Monday, August 09, 2010

Vou-me embora pra Pasárgada



Vou-me Embora pra Pasárgada



Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira

18 comments:

salvoconduto said...

Eu também quero ir. :)

Abreijos e boa semana.

Leticia Gabian said...

Vim embora pra Pasárgada.
Aqui, não sou amiga do rei
Mas tenho a cama e o homem
...Quase tudo que desejei!!!!


Beijo imenso, AICeT!

Ana Oliveira said...

Já disse este poema tantas vezes...e nunca encontrei o caminho! Vou dizendo baixinho e um dia talvez descubra que Pasargada está ao virar da esquina duma qualquer rua onde passe por acaso.

Para quando se está triste...

Obrigada

Um beijo

Anonymous said...

"E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias"

Um de meus poemas prediletos de M. Bandeira!

Um beijo

Fernando Pinto said...

Beijinho de quem nunca se esquece do teu enorme abraço... Boas férias!

Anonymous said...

bela a vida!
bonito este poema.

beijos Maria.

Fernando Samuel said...

Eu vou ficando por cá...

Um beijo grande.

viajantes said...

também vou, mesmo que fique!...
abraço, tanto!

A.S. said...

Maria...

Pasárgada... onde a voz dos poetas encontra a nascente de um rio sem margens, onde sobrevivem as utopias...

Um beijo!
AL

GR said...

Eu também vou, não volto mais!

BJS,

GR

Manuela Freitas said...

Espera aí Maria, eu vou contigo, isto está tão monótono!?...
Beijinhos,
Manuela

samuel said...

De vez em quando apetece, não é? :-)))

Beijo.

Cristina Caetano said...

Essa vontade em mim é constante...

Beijinhos, Maria.

Justine said...

Posso ir contigo???

Filoxera said...

E eu vim embora para a minha província...
;-)
Beijos.

OUTONO said...

Vai...mas volta!

Que bom recordar este poema...

Beijinho!!!!!

vovó said...

tirem-me daquiiiiii!!!!

beijocasssss
vovómaria

Rosa dos Ventos said...

Digo tantas vezes este primeiro verso deste poema de fuga ao desencanto....

Abraço