Thursday, April 17, 2025

Hás de morrer de não me ver

 
Hás de morrer no meu olhar,
quando eu fechar os olhos cansados
de reter os meus versos,
em busca de outros versos diferentes,
igualmente diferentes,
ainda teus,
tão teus,
tão profundamente teus
que os amo
antes de os escrever,
antes até pensar que me era possível
escrevê-los.
Hei de morrer de não te ver.
Apunhalado por um vazio perfeito,
o mais significativo vazio,
representado na grande antologia dos vazios.
Morremos ambos de lonjura
e solidão.
Ceguinhos um do outro.
Habituados
à luz escura desta
ideia.

Joaquim Pessoa
(o Poeta com olhos de pássaro.
E todos os pássaros se calaram muito antes de anoitecer.)

Thursday, April 03, 2025

Salgueiro Maia

 

Aquele que na hora da vitória
Respeitou o vencido
Aquele que deu tudo e não pediu paga
Aquele que na hora da ganância
Perdeu o apetite
Aquele que amou os outros e por isso
Não colaborou com sua ignorância ou vício
Aquele que foi «Fiel à palavra dada à ideia tida»
Como antes dele mas também por ele
Pessoa disse
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Salgueiro Maia deixou-nos no dia de hoje, em 1992