Saturday, March 31, 2012

Música para o fim-de-semana


Ó, mana, deixa eu ir
ó, mana, eu vou só
ó, mana, deixa eu ir
para o sertão do Caicó

Eu vou cantando
com uma aliança no dedo
eu aqui só tenho medo
do mestre Zé Mariano

Mariazinha botou flores na janela
pensando em vestido branco
véu e flores na capela.

Thursday, March 29, 2012

Há 38 anos, no Coliseu de Lisboa



A 29 de Março de 1974, o Coliseu, em Lisboa, enche-se para ouvir José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo e outros, que terminam a sessão com «Grândola, Vila Morena».

daqui

Tuesday, March 27, 2012

Não te resisto...


Sabes que não te resisto. Porque teimas em aparecer quando quase caiste no esquecimento. Agora que te vejo despertas-me os sentidos e o desejo toma conta de mim. Fecho os olhos e pela memória passam os prazeres que disfrutei contigo, de volta de ti, os meus dedos acariciando a tua pele tostada, o teu cheiro, o desejo o desejo o desejo...
Sabes que não te resisto. Se fosses amigo de verdade não me aparecias assim, quase dizendo 'toma-me'. Ferve-me o sangue enquanto toco o teu corpo quente e mais uma vez sei que vou quebrar tudo o que disse e vou voltar a ter-te nas mãos e gozar o prazer único de te envolver com a minha boca, sentindo o teu cheiro e o desejo o desejo o desejo...
Sabes que não te resisto. Mas hoje vou acabar com este martírio de te ver e não te ter ou de te ter e deixar de ter. Porque hoje é o teu último dia. Não voltes nunca mais a aparecer-me assim, como se viesses do nada. Afinal é fácil, basta pegar numa faca, cortar-te em fatias, barrar cada uma e comer-te, pão quente!

(não, ainda não regressei. foi só uma vontade de... pão quente :) )

Friday, March 23, 2012

NÃO PASSAM MAIS!!!!!!

Em nome dos nossos braços
em nome das nossas mãos
em nome de quantos passos
deram os nossos irmãos.
Em nome das ferramentas
que nos magoaram os dedos
das torturas das tormentas
das sevícias dos degredos.
Em nome daquele nome
que herdámos dos nossos pais
em nome da sua fome
dizemos: não passam mais!

E em nome dos milénios
de prisão adicionada
em nome de tantos génios
com a voz amordaçada
em nome dos camponeses
com a terra confiscada
em nome dos Portugueses
com a carne estilhaçada
em nome daqueles nomes
escarrados nos tribunais
dizemos que há outros nomes
que não passam nunca mais!

Em nome do que nós temos
em nome do que nós fomos
revolução que fizemos
democracia que somos
em nome da unidade
linda flor da classe operária
em nome da liberdade
flor imensa e proletária
em nome desta vontade
de sermos todos iguais
vamos dizer a verdade
dizendo: não passam mais!

Em nome de quantos corpos
nossos filhos foram feitos.
Em nome de quantos mortos
vivem nos nossos direitos.
Em nome de quantos vivos
dão mais vida à nossa voz
não mais seremos cativos:
o trabalho somos nós.
Por isso tornos enxadas
canetas frezas dedais
são as nossas barricadas
que dizem: não passam mais!

E em nome das conquistas
vindas dos ventos de Abril
reforma agrária controlo
operário no meio fabril
empresas que são do estado
porque o seu dono é o povo
em nome de lado a lado
termos feito um país novo.
Em nome da nossa frente
e dos nossos ideais
diante de toda a gente
dizemos: não passam mais!

Em nome do que passámos
não deixaremos passar
o patrão que ultrapassámos
e que nos quer trespassar.
E por onde a gente passa
nós passamos a palavra:
Cada rua cada praça
é o chão que o povo lavra.
Passaremos adiante
com passo firme e seguro.
O passado é já bastante
vamos passar ao futuro.

(Ary dos Santos)
(O sangue das palavras)

(post pré-programado)


Tuesday, March 20, 2012

As vezes que forem precisas...






ACORDAI!

Acordai
Acordai, homens que dormis
A embalar a dor
Dos silêncios vis!
Vinde, no clamor
Das almas viris,
Arrancar a flor
Que dorme na raíz!

Acordai!
Acordai, raios e tufões
Que dormis no ar
E nas multidões!
Vinde incendiar
De astros e canções
As pedras e o mar,
O mundo e os corações...

Acordai!
Acendei, de almas e de sóis,
Este mar sem cais,
Nem luz de faróis!
E acordai, depois
Das lutas finais,
Os nossos heróis
Que dormem nos covais.

ACORDAI!


José Gomes Ferreira

(ainda distante. depois volto.)

Wednesday, March 14, 2012

Tempo de Elis



Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus,
Juro que não acreditei
Eu te estranhei, me debrucei
Sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei, e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos, teu pijama
Nos teus pés, ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei prá maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
Até provar que ainda sou tua.


(vou ali. depois volto.)

