Wednesday, June 09, 2021

Viver sempre também cansa


O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

José Gomes Ferreira

2 comments:

Justine said...

Um poema adequado aos tempos que estamos a viver, com desalento e alguma resignação!
Bom fim de semana para ti, conterrânea amiga

Parapeito said...

Olá doce Maria.
Fiquei muito contente por ter passado no Parapeito.
É verdade que alguns blogs teimam em continuar :)
Gosto muito do José Gomes Ferreira, mais um grande poeta esquecido.
os primeiros livros que li dele foram os 3 volumes do Poeta Militante.
Tão actual as suas palavras...Ele bem sabia.
Abraço e brisas doces ***