Monday, August 31, 2009

Um amor sem medida


Não meço as saudades que te tenho. Não posso. Porque não têm medida.
Já sequei as lágrimas que me faziam rio. Agora só o brilho do olhar me denuncia.
Todos os poemas de amor que escrevo são para ti. Porque foste o amor primeiro.
E porque amor primeiro, o mais menino, o mais verdadeiro. O mais criança, ainda. Hoje.
Por que tem que ser assim, por que foi assim, não sei.
Porque te perdeste de mim se eu nunca te perdi…
E porque me perdi de ti se tu nunca me perdeste…
Ah, se eu soubesse responder…
Chovo, outra vez. Não meço as saudades que te tenho. Porque não posso.
Porque o nosso amor é um amor sem medida…

Respirei, outra vez.
Às vezes sufoco de me ler. Ou de te ler. Ou de ler por aí…
Agora respiro!

Saturday, August 29, 2009

Música para o fim de semana



"Hay hombres que lucha un dia y son buenos
Hay otros que luchan un año y son mejores
Hay quienes luchan muchos años y son muy buenos
Pero hay los que luchan toda la vida:
Esos son los imprescindibles"
(Bertold Brecht)

Sueño con serpientes, con serpientes de mar
Con cierto mar, ay, de serpientes sueño yo
Largas, transparentes, y en sus barrigas llevan
Lo que puedan arrebatarle al amor

Oh, la mato y aparece una mayor
Oh, con mucho más infierno en digestión

No quepo en su boca, me trata de tragar
Pero se atora con un trébol de mi sien
Creo que está loca: le doy de masticar
una paloma e la enveneno de mi bien

Oh, la mato y aparece una mayor...

Oh, con mucho más infierno en digestión

Esta al fin me engulle, y mientras por su esófago
Paseo, voy pensando en qué vendrá
Pero se destruye cuando llego a su estómago
Y planteo con un verso una verdad

Oh, la mato y aparece una mayor...
Oh, con mucho más infierno en digestión

Oh, la mato y aparece una mayor...

Thursday, August 27, 2009

Agarrar o futuro


Sorriu a terra ao receber a semente fecundada de esperança
no acto do amor em que se estremeceram pingos de chuva.
E no final da esperada, dolorida, intensa e prolongada gestação
a terra rasgou-se e pariu homens mulheres e flores que encheram
ruas e praças para, num grito à liberdade, agarrarem o futuro!

Tuesday, August 25, 2009

Pequeno poema

Klimt, Mãe e Filho

Quando eu nasci,

ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P'ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...

(Sebastião da Gama)

Thursday, August 20, 2009

Sempre esperei por ti


Sempre esperei por ti. Pelos sonhos que queríamos sonhar.
No meu leito o silêncio e o frio.
Sempre esperei por ti. Pela vida que queríamos viver.
Nos meus braços a ausência e a saudade.
Sempre esperei por ti. Pelos beijos e pelo amor, que era nosso.
Em mim a dor do impossível.
Sempre esperei por ti. Tenho o teu nome em cada flor e em cada janela.
Mas não te tenho a ti.
No entanto, sempre esperei por ti...

(faço uma pausa. necessária...)

Agradecendo...

Foi este blogue agraciado com o prémio "Comprometidos y Más 2009", vindo do meio do Atlântico, Açores, do blogue 'momentos'. Fui surpreendida com este prémio quando estava na Guarda, daí só agora ter agradecido o mesmo.


Porque o "Cantigueiro", também agraciado com este prémio, descreve uma situação passada com o dono do blogue momentos, Aníbal Pires, peço-vos que se dirijam até lá e leiam. E já agora tirem as vossas conclusões...

Deduzo que deverei atribuir este prémio a cinco blogues comprometidos culturalmente, politicamente, socialmente, e assim sendo hoje vou mesmo fazê-lo.
Os nomeados são Instantes da vida, Mar sem sal, Caderno de campo, Tempo de Janela e Vale a pena lutar.

Muito obrigada, Aníbal Pires. Farei por merecer o prémio que me atribuíste...

Em tempo: também a São me atribuiu este prémio hoje, dia 28. Obrigada São.

