Tuesday, September 29, 2009

Passos


Passo a passo segui os acordes das memórias

Cobri a minha pele com o teu doce manto

Nas tuas mãos vivem ainda todas as estórias

E a tua voz não se embarga com este canto

De todas as palavras que vi silenciadas

De todos os passos ainda por percorrer

Vivemos com a força de vontades abraçadas

E morremos, talvez, ainda sem nascer



Monday, September 28, 2009

Porque me apetece José Gomes Ferreira

A Minha Solidão

(Durante dias andei a ruminar estes versos)

A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar noites estreladas...

...Mas este querer arrancar a própria sombra do chão
e ir com ela pelas ruas de mãos dadas.

...Mas este sufocar entre coisas mortas
e pedras de frio
onde nem sequer há portas
para o Calafrio.

...Mas este rir-me de repente
no poço das noites amarelas...
- única chama consciente
com boca nas estrelas.

...Mas este eterno Só-Um
(mesmo quando me queima a pele o teu suor)
- sem carne em comum
com o mundo em redor.

...Mas este haver entre mim e a vida
sempre uma sombra que me impede
de gozar na boca ressequida
o sabor da própria sede.

...Mas este sonho indeciso
de querer salvar o mundo
- e descobrir afinal que não piso
o mesmo chão do pobre e do vagabundo.

...Mas este saber que tudo me repele
no vento vestido de areia...
E até, quando a toco, a própria pele
me parece alheia.

Não. A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar o céu estrelado...

...mas este deitar-me de súbito a chorar no chão
e agarrar a terra para sentir um Corpo Vivo a meu lado.


José Gomes Ferreira

Sunday, September 27, 2009

Brecht, hoje e sempre...

O Analfabeto Político

O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe,
da farinha, da renda de casa, dos sapatos, dos remédios,
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e
enche o peito de ar dizendo que odeia a política.
Não sabe, o idiota,
que da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos
que é o político vigarista, aldrabão,
o corrupto e lacaio dos exploradores do povo.


(Bertold Brecht)

Saturday, September 26, 2009

Um mar de gente


Tantas vezes te beijei em cada beijo que não dei.
Tantas vezes te abracei em cada abraço que não dei.
Mas senti-te tão perto, tão perto que ouvi a tua voz cantar num coro grande de gente. Os pés assentes na (e cheios de) terra. E o cheiro a relva húmida, ou ao calor que fazia. E outros cheiros, e todas as cores. E a tua voz abraçava-me e cantava, por entre um mar de gente...


6.Setembro.2009

Friday, September 25, 2009

Porque me apetece Ary durante o fim-de-semana



... e porque é tão bonito...


E estas são duas das vozes de Abril e que continuam Abril, ao nosso lado. Como ontem, com um coro de mais de 7.000 activistas da CDU, no Campo Pequeno.
Obrigada Luísa, obrigada Samuel.

Thursday, September 24, 2009

HONDURAS - SOLIDARIEDADE

O Presidente Manuel Zelaya regressou ontem às Honduras.
Fê-lo clandestinamente, como é óbvio, e perante a incredulidade do fascista Micheletti.
Este, começou por negar, com a arrogância provocatória que lhe é característica, a presença do Presidente legítimo nas Honduras, assegurando que Manuel Zelaya - que designou como «terrorista mediático» - se encontrava «numa suite de um hotel da Nicarágua».
Depois, foi obrigado a reconhecer a presença do Presidente Manuel Zelaya nas Honduras, na Embaixada do Brasil - às imediações da qual começaram a acorrer milhares de pessoas manifestando o seu apoio ao Presidente legítimo.

Dirigindo-se aos seus apoiantes, o Presidente Zelaya afirmou:
«Quero dizer-vos que estou comprometido com o povo hondurenho e que não descansarei nem um dia, nem um minuto, até afastar a ditadura do poder. A partir de agora ninguém me tirará daqui, pelo que a minha posição é: pátria, restituição do poder, ou morte».
E aludindo à resistência heróica do povo hondurenho, o Presidente disse: «Somos um povo unido e somos, por isso, um povo vencedor»

Entretanto, o fascista Micheletti decretou o estado de sítio e forças militares à sua ordem intimaram os manifestantes a afastar-se quer das imediações da Embaixada do Brasil quer da sede da ONU, onde também estão concentradas milhares de pessoas.
Os manifestantes recusaram-se a cumprir as ordens e declararam que vão manter-se ali.

Quer isto dizer que a luta do povo das Honduras pelo restabelecimento da democracia entrou agora numa nova e mais avançada fase - só possível, recorde-se, porque o povo resistiu e não parou de se manifestar um único dos 86 dias passados desde o golpe fascista.

Quer isto dizer, também, que a solidariedade com a luta do povo hondurenho é agora ainda mais necessária e premente.

