Thursday, January 21, 2010

Assim me sinto hoje



Metade

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante

Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas
Como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas, como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso
Mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio
comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância

Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais
do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

22 comments:

Maria said...

Obrigada Cris, pela idéia que me deste...

:))

Oliva verde said...

É um dos poemas mais bonitos que conheço!
Emociono-me sempre que o leio.
Obrigada

Anonymous said...

Maria!

Todos nós em algum momento nos sentimos assim...metade ....

"E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também".

Esta letra é linda!

Um beijo

SILÊNCIO CULPADO said...

Maria
Oswaldo Montenegro é Oswaldo Montenegro. Quer isto dizer o apreço que tenho pelas mensagens das suas canções.
É linda esta música e esta letra sobretudo quando é sentida por quem tem uma metade de amor e a outra metade também.

Abraço

Manuela Freitas said...

EXCEPCIONAL MARIA!...E EU NÃO CONHECIA!?...
«METADE DE MIM É PROCURA
E A OUTRA METADE TAMBÉM»...
OBRIGADA PELA PARTILHA.
BJS,
MANUELA

Ana said...

Também me sinto hoje assim ... metade grito , metade silêncio ... metade partida, metade saudade ... mas sempre inteira de amor.

O poema é lindíssimo e a voz ... também!
Um beijo, Maria.

Carminda Pinho said...

"Metade de mim é amor... a outra metade também".
Que bom quando sentimos assim...
:)

Beijos, Maria

Leticia Gabian said...

Esta letra é fantástica!

És Maroca inteira, sempre!

Beijo enorme

PS - O teu sobrinho chega dia 5

Justine said...

Gosto das tuas duas metades:))
Abracinhos

Anonymous said...

Talvez esta chuva que não nos larga nos deixe assim.
também me sinto assim, com metade de tudo e cheia de nada.

Feliz da minha filha que disse:
-ó mãe a mim um chocolate já me faz feliz :))

Um grande beijinho Maria
Esta escolha tua acertou em cheio em mim.

Anonymous said...

hello... hapi blogging... have a nice day! just visiting here....

Cristina Caetano said...

:)

Mas me tire uma dúvida, Maria... passei anos achando que a autoria deste poema fosse de Oswaldo, depois disseram que eu estava errada e seria do Fernando Gullar e que Oswaldo apenas o teria interpretado. Afinal de contas, quem é o autor? Sabes? rsrs

Beijinhos

anamar said...

Maria,
gostei de ler o poema... veio ao meu encontro com "alma" meio perturbada...
Estou sem PC.
Descanso.
Bom fim de semana
:)) Abracito

Maria said...

Cris Caetano

Sempre conheci este poema como do Oswaldo Montenegro.
Mas numa busca no google encontrei este link, que pode tirar dúvidas... parece que há dois poemas idênticos...
http://leaoramos.blogspot.com/2007/06/que-minha-loucura-seja-perdoada-em.html
Lê os comentários...

Um beijo grande, Cris
(oh... e com saudade...)

Maria said...

Cris Caetano

Aqui está o "traduzir-se", de Ferreira Gullar

Traduzir-se


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?

Espero ter ajudado...

Beijinho

AnaMar (pseudónimo) said...

Lindo. Vou roubar :-)


Tenho saudades. E tenho que arranjar tempo.
2010 beijossssssssssssss

Fernando Samuel said...

Quem haverá aí que ouse não perdoar uma loucura assim?!...

Um beijo grande.

Ana Echabe said...

Gosto muito de Oswaldo Montenegro,
e bem verdade estas palavras, pois somo, ou poderíamos ser metade em muitas coisas mas quando se referi ou amor só podemos ser amor pois se o dividirmos o que teríamos se não amor, bem, caso seja outra a resposta então nunca foi amor.

Bjinhos e um bom final de semana

Sofá Amarelo said...

Que as metades sejam sempre compatíveis e que possam - como diz o final do poema - preencher um todo!

Muitos beijinhos, Maria! Bom fim-de-semana!!!

Maria said...

Muito obrigada por terem passado aqui.
Bom fim-de-semana.

Beijos a todos

Paula Barros said...

Maria, essa música tem um letra explendida. Fala por mim muitas vezes.

E que o medo nunca nos impeça do que verdadeiramente queremos.

Já assisti um show dele, tinha muita vontade.

abraço

Cristina Caetano said...

Ajudou muito, Maria. Obrigada! :)

"Traduzir-se" foi o primeiro poema de Ferreira Gullar que conheci.

Beijinhos