(este prémio passará a morar no sítio do costume, indicado no lado direito do blogue, em cima)

Wednesday, August 19, 2009

Recordando Federico Garcia Lorca


Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.

Los toros se han revelado,
la impotencia llora y llama,
y desde un río de sangre
hay una voz que reclama, ¡ay!
hay una voz que reclama
la importancia de un amigo,
poeta de cien mil lunas,
garganta dura y hombruna,
gitano de profesión, ¡ay!
por quien hoy rompo yo la voz.

Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.

Se te escapó la mañana
por detrás de la alcazaba,
caminando ya sin prisas,
amaestrando sonrisas, ¡ay!
amaestrando sonrisas;
y se tiñeron los campos
verdes de la primavera
cuando la nación entera
cabalgó sobre tu llanto ¡ay!
Tú poeta, y ellos tantos...

Verde que te quiero verde, ¡ay!
verde que te quiero verde.

Hoy el verso me reclama
una luz y una llamada,
un canto de cuerpo y alma
como el que el tuyo cantaba, ¡ay!
como el que el tuyo cantaba.

Y el pueblo llora la calma,
y canta porque se ahorca,
y hace tu muerte inmortal
cada vez que alguien te nombra
Federico García Lorca.


(a Federico Garcia Lorca, que partiu há 73 anos)

Tuesday, August 18, 2009

Em jeito de balanço


... se é que se pode fazer balanço de quase três semanas de trabalho, no distrito da Guarda. Ou da necessidade que tenho de dizer aqui que, enquanto se faziam as listas da CDU para as Autarquias, o PS tentou por vários modos 'aliciar' ou militantes da CDU, ou independentes que figuravam nas listas da CDU, para obter o nome deles para as suas listas, prometendo que ficariam num lugar elegível. Que forma feia de fazer política...
Do trabalho feito devo dizer que apresentámos listas (a tempo e horas!) a todas as Câmaras e Assembleias Municipais dos 14 concelhos do distrito, e a muitas das freguesias dos mesmos concelhos.
O trabalho foi intenso, mas gratificante. Difícil, mas estimulante. Com dores no peito, pela ansiedade, mas foi feito. Agora vem o trabalho mais difícil e mais cansativo: a Campanha. Depois, é esperarmos pelos resultados...
Quero expressar aqui a forma como, mais uma vez, as gentes das beiras nos recebem. Como nos abrem as portas de suas casas. Como põem na mesa o que de melhor têm. E pedir desculpa a alguns (!!!) pelo meu mau feito, mas sou assim quando estou a trabalhar sob pressão...
Marcámos encontro para daqui a duas semanas e pouco.
Na FESTA que é a NOSSA!
Até lá...

Sunday, August 16, 2009

mÃe


Rompes-me o corpo com o teu olhar
De cada vez que sou horizonte
Entrego-me, mãe, ao teu acordar
Como um rio que regressa à fonte

Nas mãos, o teu silêncio de ninar
No sorriso, um abraço em ponte
Entrego-me, mãe, de novo ao teu olhar
De cada vez que sou horizonte

Saliva de palavras por fechar
Seiva de dentro, em verso e monte
Rompes-me, mãe, o corpo no teu acordar
Como um rio que regressa da fonte

(Post totalmente 'surripiado' ao Pedro Branco)

Saturday, August 15, 2009

Para ti

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Uma vida interrompida antes de tempo. Abruptamente. Sem se esperar. Por isso dói ainda mais.
Sabes porque não posso estar ao teu lado, mas ESTOU! Da nossa forma de estar.
Abraço-te, tanto...

