Sunday, December 19, 2010

Memória de José Dias Coelho



A Morte Saiu À Rua

A morte saiu à rua num dia assim
Naquele lugar sem nome pra qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu

Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação

José Afonso

(a José Dias Coelho, pintor e escultor, militante comunista,
assassinado pela PIDE faz hoje 49 anos!)
(tinha 38 anos...)



13 comments:

salvoconduto said...

Até hoje ninguém pagou pelo crime. Foram mandados em paz, alguns condecorados outros com pensões vitalícias...

Abreijos.

Baila sem peso said...

Nem sei se sei comentar...
tudo tão triste, tão amargo...
quando a morte tem deste jeito lugar...e o Zeca nem dá para começar...bom demais...serviu para eu acordar e estar aqui um pouco para conversar :))

Bem, desculpa-me vir só hoje...
sei, ando afastada
já li tudinho, na tua estrada...
tenho de andar noutros caminhos
perco muito tempo nos meus miminhos
e depois já ´tou tããão cansada
que não me apetece é nada...
mas hoje mesmo de pestana pendurada
vim deixar-te um olá
e dizer-te que não te esqueci
e ainda ando por cá!
Sempre que possa espreito
e ou sorriu ou me deleito...
a minha rima anda meia sem jeito...
enfim, agora estou quase a bater com o nariz no teclado :)))
mas tenho de dizer tudo hoje
que não sei quando volto por este lado!:)
Vou dormir, Maria...
e até outro dia, com simpatia
que me deixe estar mais um momento
para amizade lançar ao vento
que a possa entregar
aos amigos do pensamento :)

Beijinhos com carinho

anamar said...

Saudades. Maria...
Espero que o 2011 d^e para um encontro...
Ana

Justine said...

Esta é para o S. se emocionar até às lágrimas...

Carlos Albuquerque said...

"De todas as sementes confiadas à terra é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas".
É tempo de sermos seara.
Abraço

Licínia Quitério said...

Que a memória não se apague. Para que nunca mais.

Um grande abraço, Maria.

Fernando Samuel said...

Bela dupla homenagem!

Um beijo grande.

José Leite said...

Um povo tem na memória um pilar mais digno da cidadania.
Parabéns.

Paula Barros said...

Quantas mortes foram assim pelo mundo? Aqui teve muitos casos.

Fiquei apreciando a forma que foi escrito a homenagem.

beijo, saudades!

Lúcia Laborda said...

Oie Maria; Fiquei super feliz em passa por lá. Que bom!
Esse é uma poesia forte! Mas gostei muito do final: "Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas duma nação"
FELIZ NATAL! Boa semana! Beijos

svasconcelos said...

Uma das razões que me traz sempre aqui é o desfilar de boa música, boa literatura e boas memórias!
Obrigada, Maria. Vir até aqui hoje ouvir e ler Zeca, relembrar José Dias Coelho, foi um dos momentos bons do meu dia.
Um beijo,

Maria said...

Obrigada por terem passado aqui.
Boa semana para todos.

Beijos.

Luis Eme said...

o assassinio de Dias Coelho é um dos episódios mais cobardes e execráveis da Pide, tal como o de Alex Dinis, perto de Belas...

beijinho Maria