Monday, May 31, 2010

O teu olhar


A minha memória atraca sempre
nos abraços do teu olhar...

... onde é tão bom mergulhar...

Sunday, May 30, 2010

Adriano - Abril em Maio


Tejo que levas as águas

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava-a de crimes, espantos
de roubos, fomes, terrores,
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amores

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro

Lava palácios vivendas
casebres bairros da lata
leva negócios e rendas
que a uns farta e a outros mata

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Lava avenidas de vícios
vielas de amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais

Afoga empenhos, favores
vãs glórias, ocas palmas
leva o poder dos senhores
que compram corpos e almas

Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas

Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo

Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar

Thursday, May 27, 2010

Ary para quem gosta de Ary



Meu amor, meu amor

Meu amor meu amor
meu corpo em movimento
minha voz à procura
do seu próprio lamento.

Meu limão de amargura meu punhal a crescer
nós parámos o tempo não sabemos morrer
e nascemos nascemos
do nosso entristecer.

Meu amor meu amor
meu nó e sofrimento
minha mó de ternura
minha nau de tormento

este mar não tem cura este céu não tem ar
nós parámos o vento não sabemos nadar
e morremos morremos
devagar devagar.

Wednesday, May 26, 2010

Até quando?



Está nas nossas mãos!!!

VAMOS DAR A VOLTA A ISTO!!!

Monday, May 24, 2010

Saudade



Vejo-te ainda e sempre diante de mim
o meu olhar pousa em azul dentro do teu
e as tuas mãos seguram as minhas, trémulas
Vejo-te ainda mesmo quando não estás diante de mim
sinto o abraço ardente que quero seja meu
e os corpos estremecem como se o passado fosse hoje
Vejo-te sempre que quero diante de mim
o teu sorriso cobre-me o corpo em flor, sem véu
e temos ainda tanto para nos descobrirmos...

Thursday, May 20, 2010

Vento

Sem saber de ti caminhei toda a noite
Perdida de mim sem a noção do tempo
Andarilha vagabunda à chuva como açoite
Mas abro a minha cama para que se deite o vento
Sem saber de ti caminhei pelas escarpas
Ouvindo o mar como se fosse um lamento
De longe chegava-me um som de harpas
E abro a minha cama para que se deite o vento
Sem saber de ti regressei aos meus medos
Perdida dos abraços dos beijos e do tempo
Refaço-me teço-me escapo-me dos teus dedos
Porque abro a minha cama para que se deite o vento.

Wednesday, May 19, 2010

Para que não se esqueça

Gravura de José Dias Coelho


Fez hoje 56 anos que Catarina Eufémia foi assassinada!

Pelos do costume...

Mostajeiros

Primeiro chegaram Elas. Vinham da cidade grande com os estômagos preparados para a Alcatra. Que é feita durante três dias. Numa caçoila de barro, de preferência já muito usada. A Alcatra que afinal é acém... e o gato da vizinha não aparecia...
Vieram Elas, dizia, porque Eles viriam depois. Um trabalho de última hora que os reteve na cidade grande. E vieram todo o caminho conversando animadamente tão distraídas que iam passando a saída devida mas! a tempo lá apanharam a autoestrada que as levaria à Alcatra. Os estômagos preparados e quase a dar horas...
Já na planície doirada e porque Eles viriam mais tarde que tal um café disse uma pois com uma empada disse a outra. E lá foram às empadas e ao café. Ah, as empadas, 'aquelas' que seriam deglutidas como o melhor manjar. Porque os estômagos já pediam a Alcatra e há que enganá-los com as empadas.
Os Amigos esperavam quem vinha de lonje e a casa cheirava a canela do arroz doce ainda morno e a Alcatra que afinal é acém e que continuava lentamente ao lume. E o gato da vizinha não aparecia...
Finalmente chegou Ele. Só um. Já sabíamos que o outro não viria, contratempos que deverão ser recompensados com outra Alcatra, um dia destes.
Haja alguém que abra o vinho, para respirar. Temos de ir buscar as migas e as empadas dizia o dono da casa e lá foi com o outro. E o gato da vizinha não aparecia...
Alcatra é com massa sovada dizia a dona da casa o que é massa sovada é aquela espécie de pão que está no cesto ah pois ao pé do pãozinho alentejano tão bom para molhar...
Finalmente sentados à mesa com a Alcatra que afinal é acém à frente e a batata doce a massa sovada as migas e as 'outras' empadas. Irresistíveis. De comer uma atrás da outra. E depois a Alcatra, deliciosa, porque tudo o que é feito com amor fica delicioso. E a Alcatra foi feita com amor. E o gato da vizinha que não aparecia...
Está aqui uísque para quem quiser por mim bebo desta aguardente.
Por fim, mesmo no fim, apareceu o gato da vizinha. Não veio ao cheiro da Alcatra, não. Veio atrás do cheiro da aguardente.
O que é que o título deste post tem a ver com a Alcatra que afinal é acém e as empadas e as migas e o arroz doce e o pão de rala e a encharcada e os pastéis de nata e os queijos e tudo o resto? Nada. Ou quase nada.
Mas para digerir tudo isto não há nada como uma aguardente de Mostajeiros!