Música para o fim de semana



É de sonho e de pó
O destino de um só
Feito eu perdido
Em pensamentos
Sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De jibeira o jiló
Dessa vida
Cumprida a só

Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

O meu pai foi peão
Minha mãe solidão
Meus irmãos
Perderam-se na vida
À custa de aventuras
Descasei, joguei
Investi, desisti
Se há sorte
Eu não sei, nunca vi

Sou caipira, Pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

Me disseram, porém
Que eu viesse aqui
Prá pedir de
Romaria e prece
Paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar
Meu olhar

Sou caipira, pirapora
Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda
O trem da minha vida

Friday, August 14, 2009

Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruída,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sozinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas


Bertold Brecht
(10 de Fevereiro de 1898 - 14 de Agosto de 1956)

(post pré-programado)

Monday, August 10, 2009

Silêncio


Tão baixo grita o silêncio que me invade
que ninguém o ouve de verdade
apenas eu o sinto numa eternidade
e ficará dentro de mim como a saudade

solto as asas e voo lentamente
carrego-me de beijos e amores docemente
ao som da viola canto eternamente
e sei que assim nunca serei ausente


(ausento-me da net. novamente. só mais uns dias...)

Saturday, August 08, 2009

pAuSa


Cânticos. Poetas. Fontes e rios a transbordar. Verdes espaços por entre fúrias e gritos. Calor de paixões entrelaçadas. Movimentos de ternura em suaves aromas a fel. Memórias içadas no mastro da impaciência. A noite consome-me hoje. E não sei para onde me levam as palavras...

Pedro Branco

Thursday, August 06, 2009

Para que nunca mais!


Rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária

A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada


(Vinicius de Moraes)
(foto da net)



(post pré-programado)

Saturday, August 01, 2009

Neste tempo hoje


Hoje apetecia-me colocar aqui poemas de Brecht. Meia dúzia de poemas de Brecht. Porque todos eles estão mais que actuais e fazem todo o sentido. Mas prefiro dizer palavras que me estão a martelar e querem sair. Faço-lhes a vontade, o trabalho vai esperar cinco minutos (não é muito) e vou deixar as palavras sair.
Neste tempo hoje não há sábados domingos ou feriados. Há trabalho que tem de ser feito. E uma enorme alegria em fazê-lo.
Estou numa zona do país que é o meu em que o trabalho político é difícil, muito difícil. Mas é assim que eu gosto. Nunca gostei de coisas fáceis, não têm sabor. É um trabalho feito contacto a contacto, amigo a amigo, e nunca o subir e descer ruas de pedras irregulares me deu tanto gozo. Sei que há compensações.
Porque neste tempo hoje não há sábados domingos ou feriados. Há trabalho que tem de ser feito. E há uma enorme alegria em fazê-lo.
Há quatro anos, nesta mesma cidade capital de distrito, depois de todas as listas terminadas, do computador estar fechado e de todos nós nos olharmos e respirarmos com um sorriso apareceu um camarada por volta da hora do almoço - as listas seriam entregues no Tribunal às duas da tarde - com uns papéis na mão. Mais uma lista. Onde? Vamos concorrer a Sortelha. O quê? Sortelha? Sim, mas como já fechaste o computador eu faço as listas à mão. Era o que faltava.
Porque neste tempo hoje não há sábados domingos ou feriados. Há trabalho que tem de ser feito. E há uma enorme alegria em fazê-lo.
Volta a abrir o computador e toca de fazer a lista à assembleia de freguesia de Sortelha. Disse na altura que, se metessemos uma pessoa, viria aqui festejar. Não metemos uma, numa lista de sete metemos três! Cada nome para a lista trabalhado até ao fim. Convencer as pessoas, numa zona difícil como esta. Cada voto conquistado a pulso.
Porque há trabalho que tem de ser feito e uma enorme alegria em fazê-lo.
O caminho faz-se caminhando, dizia o poeta.
Venham mais ruas de pedras irregulares e desconjuntadas, para que nestas duas semanas que ainda faltam podermos encontrar e falar e convencer pessoas honestas a fazerem parte das nossas listas. Cada nome é um bem precioso porque significa que essa pessoa não tem medo, aqui. Cada voto uma conquista que sabe tão bem...
E pronto, as palavras já saíram e eu gastei mais de cinco minutos. Logo recupero. Tudo estará pronto a tempo e horas. Sem cansaço, porque não pode haver cansaço. Como tão bem disse Brecht...
Neste tempo hoje em que não há sábados domingos ou feriados. Há trabalho que tem de ser feito. E há uma enorme alegria em fazê-lo...

(depois volto. um dia, mais tarde...)