Monday, March 12, 2012

Faltam-me as palavras


Faltam-me as palavras para te dizer o que sinto. Mas basta que me olhes e podes ler-me por dentro. Falta-me o teu corpo para que as minhas mãos te atravessem. Mas faço-me ponte e estarei em breve a teu lado. Falta-me a tua voz para me acordar cedinho ou para o beijo de boa noite. Mas invento-me a cada instante e estás sempre dentro de mim.
Dos rios que navegámos faço margens cheias de árvores e flores e montes cheios de pedras e urze. E desenho-te. Das estradas que percorremos fiz um caminho único, onde passo a passo chegarei ao fim. E sorris-me. Dos mares em que mergulhámos deixo que a natureza os transforme em mantos de mansidão ou de revolta. E amo-te.
Faltam-me as palavras. Faltam-me as mãos. Faltas-me tu. Falta-me tanto...

Friday, March 09, 2012

Música para o fim-de-semana



Bom fim-de-semana. Comprido...

Thursday, March 08, 2012

Poema em Homenagem ao Dia da Mulher


Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.

Elas lutam por aquilo em que acreditam.
Elas levantam-se contra a injustiça.
Elas não aceitam um "não" como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.

Elas andam sem sapatos novos para
que os seus filhos os possam ter.
Elas vão ao médico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.

Elas choram quando os seus filhos adoecem
e alegram-se quando os seus filhos ganham prémios.
Elas ficam contentes ao falarem de um aniversário
ou de um novo casamento.

Pablo Neruda

Wednesday, March 07, 2012

Tuesday, March 06, 2012

No 91º aniversário do meu Partido!


MEU GLORIOSO PARTIDO


Meu glorioso Partido
Comunista Português,
ao dares-me à vida sentido,
deste-me a vida outra vez.

Na multidão já fui só.
Hoje, em mim, sou multidão.
Basta-me aceitar que sou
como os demais homens são.

O olhar antes estreito
em redor passou-me a ver.
Meu coração no meu peito,
oiço-te noutros bater.

A voz que isolada era
fundia-a numa maior.
Fez-se-me a dor primavera
e a desconfiança amor.

A própria pátria que eu tinha,
idêntica a não ter nada,
de alheia voltou a minha,
pelo teu dom reconquistada.

Meu glorioso Partido
Comunista Português,
ao dares-me à vida sentido,
deste-me a vida outra vez.


Armindo Rodrigues

Monday, March 05, 2012

Há dias assim...



Não gosto dos dias assim. Húmidos e ácidos. Recolho-me em concha e espero que venhas. Sem pressas, já que o tempo é tanto.
Acendo a lareira e abro um vinho antigo. Como o amor que nos damos. Deixo-o respirar e sirvo-o em duas túlipas. Ao longe o mar.
Retomo a leitura do livro na página em que falas da vida. Talvez eu deva falar da morte. Da que sinto nos rostos de quem dorme na rua.
Não sei quanto tempo já passou desde que te espero. O vinho nos copos, a lareira crepita. Ao longe o mar, que me chama.
Sabes que não gosto dos dias assim. Ácidos e húmidos. Dispo-me de mim porque tu não vens. Abro a porta e saio. Vagueio sem tempo e sem norte. O mar chama-me e eu mergulho. E fico, no abraço imenso que me deste. Porque hoje, meu amor, o mar és tu...

Saturday, March 03, 2012

Música para o fim-de-semana



María en el corazón


Línea 4 "San Bernardo"
y apagándose el verano,
los dos metros se pararon.
Y yo, sentado, mirando.

Sentada en el tren contrario,
también me estaba mirando.
Sonreí, sonrió, y supe
que no estaba soñando.

Pobré a cerrar los ojos
por ver si se evaporaba,
y el destino, en un antojo,
la mantuvo en la ventana.

Dijo su nombre en un gesto
que ni dijo, ni se oía,
pero yo sentí un estruendo,
y el estruendo repetía:

María.
Dijo en silencio.
María.
Repetí ileso.

María.
Sencillamente.
Y yo ileso.
Milagrosamente.

Yo le propuse bajarnos
y sonó como un disloque.
Ella bajó la cabeza,
negando, con un reproche.

Luego volvió a sonreír,
y se dio la vuelta en vuelo,
pintando en el aire olores,
revueltos como pañuelos.

Silbó el metro y de repente,
lo que no empezó, acababa.
Y María entre la gente,
se fue junto a su ventana.

Yo me quedé en el vagón,
moviendo la testa en vano.
María en el corazón.
Y el corazón en la mano.

María.
Dijo en silencio.
María.
Repetí ileso.

María.
Sencillamente.
Y yo ileso.
Milagrosamente.

Thursday, March 01, 2012

Eu luminoso não sou



Eu luminoso não sou. Nem sei que haja
Um poço mais remoto, e habitado
De cegas criaturas, de histórias e assombros.
Se, no fundo poço, que é o mundo
Secreto e intratável das águas interiores,
Uma roda de céu ondulando se alarga,
Digamos que é o mar: como o rápido canto
Ou apenas o eco, desenha no vazio irrespirável
O movimento de asas. O musgo é um silêncio,
E as cobras-d'água dobram rugas no céu,
Enquanto, devagar, as aves se recolhem.


José Saramago
(in Provavelmente Alegria)