(Retirado daqui)

Beatriz del Valle, vice de Patricia Rodas, chanceler do governo do Presidente Zelaya, afirmou que a repressão nas Honduras atingiu "níveis incríveis". Numa entrevista concedida à rede TeleSur, a diplomata contou que tem tentado levar alimentos e água às pessoas que estão na embaixada brasileira, e confirmou que várias das pessoas detidas estão a ser levadas para o estádio de beisebol Chochy Sosa, em Tegucigalpa. "Nunca pensei que veria níveis incríveis de repressão como estes que estão em curso no país", disse.

Ver outras notícias em TeleSur.

Wednesday, September 23, 2009

Memória de Pablo Neruda


Morre lentamente

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...


Pablo Neruda

Tuesday, September 22, 2009

Regresso-me


Regresso-me sempre aos mesmos lugares, tu sabes. Os das minhas memórias, intensas. Aos lugares do nosso amor maduro inteiro madurado. No tempo, pelo tempo, pela vida.
Regresso-me a nós no vento norte na brisa do mar. Que sempre nos acolheu, aqui ou além. Intenso e inteiro continuas dentro de mim. A única maneira de guardar o amor.
Regresso sempre ao tempo de reconstruir. Aos caminhos que percorremos. Que guardam o teu cheiro. Onde me sorris a cada momento. Porque nada se desfaz. Porque tudo se refaz...

Sunday, September 20, 2009

Um desafio da Velas...


Fui desafiada pela Velas a mostrar 10 cartões vermelhos.
Sabendo que não vou surpreender ninguém, aqui vão os meus cartões vermelhos:

1. A todos os responsáveis pela fome no Mundo
2. À falta de solidariedade
3. Ao preconceito (incluo aqui o preconceito político!)
4. Ao despudor de algumas afirmações que tenho ouvido por aí, na campanha eleitoral
5. À mentira
6. À violência
7. A quem tudo tem demais e continua a explorar quem trabalha, para mais ter
8. Às invasões e agressões aos povos que apenas querem viver em paz, nos seus países
9. A Barack Obama que, já estando incluído nos pontos 1., 5. e 8., voltou atrás com as promessas feitas e com as quais foi eleito.
10. Naturalmente, a este governo.

Não menciono nenhum blogger, mas gostava de vos ver e ler os cartões vermelhos que gostariam de mostrar. Sirvam-se, portanto.

Obrigada, Velas. Um beijo para ti.

Tuesday, September 15, 2009

A nossa força



Ufa!!! Agora respiro melhor!

(ainda por aí. voltando um dia destes...)

Recado

Para ti, que dizes que tomaste uma decisão hoje. Não foi hoje que a tomaste. Foi há muito tempo. Nem sei há quantos anos, mas naquela Festa, que era a nossa (e continua a ser a minha, feita para todos) naquele Festa, dizia eu, já cá não estavas. Na casa que foi tua durante alguns anos. Menos do que os que diz a comunicação social. Porque na verdade já cá não estavas. Ninguém pode sair de uma casa onde não mora faz tempo. Apenas me pergunto porque escolheste o dia de hoje para anunciares a saída da nossa casa. Porque nada do que dizes ou fazes é inocente. E a escolha do dia de hoje, a doze dias de eleições legislativas e a 27 de eleições autárquicas, não é por acaso. As tuas palavras estão cheias de vinagre. E estou a ser benevolente. Não saíste hoje. Saíste há tanto tempo... talvez a tua vaidade te tenha impedido de te dares conta do que fizeste faz tempo. Não sei. Também não quero saber. E já estou a gastar palavras demasiadas e tempo precioso contigo. Adeus.

Sunday, September 13, 2009

Porque me apetece Miguel Torga

LIBERDADE

– Liberdade, que estais no céu…
Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

– Liberdade, que estais na terra…
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
– Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga

(vou ali. depois volto.)


Saturday, September 12, 2009

Música para o fim de semana



Amor de índio

Tudo que move é sagrado
E remove as montanhas
Com todo cuidado, meu amor
Enquanto a chama arder
Todo dia te ver passar
Tudo viver a teu lado
Com o arco da promessa
Do azul pintado pra durar
Abelha fazendo mel
Vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu
O pedido que se pensou
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver
Para ser o que for e ser tudo
Sim, todo amor é sagrado
E o fruto do trabalho
É mais que sagrado, meu amor
A massa que faz o pão
Vale a luz do teu suor
Lembra que o sono é sagrado
E alimenta de horizontes
O tempo acordado de viver
No inverno te proteger
No verão sair pra pescar
No outono te conhecer
Primavera poder gostar
No estio me derreter
Pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu
De sentir seu calor e ser tudo

Milton Nascimento

Friday, September 11, 2009

Memória dos que tombaram pelo Chile...



