(Durante dias andei a ruminar estes versos)
A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar noites estreladas...
...Mas este querer arrancar a própria sombra do chão
e ir com ela pelas ruas de mãos dadas.
...Mas este sufocar entre coisas mortas
e pedras de frio
onde nem sequer há portas
para o Calafrio.
...Mas este rir-me de repente
no poço das noites amarelas...
- única chama consciente
com boca nas estrelas.
...Mas este eterno Só-Um
(mesmo quando me queima a pele o teu suor)
- sem carne em comum
com o mundo em redor.
...Mas este haver entre mim e a vida
sempre uma sombra que me impede
de gozar na boca ressequida
o sabor da própria sede.
...Mas este sonho indeciso
de querer salvar o mundo
- e descobrir afinal que não piso
o mesmo chão do pobre e do vagabundo.
...Mas este saber que tudo me repele
no vento vestido de areia...
E até, quando a toco, a própria pele
me parece alheia.
Não. A minha solidão
não é uma invenção
para enfeitar o céu estrelado...
...mas este deitar-me de súbito a chorar no chão
e agarrar a terra para sentir um Corpo Vivo a meu lado.
José Gomes Ferreira
(9.Junho.1900 - 8.Fevereiro.1985)
Sunday, February 08, 2009
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34 comments:
Não me esqueço da última vez que estive com ele, quatro anos antes da sua morte. Por aqui será sempre eterno.
Abreijos.
Tremendo!
a ruminar estes versos?...ainda bem q não é tua a solidão.
Quando vi o título, apressei-me tão devagar que já não cheguei a tempo.
Um beijo meu para ti Maria.
Claro, Maria, quem está vivo não inventa a solidão,sente-a. José Gomes sabia inventar, sim, de que maneira, mas a solidão, não. Bom domingo. Bj.EA
uma solidão e um corpo vivo a meu lado que é a terra...
fortíssimo poema!
beijo
João
Gostei do poema..
O "Luar" já está aberto!
Era um dia só de silêncio mas, ok, tudo bem... agora vê se apareces
jnhs meus
Cada vez mais sós, cada vez mais tristes, cada vez mais pobres...
Beijos, Maria.
Um poema intenso. A solidão é um tema que sempre fala com quem ler.
abraços
Delfim Peixoto
Desculpa se interrompi o teu silêncio...
Bjinhos
Eu tentei, mas vi que não chegou aí. Acabei por pôr...
Muitas vezes, a solidão está entre dois desesperos: o de querer arrancar a própria sombra (para anular a falta de companhia) e o de nos parecermos alheios a nós próprios...
(faz-me todos os reparos. todas as chamadas de atenção p.f.)
Abraço forte
voltarei... na minha solidão.
um abraço
Destaco o teu blog com o Prémio de Excelência momentUS, que anualmente atribuo aos blogs que me tocam a essência... pela escrita de afectos em plena transparência... sem medos.
:)
Vai ao meu blog e traz o destaque que te pertence.
São pessoas como tu que fazem a diferença neste mundo... virtual ou real.
Abraço
Ni*
Quando quiseres quebrar a solidão, já sabes: conta comigo.
Beijos.
As vezes há palavras que não nos saem do pensamento.
um abraço
tulipa
Maria! Como diz Gomes Ferreira,a solidão se sente de muita coisa,é um mau estar constante,de coisas e bens,que nem irei falar claro,mas está aí?
Beijinho de amizade
Grande, enorme, Zé Gomes Ferreira!
Fizeste-me saudades, vou relê-lo.
Bela ruminação:))
Olá AMIGA
Muito obrigado pelas tuas palavras de apoio neste difícil momento da minha vida.
Tenho outro texto que fiz com 12 palavras, desta vez participei mesmo no jogo, enviei o texto a tempo.
Todo ele é sobre a vivência da Tânia, desde os tempos em que me acompanhava, saíamos juntas em perfeita alegria e saúde, até aos ultimos tempos, ultimos 3 meses da vida dela.
Mas...antes dela ter entrado em coma, na 2ª feira passada.
Agora tudo mudou...
Boa semana para ti.
Um abraço de quem se sente perdida.
Solidão insuportável, aquela que se sente, quando se está rodeado de gente, que não nos diz nada.
Um abraço e resto de bom domingo
E esta força enorme e indomável que grita nas palavras, só a deste POETA, todo em letras maiúsculas!
Bj. Amiga e obrigada pela partilha.
Maria Mamede
Boa memória Maria
Que bom foi ler(te) de novo...
Beijinho, Maria*
Mais um poema a acrescentar á lista daqueles que conheci aqui.
profundo, arrancar a sombra do chão para andar com ela de mãos dadas...
Não há solidões inventadas.
ás vezes há apenas quem não saiba estar sozinho... mas isso é diferente... isso seria uma outra história e daria um outro poema...
que obviamente eu não seria capaz de escrever apenas sentir...
cada bocadinho de chão pisado, cada olhar, o frio a entrar em nós...
beijos Maria Muitos, Muitos Muitos
jfdcapenmcap
gosto muito de José Gomes ferreira. hoje é a 2ª vez que o leio.
Minha querida e ainda bem que tu ruminas!!! Nós agradecemos! beijos...grandes...
Ontem tinha passado por aqui e tinha lido o poema. Achei-o de uma intensidade que nos deixa um arrepio.
Fui-me embora, mas hoje voltei para dizer que gosto muito daquilo que nos dás a conhecer na tua casa.
A solidão não é uma invenção...
Boa semana.
Beijitos
Maria,
excelentes 'ruminações'. estas.
gostei da partilha.
boa semana
um sorriso :)
mariam
Maria
Obrigado por nos trazeres Á memória esta força do José Gomes Ferreira.
Bjos amiga
Muito obrigada por terem passado aqui.
Beijos a todos
Este é dos poemas que não consigo comentar.
E como poderia?
É tudo o que alguma vez já sentimos e não soubémos verbalizar.
Beijinho
sem palavras
porque fala de mim.
Um beijo
enorme
Ilha
Contar de quantas vezes
se agarra a terra para sentir.
Tão sofredora a solidão já quando nossa.
Bj
O inconfundível José Gomes Ferreira.
Um beijo grande.
Nossa!!! Não sei dizer mais nada além disso.
Beijinhos
Amei esse poema... não conhecia... mas me pareceu tão triste
bjns... mitos!
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