A ilegalização do PCP
A 28 de Maio de 1926, um golpe militar
encabeçado pelo General Gomes da Costa,
longamente preparado pelas forças reaccionárias do
grande capital para colocar o Estado ao seu serviço
e travar o movimento operário, impõe a ditadura em
Portugal. Foi a reviravolta dos grandes capitalistas
para o agravamento da exploração e o confronto com
o movimento operário e a sua tomada de consciência
política. É dissolvido o Parlamento e imposta
a censura prévia à imprensa. São demitidas as
vereações municipais. Inicia-se a perseguição policial
terrorista às organizações e militantes democráticos
e sindicais.
São criados todos os instrumentos necessários para
esmagar a oposição e todos os que da ditadura discordam. As sedes do PCP são encerradas e o PCP é ilegalizado.
Ilegalizado, o PCP prepara-se para a resistência antifascista, em situação de clandestinidade. A Conferência
de Abril e a eleição de Bento Gonçalves para Secretário-Geral do PCP desempenham um importante papel.
Posteriormente, a reorganização de 1940/1941 permitirá
ao PCP desenvolver-se de novo rapidamente em bases
mais sólidas transformando-se então, e para sempre,
num grande partido nacional.
A clandestinidade não foi uma escolha dos comunistas. Foi uma situação que lhes foi imposta pela ditadura fascista.
O regime fascista negava todas as possibilidades de
qualquer actividade política democrática. Reprimia
ferozmente a mais pequena manifestação de protesto.
Decretava «ilegais» as mais modestas reclamações. Nas
condições do terror fascista, aceitar as «leis» fascistas significava capitular, abandonar a luta. Continuar
a desenvolver a luta era «ilegal». E qualquer organização política que quisesse prosseguir na luta só podia
fazê-lo na clandestinidade, ou seja, sem conhecimento
da polícia fascista.
O PCP seguiu o duro caminho da clandestinidade para
lutar pela liberdade. Contra todas as calúnias e mentiras,
contra as perseguições e o terror, o PCP permaneceu
na luta, estruturou-se na clandestinidade, tornou-se na
«ilegalidade» a principal força de oposição ao fascismo.
A entrega do processo de legalização do PCP
faz hoje 50 anos
Conquistada a liberdade com o levantamento militar
e popular do 25 de Abril, o Partido foi o primeiro partido a entregar o processo de legalização.
Uma delegação composta pelos camaradas Álvaro Cunhal, Secretário-Geral do Partido, Octávio Pato e
Sérgio Vilarigues do Secretariado do Comité Central
(CC), Dias Lourenço da Comissão Política e Pedro Soares do CC, acompanhados pelo advogado comunista
Lopes de Almeida, estiveram no dia 26 de Dezembro
de 1974 (faz hoje cinquenta anos), no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), onde fizeram a entrega de toda a
documentação exigida por lei para a formalização da
legalização do PCP.
O significado político era entendido
como um marco na vida e na história do
PCP e simultaneamente um passo relevante
na institucionalização da democracia portuguesa saída do movimento de 25 de Abril.
O partido dos trabalhadores, o partido
da resistência que ao longo de 48 anos de
fascismo viveu na mais feroz «ilegalidade»
e pôs em prática formas das mais complexas na luta clandestina, foi também o
primeiro a apresentar o processo para a
formalização da sua legalização, marcando
assim, no plano institucional, a afirmação
das liberdades democráticas alcançadas
com a Revolução de Abril.
O pedido de legalização entregue no STJ
subscrito por 6145 portugueses de todos os
pontos do País, revestiu-se de uma certa
solenidade, pelo próprio significado que
assumia: significava não somente que o
Partido se submetia à lei e e se propunha
acatá-la, mas também a sua vontade de
velar firmemente para que fosse respeitada
e cumprida e que defenderia com todas
as suas forças a legalidade democrática.
Com o processo de legalização, foi dado um novo
passo, ao qual se seguiram muitos outros passos, para
que o PCP pudesse pensar, trabalhar, organizar-se e
exprimir-se em liberdade.
A luta pela liberdade e em defesa do regime
democrático prossegue
Toda a luta travada, ao longo dos últimos cinquenta
anos em defesa do regime democrático, pela afirmação dos valores de Abril e em defesa da Constituição,
contra operações de provocação ou de mistificação,
mentira, manipulação e calúnia, que incluíram a destruição de Centros de Trabalho, bem como contra
as disposições antidemocráticas das leis aprovadas
(Lei Orgânica (LO) n.º 2/2003 , de 24 de Abril, com
as alterações introduzidas pela LO n.º2/2008, de 14
de Maio - «Lei dos Partidos Políticos») e sucessivamente interpretadas abusivamente, visando retirar
aos membros do Partido a liberdade de decidir sobre
a sua forma de organização e impor ao PCP o modo
de funcionamento de outros partidos e desencadear
processos de devassa da vida interna e de abusiva
limitação à angariação de meios que lhe permitam
garantir a sua sua intervenção política, inserem-se
neste combate.
Como sublinhou no seu XXII Congresso, este é o
combate que o PCP hoje prossegue para enfrentar uma situação em que se adensam os projectos de intensificação de uma política ao serviço do capital monopolista e de promoção de concepções retrógradas e
reaccionárias que ameaça direitos, condições de vida
e a democracia. Tomando a iniciativa, por Abril, pela
democracia, pelo socialismo e o comunismo.
Avante nº 2665
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