... morrendo de corpo inteiro!



Manifiesto

Yo no canto por cantar
ni por tener buena voz,
canto porque la guitarra
tiene sentido y razón.

Tiene corazón de tierra
y alas de palomita,
es como el agua bendita
santigua glorias y penas.

Aquí se encajó mi canto
como dijera Violeta
guitarra trabajadora
con olor a primavera.

Que no es guitarra de ricos
ni cosa que se parezca
mi canto es de los andamios
para alcanzar las estrellas,
que el canto tiene sentido
cuando palpita en las venas
del que morirá cantando
las verdades verdaderas,
no las lisonjas fugaces
ni las famas extranjeras
sino el canto de una lonja
hasta el fondo de la tierra.

Ahí donde llega todo
y donde todo comienza
canto que ha sido valiente
siempre será canción nueva.

(Victor Jara)

Thursday, September 10, 2009

Recomeço

Sabemos das dores que não se entendem, que nunca se entenderão. E que só o tempo pode atenuar.
Mas é preciso abrir as janelas e deixar entrar outro tempo, outra aragem, outras lágrimas talvez.
Que do rio das memórias sei da torrente, forte, caudal imenso procurando caminho até chegar ao mar.
Onde tudo se refaz. Renasce. Respira. Vive. E ama. Sim. Recomeçando tudo, com um sorriso necessário e rasgado, outra vez...

Wednesday, September 09, 2009

A INVENÇÃO DO AMOR


Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana

Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e nas avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
Convoquem os reservistas os bombeiros os elementos da defesa passiva
Todos Decrete-se a lei marcial com todas as consequências
O perigo justifica-o Um homem e uma mulher
conheceram-se amaram-se perderam-se no labirinto da cidade

É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escolas Sobretudo
protejam as crianças da contaminação
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações políticas

...

Organizem em cada bairro em cada rua em cada prédio
comissões de vigilância. Está em jogo a cidade
o país a civilização do ocidente
esse homem e essa mulher têm de ser presos
mesmo que para isso tenhamos de recorrer às medidas mais drásticas

Por decisão governamental estão suspensas as liberdades individuais
a inviolabilidade do domicílio a habeas corpus o sigilo da correspondência
Em qualquer parte da cidade um homem e uma mulher amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade nocturna
É preciso encontrá-los É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas defendam-se de entender a sua voz Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
Lhe lembravam a infância Campos verdes floridos
Água simples correndo A brisa das montanhas

Foi condenado à morte é evidente É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo assim desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

...

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua

...

Algures no labirinto a cidade um homem e uma mulher
amam-se espreitam a rua pelo intervalo das persianas
constroem com urgência o universo do amor
E é preciso encontrá-los E é preciso encontrá-los

...

Ficou provado que não se conheciam
Encontraram-se ocasionalmente num bar de hotel numa tarde de chuva
sorriram inventaram o amor com carácter de urgência
mergulharam cantando no coração da cidade

Importa descobri-los onde quer que se escondam
antes que seja demasiado tarde
e o amor como um rio inunde as alamedas
praças becos calçadas quebrando nas esquinas

Já não podem escapar Foi tudo calculado
com rigores matemáticos Estabeleceu-se o cerco
A policia e o exército estão a postos Prevê-se
para breve a captura do casal fugitivo

DANIEL FILIPE
In: A Invenção do Amor e Outros Poemas

Monday, September 07, 2009

Que venha a Festa de 2010!

As palavras sábias de Salvador Allende...

... e um local de encontro obrigatório muito especial...

A Festa deste ano acabou. A Festa de 2010 começa logo a seguir a 11 de Outubro...
Não coloco aqui fotografias da multidão que esteve na Festa. Acredito que os jornais e telejornais se encarregaram de o fazer, ao longo dos três dias :). Caso contrário o jornal Avante da próxima quinta-feira trará, com certeza, uma extensa reportagem.

Nem sempre fazemos na Festa o que tínhamos previamente programado. Porque aparecem sempre outras 'situações' que consideramos, na altura, prioritárias. Assim, não estive presente no encontro dos bloggers no Pavilhão da Emigração, nem no Pavilhão Central para ver o debate entre Jerónimo de Sousa e o actual primeiro ministro. Mas estive num 'debate a quatro' sobre a eterna questão do 'rejuvenescimento' do Partido, que se foi prolongando até acabarmos a petiscar, tarde na noite, ali para os lados de Vila Franca. Esperando sempre que as palavras não caiam em 'saco roto' e que fiquemos todos a pensar, mais uma vez, nas questões levantadas.

