A Fábrica
Da alavanca ao tear da roda ao torno
da linha de montagem ao cadinho
do aço incandescente a entrar no forno
à agulha a trabalhar devagarinho.
Da prensa que se fez para esmagar
à tupia no corpo da madeira
do formão que nasceu a golpear
à força bruta de uma britadeira.
Do ferro e do cimento até ao molde
que é quase um esgar de plástico sereno
do maçarico humano que nos solda
à luz da luta e não do acetileno
nasce este canto imenso e universal
sincopado enérgico fabril
sereia que soou em Portugal
à hora de pegarmos por Abril.
Transformar a matéria é transformar
a própria sociedade que nós fomos
ser operário é apenas saber dar
mais um pouco de nós ao que nós somos.
Um braço é muito mas por si não chega
por trás da nossa mão há uma razão
que faz de cada gesto sempre a entrega
de um pouco mais de força. De mais pão.
Estamos todos num único universo
e não há uns abaixo outros acima
pois se um poema é uma obra em verso
um parafuso é uma obra-prima.
Operários das palavras ou do aço
da terra do minério do cimento
em cada um de nós há um pedaço
da força que só tem o sofrimento.
Vamos cavá-la com a pá das mãos
provar que em cada um nós somos mil
é tempo de alegria meus irmãos
é tempo de pegarmos por Abril.
Tuesday, April 27, 2010
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12 comments:
Maria:
Obrigado pela fonte de energia
Beijo
João
Essas palavras levantavam qualquer um.
Beijinhos, Maria
Um poema que eu não conhecia do Ary, vou transcreve-lo para mim...
Um beijo com cheiro a manhã alentejana, Ava.
Tanto li dele, mas este poema, confesso, não conhecia. Já o guardei, ganhando o dia com esta vinda ao teu espaço.
Obrigado.
Ary continua tendo razão - está cada vez mais na hora de pegarmos por Abril.
Um abraço
Também não conhecia este poema do Ary...
Peguemos então por Abril!
Abraço
Eu, que nem daqui sou, penso que Abril precisa ser de Janeiro a Dezembro, sem tirar nem por.
Uma "Fábrica" que desconhecia
obra linda de Ary e sua poesia!
Fica registada, vou já copiar
o tempo de pegar e não largar...
mas penso em Abril, como se fora meses mil...
tanta fábrica por laburar...
e tanta mão por pão a suar!
obrigada por este "miminho"
que trouxeste ao teu cantinho
beijo
É tempo de Abril - portanto, de Maio...
Um beijo grande e um cravo de Maio.
Minha querida Maria, perdoa!
Há já muito que deveria ter vindo até cá para te pedir desculpas por não ter podido aparecer no teu evento (tão perto de mim e contudo tão longe, na época) por razões de saúde.
Deveria também vir visitar-te, ler e deixar a minha saudade...
mas, às vezes, tudo é tão difícil
mesmo parecendo de pequena importância.
Contudo, podes ficar com a certeza de que sempre que me seja possível o farei.
Obrigada pelo Ary.
Beijos, saúde e paz.
Maria Mamede
E a "Fábrica" ...fechou...mas renasce sempre nos teus olhos de partilha ...sempre!
Beijinho.
Maria. Nem sei que diga sobre este poema de Ary!Ele sabia o que dizia e escrevia,as palavras são fortes e precisas,este não conhecia,e adorei ler e agradeço a partilha.
Beijo
Lisa
OLá querida Maria,
Não conhecia este poema do Ary, mas se o lesse sem saber de quem era, só podia ser do Ary, com a força, a energia, o ânimo que ele dava. Que pena não haver outro Ary no tempo em que vivemos!...
Um grande e forte abraço de Abril.
Manuela
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