Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
(Manuel Alegre)
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32 comments:
Lindo este poema imortalizado na voz do saudoso Adriano Correia de Oliveira.
Obrigada por este post.
Um abraço
Que coisa mais linda. Lembrar-me dele dito melhor um pouco. Que selecção fantástica estás aqui a deixar.
Um beijo e noite feliz
Felizmente...há sempre alguém que diz não!
Bjs
Olá querida Amiga Maria, lindo poema, toca fundo o meu coração!
Menina Maria, estás a escolher muitíssimo bem os poemas... Tenho adorado... Beijinhos de carinho,
Fernandinha
A guitarra em gotas que perguntam "ao vento que passa" ainda... (ao autor?)
É, sim, lindíssimo o poema e a canção que ouço em mim.
Beijo, Maria.
voltamos a ver "navios" a partir.
algo vai mal.
vou ver se ouço o Adriano que já tenho saudades.
beijo
encontrei uma versão diferente, mas linda!
dedico-ta. com um beijo grande. e um obrigada.
Um poema que me traz de volta tempos tristes mas que foram ultrapassados com a "fé" daqueles que acreditaram e acreditam que a Liberdade é possível. Sempre!
Beijinhos
Maio sempre lindo, e com as palavras de Manuel Alegre ainda mais belo.
Jinhos mil
esta tua ideia de nos recordares poemas únicos, transformados em canções, é uma maravilha.
beijinho Maria
(luis eme)
"Nunca mais nos encontrámos pessoalmente. Mas ele anda por aí, boi paciente e forte, invencível mesmo, a ajudar-nos a puxar a carroça. E ajuda-nos a cantar Abril - e os meses todos do calendário". Zé Mário Branco sobre Adriano (tinha isto mesmo à mão, ao ler este post).
lindo este poema!
Um belíssimo poema que demonstra bem todo o patriotísmo existente no povo português.
Beijinho com Amizade.
E Abril continua nas palavras dos poetas da liberdade, na voz de quem canta e sabe dizer não quando é preciso
beijos
Belo poema de Manuel Alegre,boa escolha,gostei.
Agradeço a tua visita ao meu blog.
E obrigado pela informação da ilha Farilhões o qual desconhecia.
O DAS QUINAS
Os Deus vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes,porque são
Só o que passa!
Baste a quem baste o que lhe basta
O bastante de lhe bastar!
A vida é breve,a alma é vasta:
Ter é tardar.
Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao cristo defeniu:
Assim o opôs à natureza
E filho o ungiu
Poema de Fernando Pessoa
Beijinhos
Lourenço
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Este poema para mim é um dos mais belos poemas de denúncia e grito.
Um beijo enorme
maria
ilha da liberdade
Gosto muito de Manuel Alegre, como poeta e com político; mas, ultimamente, o seu silêncio é cortante...
Manuel Alegre ou Adriano. Dois nomes (entre muitos, felizmente...) que é urgente dizer!
abraços!
Olá Maria, belo poema de Manuel Alegre...É urgente dizer não !!
O descontentamento dos trabalhadores que têm desfilado nas ruas nos últimos meses foi hoje levado à AR, através de uma moção de censura, proposta pelo PCP.
Assisti à sua discussão e votação.
Tenho vergonha de ter este governo à frente dos destinos do meu País.
Tenho a certeza de que a LUTA VAI CONTINUAR, porque a Luta tem de ser contínua. Estamos cá para o que der e vier.
E apetece-me GRITAR!!!!
Os rastos poéticos e os comentários que aqui ficam, são bem eloquentes do sentir que vai na alma de quem que aqui chega...Se me permitem, faço minhas as vossas palavras e vou ouvir "aqueles" trovadores que acenderam a luz da nossa esperança...
Maria
Vim ler novamente. Sinto saudade das palavras que se perderam.
Abraço
Como mal vai o meu país
mas o poema é lindo
Saudações amigas
Bonito poema!
Beijos!
nao tenha duvida que as coisas estão na mesma
sem tirar nem por
pergunte ao vento que passa noticias do seu país
em 2008
Obrigada por terem passado aqui.
Beijos a todos
Não me esqueço que estavas ali, bem na minha frente e ao lado de todos. Comigo. Na noite mais triste. Dizendo não. Porque há sempre alguém que resiste. E nós resistimos! Beijo grande, Maria.
pedro branco
O caminho é resistir, o caminho é continuar a luta.
Há muitos a resistir, felizmente. E resistiremos!
Um beijo, Pedro
Eita Maria danada! Aqui só as balas, as boas poesias!
Belo nunca é demais dizer...
bjs
O Sibarita
o sibarita
Obrigada, Siba.
É poesia de resistência, de vez em quando tem que "vir ao de cima"...
Beijos
Podes crer e somos muitos... Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!
Kiss
ludo rex
E como dizia o Poeta
"seremos cada vez mais"....
Beijo
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