E a seguir foi dar as boas vindas a um jovem que ia à Festa pela primeira vez e que queria, a todo o custo, comer uma francesinha, no Porto. E lá foi ele, depois de ver o Grupo de Cantares de Ervedal (Avis), dirigido pela Maria do Amparo, ali mesmo no Palco Arraial.

Estamos cansados? Estamos. Mas é um cansaço bom. Como bom foi abraçar tantos camaradas que não via há um ano, porque de outras paragens são. E como foi bom saber de tantos outros abraços que se deram e, sobretudo, de ver tantos jovens a trabalhar na Festa.
Para o ano há mais. E saí da Atalaia com a convicção de que em 2010 haverá muitos mais jovens a participar na Festa. Que é nossa. Feita para todos os que nela queiram participar e/ou visitar...

Friday, September 04, 2009

Não há FESTA como esta!


É aqui que vou estar nos próximos três dias!
A respirar camaradagem, solidariedade, muito trabalho e, claro, algum divertimento.
Que não faltem braços para os abraços...

Thursday, September 03, 2009

A palavra Camarada

(Li este texto há muito tempo. Andei a procurá-lo durante muito tempo. Encontrei-o há um ano e pouco. No Cravo de Abril, post de João Filipe Rodrigues. Porque o coloco aqui hoje? Porque me apetece...)

Camarada é uma palavra bonita. Sempre. E assume particular beleza e significado quando utilizada pelos militantes comunistas.

O camarada é o companheiro de luta - da luta de todos os dias, à qual dá o conteúdo de futuro, transformador e revolucionário que está na razão da existência de qualquer partido comunista.

O camarada é aquele que, na base de uma específica e concreta opção política, ideológica, de classe, tomou partido - e que sabe que o seu lugar é o do seu partido, que a sua ideologia é a da classe pela qual optou.

O camarada é aquele com cujo apoio solidário contamos em todos os momentos - seja qual for o ponto da trincheira que ocupemos e sejam quais forem as dificuldades e os perigos com que deparamos.

O camarada é aquele que nos ajuda a superar as falhas e os erros individuais - criticando-nos com uma severidade do tamanho da fraternidade contida nessa crítica.

O camarada é aquele que, olhando à sua volta, não vê espelhos... - vê o colectivo - e sabe que, sem ter perdido a sua individualidade, integra uma outra nova e criativa individualidade, soma de múltiplas individualidades.

O camarada é aquele que, vendo a sua opinião minoritária ou isolada, mas julgando-a certa, não desiste de lutar por ela - e que trava essa luta no espaço exacto em que ela deve ser travada: o espaço democrático, amplo, fraterno e solidário, da camaradagem.

O camarada é aquele que, tão naturalmente como respira, faz da fraternidade um caminho, uma maneira de ser e de estar - e que, por isso mesmo, não necessita de a apregoar e jamais a invoca em vão.

O camarada é aquele que olhamos nos olhos sabendo, de antemão, que lá iremos encontrar solicitude, camaradagem, lealdade - e sabemos que esse olhar é uma fonte de força revolucionária.

O camarada é aquele a cuja porta não necessitamos de bater - porque a sabemos sempre aberta à camaradagem.

O camarada é aquele que jamais hesita entre o amigo e o inimigo - seja qual for a situação, seja qual for o erro cometido pelo amigo, seja qual for a razão do inimigo.

O camarada é o que traz consigo, sempre, a palavra amiga, a voz fraterna, o sorriso solidário - e que sabe que a amizade, a fraternidade, a solidariedade, são valores humanos intrínsecos ao ideal comunista.

O camarada é aquele que é revolucionário - e que não desiste de o ser mesmo que todos os dias lhe digam que o tempo que vivemos é coveiro das revoluções.



Camarada é uma palavra bonita - é uma palavra colectiva: é tu, eu, nós: é o Partido. O nosso. O Partido Comunista Português.




José Casanova

(in Avante!, 20.6.2002)


Obrigada João. Foi tão bom ler este texto... e tentar ser um pouco mais Camarada...

Tuesday, September 01, 2009

Guarda o cheiro para mim


Canto para ti esta canção
Feita de flores de jasmim
Se a fechares no teu coração
Guarda o cheiro para mim

Rosa vermelha cor da paixão
Que eu colhi do teu jardim
Deixa-a voar numa ilusão
Mas guarda o cheiro para mim

A água da fonte é fresca e pura
E corre sempre a teus pés
E no caminho se te procura
Faz-se rio outra vez

Vida pintada em verdes trigais
Terra sangrenta sem ter fim
Dás o teu fruto a todos, iguais
Mas guarda o cheiro para mim

A água da fonte é fresca e pura
E corre sempre a teus pés
E no caminho se te procura
Faz-se rio outra vez

Semente raíz flor e fruto
Ciclo de vida feito assim
Ventre sofrido rasgado enxuto
Mas guarda o cheiro para mim