Monday, May 17, 2010

Do que existe


Existe um sorriso no teu olhar. Como existe um silêncio em cada grito. E um abraço em cada solidão. Dos que se sentem. Dos que nos esmagam. Dos que nos amassam.
Existe um poema no teu corpo. Como existe uma lágrima em cada rosto. E um amor em cada mão. Dos que se vivem. Dos que nos moem. Dos que nos doem.
Existe uma porta sempre aberta. Como existe uma estrada para andar. E um futuro à nossa frente. E uma praça cheia de gente. E as palavras a soltar. E um abraço para te dar.

Saturday, May 15, 2010

Música para o fim-de-semana



Eh! Companheiro
Eh! Companheiro aqui estou

aqui estou pra te falar
Estas paredes me tolhem
os passos que quero dar
uma e feita de granito
não se pode rebentar
outra de vidro rachado
p´ras duas pernas cortar

Eh! Companheiro resposta
resposta te quero dar
Só tem medo desses muros
quem tem muros no pensar
todos sabemos do pássaro
cá dentro a qu´rer voar
se o pensamento for livre
todos vamos libertar

Eh! Companheiro eu falo
eu falo do coração
Já me acostumei à cor
desta negra solidão
já o preto que vai bem
já o branco ainda não
não sei quando vem o vento
pra me levar de avião

Eh! Companheiro respondo
respondo do coração
ser sozinho não é sina
nem de rato de porão
faz também soprar o vento
não esperes o tufão
põe sementes do teu peito
nos bolsos do teu irmão

Eh! Companheiro vou falar
vou falar do meu parecer
Vira o vento muda a sorte
toda a vida ouvi dizer
soprou muita ventania
não vi a sorte crescer
meu destino e sempre o mesmo
desde moço até morrer

Eh! Companheiro aqui estou
aqui estou p´ra responder
Sorte assim não cresce a toa
como urtiga por colher
cresce nas vinhas do povo
leva tempo a amadur´cer
quando mudar seu destino
está ao alcance de um viver

Eh! Companheiro aqui estou
aqui estou pra te falar
De toda a parte me chamam
não sei p´ra onde me virar
uns que trazem fechadura
com portas para espreitar
outros que em nome da paz
não me deixam nem olhar

Eh! Companheiro resposta
resposta te quero dar
Portas assim foram feitas
p´ra se abrir de par em par
não confundas duas coisas
cada paz em seu lugar
pela paz que nos recusam
muito temos de lutar.

Monday, May 10, 2010

Os dias do verbo amar


Sei dos caminhos enviezados da vida
que lentamente se desfazem no mar
dos dias sim da alegria vivida
dos dias não que teimam em não cessar
Mas já não sei dos dias do verbo amar

Sei dos escolhos que a vida nos oferece
que lentamente se desfazem no mar
das ausências que a solidão tece
e das certezas que nos fazem sonhar
Mas já não sei dos dias do verbo amar

Sei das noites amargas sem o toque da pele
que lentamente se desfazem no mar
dos corpos cansados do amor e do mel
e das lágrimas que saltam do meu olhar
Porque já não sei dos dias do verbo amar.



(eu vou ali. depois volto, logo logo...)

Saturday, May 08, 2010

Música para o fim-de-semana



DISPARADA

Prepare o seu coração
Prás coisas
Que eu vou contar
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
Eu venho lá do sertão
E posso não lhe agradar...

Aprendi a dizer não
Ver a morte sem chorar
E a morte, o destino, tudo
A morte e o destino, tudo
Estava fora do lugar
Eu vivo prá consertar...

Na boiada já fui boi
Mas um dia me montei
Não por um motivo meu
Ou de quem comigo houvesse
Que qualquer querer tivesse
Porém por necessidade
Do dono de uma boiada
Cujo vaqueiro morreu...

Boiadeiro muito tempo
Laço firme e braço forte
Muito gado, muita gente
Pela vida segurei
Seguia como num sonho
E boiadeiro era um rei...

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E nos sonhos
Que fui sonhando
As visões se clareando
As visões se clareando
Até que um dia acordei...

Então não pude seguir
Valente em lugar tenente
E dono de gado e gente
Porque gado a gente marca
Tange, ferra, engorda e mata
Mas com gente é diferente...

