Friday, December 25, 2009

Litania para o Natal de 1967

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num sótão num porão numa cave inundada
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
dentro de um foguetão reduzido a sucata
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
numa casa de Hanói ontem bombardeada

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
num presépio de lama e de sangue e de cisco
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para ter amanhã a suspeita que existe
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Tem no ano dois mil a idade de Cristo

Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
Vê-lo-emos depois de chicote no templo
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento
Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
para nos vir pedir contas do nosso tempo


David Mourão-Ferreira

7 comments:

Manuel Veiga said...

beijo

Boas Festas.

Anonymous said...

"Vai nascer esta noite à meia-noite em ponto
e anda já um terror no látego do vento"...

FASCINANTE!

Um beijo de Feliz Natal!

Paula Barros said...

Maria!

Desejo que as palavras ditas, escritas, recebidas nesse Natal, sejam frutos dos nossos corações e que permanecem durante todos os dias das nossas vidas.

abraços

Teresa Durães said...

há meia-noite em ponto recebi o "BOm Natal" dos filhotes. Engraçado, nunca antes tinha acontecido a hora tão certinha.

Boas festas para ti

OUTONO said...

Há tanto tempo...que não lia este poema....do meu poeta ( entre muitos) de eleição.
Obrigado Maria, por o recordares.
Boas Festas...e um 2010 pequeno de martírios, longo de realizações.
Beijo .

Rosa dos Ventos said...

Obrigada por este poema tão natalício e tão lúcido!

Abraço

João Paulo Proença said...

Maria:

Fizeste umas esoclhas muito felizes para este Natal!

Muitíssimo oportunas de facto

Bom Natal

João