minha toalha de linho minha cobra minha figura de andor meu anjo de Boticelli meu mar meu feriado meu domingo de Ramos meu Setembro de vindimas meu moinho no monte meu vento norte meu sábado à noite meu diário minha história de quadradinhos meu recife de Manuel Bandeira minha Passargada meu templo grego minha colina meu verso de Holderlin meu gerânio meus olhos grandes de noite minha linda boca macia dupla como uma concha fechada meus seios suaves e carnudos meu enxuto ventre liso minhas pernas nervosas minhas unhas polidas meu longo pescoço vivo e ágil minhas palavras segredadas meu vaso etrusco minha sala de castelo espelhada meu jardim minha excitação de risos minha doce forquilha de coxas minha eterna adolescente minha pedra brunida meu pássaro no mais alto ramo da tarde meu voo de asas minha ânfora meu pão de ló minha estrada minha praia de Agosto minha luz caiada meu muro meu soluço de fonte meu lago minha Penélope meu jovem rio selvagem meu crepúsculo minha aurora entre minas minha Grécia minha maré cheia minha muralha contra as ondas meu véu de noiva minha cintura meu pequenino queixo zangado minha transparência de tules minha taça de oiro minha Ofélia meu lírio meu perfume de terra meu corpo gémeo meu navio de partir minha cidade meus dentes ferozmente brancos minhas mãos sombrias minha torre de Belém meu Nilo meu Ganges meu templo hindu minha areia entre os dedos minha aurora minha harpa meu arbusto de sons meu país minha ilha minha porta para o mar meu mangerico meu cravo de papel minha Madragoa minha morte de amor minha Ana Karénine minha lâmpada de aladino minha mulher