Se você não concordar
Não posso me desculpar
Não canto prá enganar
Vou pegar minha viola
Vou deixar você de lado
Vou cantar noutro lugar

Na boiada já fui boi
Boiadeiro já fui rei
Não por mim nem por ninguém
Que junto comigo houvesse
Que quisesse ou que pudesse
Por qualquer coisa de seu
Por qualquer coisa de seu
Querer ir mais longe
Do que eu...

Mas o mundo foi rodando
Nas patas do meu cavalo
E já que um dia montei
Agora sou cavaleiro
Laço firme e braço forte
Num reino que não tem rei

Thursday, May 06, 2010

Vento


Sei da embriaguez forte dos abraços
E dos beijos e gemidos lançados ao vento
Em noites por dormir contando os passos
Que nos faltam para chegar, num cante lento
Sei da voz silenciosa em grito doce
E do olhar raso de água, forte e profundo
Às vezes cantando assim como se fosse
A última vez que cantasse para o mundo
Sei de ti, poeta vagabundo deste rio
Semente que renasce sempre a tempo
Raíz de ti flor e fruto breve, e sorrio
Quando te vejo de braços abertos ao vento...

Wednesday, May 05, 2010

M*


Flor de Abril. Em Maio!


Forte e inquieto o rio onde te deitas. Na solidão das noites. No sangue da vida que em ti renasce. No clarear de todas as manhãs. Abraço forte de ternura quando o rio que és desagua na foz. Ao pôr do sol. Sabes-me maré vaza à tua espera, com um sorriso ardente...

Monday, May 03, 2010

Nunca seremos demais


Quantos fomos, quantos somos
importa que a cada instante
todos juntos lado a lado
tenhamos a força bastante

Quantos desceram a avenida
mais uma vez no novo dia
importa a certeza do grito
e o punho erguido com alegria

Temos ainda o sangue a ferver
e recomeçaremos o tudo e o mais
ainda que sejamos bastantes
nunca seremos demais!

Sunday, May 02, 2010

Música de Abril VIII (e Maio!)



Llanto para Alfonso Sastre y todos

Foi quando as madres terríveis
Levantaram a cabeça
Foi quando os sinos dobraram
Nas torres de Saragoça

Foi quando a Guarda Civil
Surgiu no brilho de aço
Que de novo se pintou
A Guernica de Picasso

Não eram cinco da tarde
Nem da noite ou da manhã
Era a hora de lutar
Pela Espanha de amanhã

Era a hora de acordar
A voz de Lorca e Machado
Era a hora de atacar
Com a foice e o arado

Não eram cinco da tarde
Nem da noite ou da manhã
Era a hora de lutar
Pela Espanha de amanhã

Algures na arena da esperança
Contra os cornos do fascismo
Um poeta abria a dança
Dos passos do heroísmo

Suas palavras agudas
Feriam as carnes da besta
Pois jamais se quedam mudas
As vozes de quem protesta

Algures na arena da esperança
Contra os cornos do terror
Um poeta abria a dança
Das palavras que dão flor

Dizia amigo canção
Pátria alento humanidade
Dizia verdade e pão
Como quem diz liberdade

Não eram cinco da tarde
Nem da noite ou da manhã
Era a hora de cantar
Pela Espanha de amanhã

Foi então que do mais fundo
Do ódio do mal do medo
Irrompeu o berro imundo
De quem oprime e não cede

Choveram balas patadas
Correntes golpes mordaças
E palavras embrulhadas
Em insultos e ameaças

Chegaram ferros e facas
Uivos lâmpadas chicotes
Choques agulhas matracas
Baionetas e garrotes

Não eram cinco da tarde
Nem da noite ou da manhã
Era a hora de calar
Pela Espanha de amanhã

Algures na arena da esperança
Um poeta foi torturado
Sua alegria a vingança
Seu nome cantor soldado

Algures na arena da esperança
Um poeta foi torturado
Sua alegria a vingança
Seu nome cantor soldado

Não eram cinco da tarde
Nem da noite ou da manhã
Era a hora de cantar
Pela Espanha de amanhã

Saturday, May 01, 2010

Abril é Ary VI. E Maio também!


O Futuro

Isto vai meus amigos isto vai
um passo atrás são sempre dois em frente
e um povo verdadeiro não se trai
não quer gente mais gente que outra gente

Isto vai meus amigos isto vai
o que é preciso é ter sempre presente
que o presente é um tempo que se vai
e o futuro é o tempo resistente

Depois da tempestade há a bonança
que é verde como a cor que tem a esperança
quando a água de Abril sobre nós cai.

O que é preciso é termos confiança
se fizermos de Maio a nossa lança
isto vai meus amigos isto vai.